"Bonzinhos"

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

"Bonzinhos"

Nesta semana dois jogadores brasileiros muito populares no exterior (Edmílson e Ronaldinho) abriram centros educacionais e esportivos para crianças carentes em suas respectivas cidades natais.

A mídia e a imprensa foram unânimes em aplaudir as iniciativas dos dois jogadores, alegando que "se os governantes não fazem nada, alguém tem que fazer", "são exemplos para a sociedade", "eles ganharam dinheiro e estão devolvendo para a comunidade".

Concordo que qualquer ato de ajuda aos mais necessitados é louvável num país de desigualdades tão grandes como o Brasil.

Mas estamos na era do futebol como negócio. Dizer que Ronaldinho e Edmílson são bonzinhos é sinônimo de ingenuidade.

Em primeiro lugar, o nome das centros educacionais levam estampados (com letras garrafais), em suas fachadas, os nomes dos "heróis". Se eles são companheiros de clube, por que não uniram forças e fizeram um único centro com sede em dois lugares? Ou melhor, por que não se aliaram a Raí e Leonardo na Fundação Gol de Letra para poderem atingir mais do que cerca de 3 mil crianças, somando as duas cidades?

Projetos de extensão da minha universidade, que contam com verbas mil vezes menores, conseguem atingir mais do que 3 mil pessoas.

Por que chamaram toda a imprensa? Porque não são bobos. A imagem deles está em jogo, ainda mais com a fama de "bonzinhos" que vão passar a ter.

A grana que esses caras gastaram para fazer centros como esses não é nem um décimo do que eles vão ganhar com os comerciais que vão fazer em decorrência desse ato de benevolência.

Sem contar que ambos jogam no Barcelona e são patrocinados pela Nike, que, como todos sabem, explora mão-de-obra barata (muitas vezes infantil) em países asiáticos.

O ex-jogador Élber (que defendia o Cruzeiro) sempre ajudou uma instituição na sua cidade Natal, Londrina. Ele desenvolveu projetos com os clubes europeus pelos quais passou para que eles ajudassem a instituição (que não se chama Centro Élber ou algo do tipo) e pediu colaboração da prefeitura local.

Élber não chorou, não chamou toda a mídia mundial, não fez comercial, não foi para a Copa.

Mas ele sim, fez sua parte.

Ronaldinho e Edmílson também estão fazendo suas partes: estão ganhando dinheiro.