Mais do que generalizações

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Mais do que generalizações

Em dia de ataques do crime organizado ao Rio de Janeiro, resolvi relacionar duas obras que, indiretamente, têm a ver com a nova onda de violência.

A primeira delas é o livro "Capão Pecado" de Ferréz. Não vou fazer considerações sobre o estilo do autor, sobre o modo como ele faz a narrativa ou sobre o jeito que ele escolheu para construir seus personagens, pois, independentemente dessas questões, o livro deixa você pensando sobre a periferia e a merda toda que acontece por lá.

Capão Pecado traz várias histórias de pessoas que moram em Capão Redondo, sempre rodeadas de assassinatos, drogas, bebidas e sexo.

A segunda obra é o filme "Edukators". Também não vou me ater a detalhes do filme. Basicamente se trata de 3 jovens que têm atitudes revolucionárias contra o sistema.

Qual é a relação entre eles? O "Capão Pecado" ataca a classe média. No livro, parece que o povo da periferia tem um ódio tão grande dos playboys que não sonha em chegar em um nível social igual ao deles, parece que a grande vontade dos pobres é vencer a disputa com os playboys, exterminá-los.

Em "Edukators", os jovens revolucionários têm o mesmo preconceito descrito no livro de Ferréz, só que com relação aos ricos. Após seqüestrarem um milionário, eles começam a conviver com ele e enxergam o ser humano que vive por baixo dos milhões de euros.

Ferréz tenta sempre mostrar que a maioria do pessoal da periferia é gente boa, mas generaliza totalmente em relação à classe média. Tem muita gente querendo ajudar os mais necessitados? Tem. Assim como tem muita gente que só quer ganhar dinheiro.

Também é comum entre os jovens de classe média que querem mudar alguma coisa ter ódio mortal dos mais ricos. Assim como Ferréz, esquecem-se de que existem seres humanos.

Óbvio que a tática do crime organizado não respeita os seres humanos. Eles querem mesmo é deixar os "cidadãos de bem" totalmente desnorteados, para que não tenham a menor segurança e o medo se espalhe.

Mas em época de ataque a inocentes é bom um alerta para evitar preconceitos contra pobres (dizem que a culpa da onda de violência é deles) e contra os ricos (a elite branca de Lembo). Sabemos que essa questão é bem mais complexa do que as generalizações.