Há alguns anos...

domingo, 24 de dezembro de 2006

Há alguns anos...


Neste mesmo dia 24 de dezembro, só que há alguns anos, eu passei o natal na companhia de meus parentes que moram em São Paulo. Fizemos a ceia na casa dos meus avós paternos, no bairro do Bosque da Saúde.

Como toda a criança de classe média do sexo masculino, nascida em meados dos anos 80 e "educada" pela televisão, eu era viciado em seriados japoneses.

Changemen, Flashmen.... e, obviamente, Jaspion.

Talvez por "lutar contra o mal" sozinho, ele despertasse mais admiração em mim do que os demais seriados.

Nos intervalos comerciais havia propagandas de brinquedos do Jaspion.

Máscaras, uniformes, bonecos, quebra-cabeças, etc... mas uma coisa me fascinava de maneira especial: a espada.

Na minha cartinha ao Papai Noel, portanto, constavam a espada e o boneco.

Chegou o grande dia. Minha família e eu nos deslocamos para a casa dos meus avós. Eu, minha irmã e minha prima ficamos esperando a tarde inteira pelo momento em que, de noite, o Papai Noel chegaria e entregaria os nossos presentes.

Depois da ceia, os adultos nos convenceram a esperar pelo bom velhinho no quarto, com a porta fechada. Concordamos.

De repente ouvimos barulhos externos. Fomos correndo até a porta de entrada da casa. Os presentes estavam lá! O Papai Noel realmente trouxe os presentes!

Enaquanto eu abria meu primeiro presente (um aleatório binóculos do Rambo), meu pai e meu tio chegaram da rua surpresos. Justamente na hora em que eles saíram o Papai Noel passou.

Havia um grande pacote! Só podia ser, tinha que ser... e era! A espada!!!

Não era uma espada comum, ela brilhava no escuro! Então os adultos decidiram apagar todas as luzes para que eu tivesse meu momento de glória com minha espada.

"Vai Albertinho! Liga a espada!", disse minha mãe.

Eu liguei, apertei o botão. Contemplei o brilho vermelho das bolinhas precorrendo toda a superfície plástica da espada. Era mágico!

Os adultos gritaram, fizeram festa e eu fiquei muito feliz. Por mim eu deixaria a luz apagada para sempre, mas os adultos acenderam a lâmpada.

Tirei o dedo do botão. Olhei para a espada. As luzes continuavam a piscar. Apertei, tirei o dedo de novo e as luzes continuavam a piscar.

"Albertinho, pode desligar a espada", disse minha mãe.

"Não dá", respondi com uma voz meloncólica, já beirando o choro. Não podia ser, o presente quebrou no momento em que eu brinquei com ele pela primeira vez! Será que eu apertei com força? Será que já estava quebrado? Será que tinha conserto? Por via das dúvidas, abri o berreiro no mesmo instante.

Do céu ao inferno no simples apagar e acender das luzes.

Foi triste, mas foi marcante. Eu tinha 5 anos.