Mercy Zidane: janeiro 2009

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Endireitando, fisiologismo ou um ato pragmático?


Nas eleições de 2006, declarei neste mesmo blog a minha intenção em votar na Soninha pra deputada federal (clique aqui para ler o texto). Então recém-eleita vereadora de São Paulo pelo PT, a ex-colunista de esportes da Folha pleiteava galgar mais degraus em sua carreira política, trocando a Câmara paulistana pelo Congresso.

Dois anos e pouquinho depois, muita água passou pela vida política de Soninha. Ela não conseguiu se eleger deputada federal, trocou de partido no início de 2008, e saiu candidata à prefeita pelo PPS, em outubro último. Derrotada, obviamente, e com o mandato de vereadora encerrado, ainda assim, a apresentadora da ESPN conseguiu se manter na esfera pública. Para isso, teve que se enquadrar nos termos da realpolitik.

Qual foi minha surpresa ao ser confrontado com a notícia de que Sônia Francine assumia a sub-prefeitura da Lapa, responsável por uma das áreas mais extensas de São Paulo, sob a gestão do mais novo ícone do ex-PFL, atual DEM, o prefeito Gilberto Kassab.

Bom, trata-se no mínimo de um translado atípico dentro do tabuleiro político. Pra não dizer suspeito. Alguém que outro dia estava no PT, pouco mais de 20 meses depois se acomodando sob uma coligação chefiada por um partidário do DEM, ex-PFL?

Desnecessário lembrar que o DEM é umas das principais bases das forças mais reacionárias do país, que já abrigou/abriga figuras como ACM e Bornhausen, além de ser hoje a continuação do ARENA da época da ditadura.

E o que eu penso sobre essa estranha escolha? Acompanhando a Soninha há muito tempo, por meio de suas colunas de esporte, de seus programas na ESPN, de seu blog e até de uma palestra sua em que estive presente, duvido bastante que ela faça parte daquela classe política carreirista que busca tão-somente os meios mais fáceis de se alcançar o poder. Creio que, neste caso, ela resolveu optar pela via pragmática, deixando a ideologia um pouco mais de lado. “Vou aproveitar agora que terei certo poder pra fazer alguma coisa do meu jeito”, deve ter pensado.

Entretanto, a notícia me fez lembrar de certa ocasião em que Soninha reivindicava justamente algo semelhante à ideologia pra justificar uma abstenção à votação que definiria o presidente da Câmara paulistana, enquanto seu partido, à época o PT, votaria em bloco. Segundo a então vereadora, se não me trai a memória, o motivo era o de que o candidato em questão era do PP, mesmo partido do Maluf, o que, conseqüentemente, “era um absurdo”. Infelizmente, não encontrei na internet o texto que trata do episódio (o que me faz pensar que ela tenha dito em sua palestra que estive).

De certa forma, ela faz a mesma coisa agora. A não ser que ela ache que o DEM não tenha culpa alguma em cartório nenhum.

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Ps1: Não deixe de ver clicando aqui a entrevista que a Soninha concedeu ao Futebol, Política e Cachaça sobre a sua mais nova função de sub-prefeita.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

"Qual é a ideologia do Lula?"


O título deste post foi a pergunta que ouvi de um dos entrevistadores tucanos do programa Canal Livre (que vai ao ar sempre nos domingos à noite) durante uma retrospectiva das melhores entrevistas de 2008.

O entrevistado era Fernando Henrique Cardoso.

FHC pode ser um grande tucano reacionário, mas não é nada bobo. Sociólogo formado pela USP, ele conhece Lula (dos tempos da ditadura) e tem embasamento teórico e de convivência para responder tal questionamento.

O que ele disse foi mais ou menos assim:

"O Lula é senso-comum. Digo isso sem ser pejorativo. Ele tem uma formação católica, acredita que faz o bem. Ele não enxerga o mundo pelo viés da luta de classes. Simplesmente pensa que é possível resolver qualquer problema por meio da conciliação. Para Lula, colocar todo mundo para conversar ao redor de uma mesa e chegar a um consenso é a grande estratégia política".



O pior é que é assim mesmo que ele pensa. Dá para ver isso claramente em alguns filmes, como em "ABC da Greve (sobre as greves do fim da década de 70, no ABC)" e "Entreatos (sobre os últimos dias de Lula antes de tomar o poder como presidente, em 2002)". Até quando opinou sobre o massacre de Israel na Faixa de Gaza, Lula disse que seria bom que todos "sentassem à mesa para conversar e chegar a um acordo".

Não vou me alongar no assunto porque não quero revelar partes importantes dos filmes citados. Mas mesmo não sendo um expert em sociologia e política, sei que existem interesses irreconciliáveis. Tentar conciliar os interesses da classe trabalhadora com os da classe dominante nunca trará os mesmos benefícios para ambas.
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Metalinguagem: já faz um tempo que eu queria escrever sobre isso - o assunto estava quase escapando da minha cabeça, mas consegui trazê-lo e pari-lo

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Obama na disputa dos smartphones

Essa fiz questão até de escanear.

Sob o título de "Obama já começou as mudanças: vai trocar de smartphone", a empresa palm pagou meia página do caderno especial que a Folha publicou sobre a posse do Obama, na quarta, pra propagandear o seu aparelho do gênero, um tal de tréo pro. A propaganda se utiliza de uma nota publicada pela própria Folha, como podemos ver na imagem abaixo (clique nela para vê-la em tamanho maior):


Acontece que para azar dos publicitários da palm, vejam só a notícia que apareceu hoje na mesma seção de notinhas da Folha (também clique pra poder enxergar):



Se o pessoal da BlackBerry for ligeiro, amanhã já soltam um contra-anúncio direto no estômago daqueles que quiseram bancar os espertinhos.

Eu e os animais


Quem me conhece bem sabe que tenho um forte apreço por animais. Mas acho que só eu sei o quanto sou capaz de me sensibilizar facilmente e de sofrer de antevéspera ou no lugar dos outros.

No dia-a-dia, são várias as situações envolvendo animais que me causam baques e despertam o frio na barriga da angústia. É um cão sarnento vagando à própria sorte buscando por comida na rua, um cavalo subindo ladeira acima com uma carroça atada às costas, um passarinho numa gaiola. Ano passado fui ao zoológico e prometi a mim mesmo que seria a última vez.

Pura frescura, né?

Houve um período que, todo mês, ajudava com doações de sacos de ração pra cachorro uma ONG aqui em Rio Claro chamada GADA – Grupo de Apoio e Defesa dos Animais. Eles mantinham um lugar em que abrigavam animais abandonados, sobrevivendo basicamente de colaborações de simpatizantes e de um auxílio da prefeitura. Eu levava a ração na casa da presidente, a Roberta, e, de tantas idas, acabei ficando conhecido dela.

Certa vez, pra um trabalho da faculdade, fui conhecer o abrigo dos animais. Era extremamente modesto, pra não falar precário. Havia cachorro de tudo quanto é tipo, desde pastor alemão furioso até vira-latas brincalhões. Somavam-se dezenas, separados em grades, a maioria bem feinha, resultado das doenças que acompanham um cão abandonado. Também tinha uns cavalos, além de dois leitões, todos sem lugar pra ficar. Se me lembro bem, ainda existia um abrigo de gatos, mas situado em outro lugar que não ali.

Saí de lá extremamente admirado pelo trabalho que era feito, pelo voluntarismo e pela causa, e fazendo um pacto comigo mesmo de me engajar futuramente nisso. Com o tempo, estando baseado em Bauru, acabei perdendo o contato com o GADA e deixei de fazer as doações. Mas agora, de volta à Rio Claro, é um bom momento pra me reaproximar.

Se já sofro com animais que não são meus, me imaginem com os meus. Quando perdi minha gata, a Meg, vítima de um câncer horrível que praticamente a consumiu aos poucos durante oito ardorosos meses, passei por uma experiência extremamente dolorosa. Na verdade, sofri mais com a notícia da doença e da iminência da morte do que propriamente com sua morte. Não houve um dia sequer nesse período em que estive minimamente tranqüilo.

Ontem, quase que vi o filme se repetindo. O motivo foi a Juju, minha cachorra, que resolveu ter uma reação alérgica a uma vacina que acabara de tomar, ficando tão inchada e empipocada de uma maneira que jamais imaginaria vê-la, e nos lançando, eu e minha mãe, a uma correria apreensiva em pleno almoço. Demos-lhe o antialérgico, e rumamos para o consultório da veterinária que dera a vacina, mas cujo celular não respondia às minhas 15 chamadas que fiz incessantemente. Chegando ao consultório, nada de veterinária. A solução foi procurar outra, a antiga, que resolveu o problema com duas injeções.

Agora a Juju está lá dormindo em sua cama, tranqüilamente. Para o bem dela, mas, muito também, para o meu.

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acho de uma indiferença desumana, pra não dizer cruel e sádica, o ato de abandonar um animal à sua própria sorte na rua. Quem faz isso sabe que aquele Ser vai passar pelas mais severas privações: fome, frio, sede, dor. Definitivamente, é alguém sem uma polegada de coração.

uma das minhas metas, também fruto dessa minha sensibilidade e discurso, é virar vegetariano. Já tentei algumas vezes, adiei a idéia, sigo adiando-na, mas em breve eu viro, pode apostar.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

1.800.000 por 1



quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Muro de Berlim no Alto Tietê


Estação ferroviária de Suzano - ao fundo, o alto muro

Uma das coisas que mais faço quando estou em Suzano é... ir para São Paulo.

Os compromissos são diversos: boteco com amigos, shows, jogo do Palmeiras, necessidade de ir até a rodoviária, visita a parentes e amigos, etc.

O meio de transporte mais usado por mim para chegar à capital paulista é o trem. Ele é mais rápido, mais barato e não fica parando em toda esquina, como faz o ônibus que vai de Suzano até a estação Tietê. Sem contar que existem coisas que só acontecem no trem (inclusive já relatei uma história aqui).

Mas o trem não serve apenas para transportar trabalhadores (em geral de camadas populares), ele também segrega populações da mesma cidade.

Para se fazer uma linha de trem, além dos trilhos, é preciso muito bloco e concreto. Os muros precisam ser altos o suficiente para ninguém os pular, e longos o suficiente para ligarem todas as regiões envolvidas.

Resultado: um imenso muro divide as cidades de Suzano, Poá e Ferraz de Vasconcelos em duas partes: a rica e a pobre. E as esparsas e longas passarelas não dão conta do problema.

E o pior é que essa divisão já está tão normalizada aos nossos olhos, que precisei prestar atenção no discurso de um político da região, que disse haver um grande "muro de Berlim" no Alto Tietê, para que eu me atentasse mais ao assunto.

É... no nosso sistema, a arquitetura também segrega e muito... às vezes está tão na nossa cara que não percebemos.

Clique aqui e veja o mapa das linhas de trem da região metropolitana de São Paulo.
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Metalinguagem: dá para fazer um blog só contando as coisas que acontecem no trem, esse limbo da segração social!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Cotidiano

Dias milagrosos existem, e hoje é um deles: acordo às oito da manhã de forma totalmente espontânea. Uma hora mais tarde me encontro ao lado do grande companheiro de malabares Bubs para caminhar pela trilha enlameada do Horto Florestal de Rio Claro. São 9 quilomêtros em 1 hora e meia, média de 100 metros por minuto.

Volto, cansado, e confesso que não tomei banho. Ligo o computador, brinco com a Juju. Sintonizo a TV, que desde cedo já mostra imagens do capitólio. Um negro ia se tornar o homem mais poderoso do mundo às 3 da tarde. Meu irmão chega da prova teórica de trânsito. Rasga o verbo contra a incompetência dos órgãos públicos; aparecera no lugar às 8 e só foi fazer a prova às 10 e pouco, mais de 2 horas em pé na fila.

Troco uma idéia com ele enquanto me alongo no chão da sala. Almoço bem. Da cozinha pro sofá, onde assisto passivamente por umas 2 horas a cerimônia de posse do negro estadunidense, imerso em reflexões sobre hipocrisia, alienação e dominação.

Quando finalmente enjoo, pego a bicicleta e vou à rua para riscar algumas das tarefas da agenda. Paro no meu cabeleireiro e converso sobre Miriam Leitão e o novo presidente estadunidense. Levo a autorização de procedimento médico, compro o remédio na farmácia, onde fico preso por conta de uma chuva de verão. Lá, encontro uma ex-colega de colegial e a minha dentista de longa data - coisas típicas (e boas) de cidade do interior. Passo tempo conversando com o segurança sobre o jogo dos juniores do São Paulo de mais tarde que teria lugar aqui mesmo em Rio Claro.

Em casa, o despertar precoce na manhã começa a fazer efeito: um sono que já me rodeava durante a tarde repentinamente se apodera de todos os meus sentidos. Praticamente desmaio na cama, sem qualquer resistência. Eram oito e meia da noite.

Acordo apenas para comer a pizza do jantar e assistir ao São Paulo ganhar as disputas de penaltis. Sou desafiado pelo meu irmão para uma disputa no xadrez, que prontamente aceito. Ganho jogando tanto com as brancas como com as pretas. Mas os rápidos cheque-mates e alguns movimentos aleatórios comprovam nosso amadorismo e a necessidade de lermos os livros de xadrez que alugamos na biblioteca municipal semana passada.

Começo a leitura de blogs. Mino Carta, Paulo Henrique Amorim, Pedro Doria, Soninha, Sakamoto, Liberal Libertário Libertino.

Resolvo então escrever no meu.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Esperança do que?


Obama assume amanhã, mas admito que ainda possuo um certo desconhecimento sobre o que de fato significa a idéia da esperança do slogan de sua campanha. Afinal, é uma esperança do que e pra quem?

Quando Lula recebeu a faixa presidencial em 2003 também às voltas com a palavra esperança, era evidente ali a idéia que se passava: depois de décadas de desigualdade social, finalmente aparecia o esperado messias para salvar e livrar os milhões de brasileiros da miséria e da vida indigna. Surgia, enfim, uma esperança de dias melhores ao povo pobre do país, para o desgosto de Regina Duarte.

Seis anos depois da posse, os índices econômicos e sociais mostram que de fato a vida dos brasileiros melhorou. Para alguns, não passaram de migalhas; para outros foram conquistas substanciais. Entretanto, ao passo que 20 milhões de brasileiros saíam da faixa da pobreza, Lula lá estava a se alinhar fielmente aos ditames do establishment. Várias de suas práticas e políticas de sua cúpula ministerial e base governista no Congresso arremessaram seu governo na vala-comum de todos os governos anteriores. (Basta a ver a orquestração que estão fazendo para imunizar Daniel Dantas nesse caso da Operação Satiagraha; em países civilizados, metade das manobras espúrias realizadas já seria motivo para a eclosão de uma revolta popular).

Para mim, se havia mesmo esperança, ela morreu recém-nascida.

Voltando ao Obama, particularmente, tenho três esperanças em relação ao seu governo: 1) que feche a base de Guantánamo o mais cedo possível; 2) que retire as tropas estadunidenses do Iraque o mais cedo possível; 3) que não invada mais nenhum país. Todas medidas relacionadas à política externa. (Nem cogito a hipótese de um afrouxamento nas relações com Israel, porque desde cedo assessores de sua alta cúpula já se apressaram em garantir o incondicional apoio estadunidense à causa sionista, sem contar as falas do próprio Obama que sustentaram o argumento da “legitima defesa”).

Mas tenho certeza que as maiores esperanças que ele e sua equipe de assessores vende ao povo estadunidense são outras. Quais seriam?

Talvez, a esperança mais razoável a se crer seja a de que ele coloque fim à atual crise financeira. Mas lá no início de 2008, quando ainda não havia todo esse tom apocalíptico a respeito da economia na mídia, Obama já ostentava o slogan change durante a campanha das primárias do Partido Democrata.

O que me leva a crer, cada vez mais, que suas frases e discursos, enquadrados pela mídia como épicos, não passam de palavras vazias, sinalizando que nada de diferente vai acontecer na rotina de nosso querido Império.

Mudar pra onde? Esperança do que? Alguém pode me responder?

domingo, 18 de janeiro de 2009

Texto sobre sorriso

Em livros de literatura (que eu não lia há muito tempo, devido a minha pesquisa para o trabalho de conclusão de curso) há certos momentos em que a sensibilidade das palavras consegue alcançar pontos tão fortes que chega a comover, talvez por resvalar em sentimentos e percepções tão difíceis de serem definidos.

Recentemente, lembrei-me disso em dois momentos.

O primeiro foi no trecho abaixo, tirado do livro "O Grande Gatsby", de F. Scott Fitzgerald.

O segundo foi hoje, no Museu da Língua Portuguesa, que eu já tinha visitado no ano passado, mas tornei a me emocionar quando entrei naquela sala em que há diversas projeções de vídeo e áudio com grandes artistas interpretando os melhores textos da nossa língua.

Bom, agora contemple esse texto e veja se ele também te toca.

"Sorriu compreensivamente - muito mais do que compreensivamente. Era um desses sorrisos raros que têm em si algo de segurança eterna, um desses sorrisos com que a gente talvez depare quatro ou cinco vezes na vida. Um sorriso que, por um momento, encarava - ou parecia encarar - todo o mundo eterno, e que depois se concentrava na gente com irresistível expressão de parcialidade a nosso favor. Um sorriso que compreendia a gente até o ponto em que a gente queria ser compreendido, que acreditava na gente como a gente gostaria de acreditar, assegurando-nos que tinha da gente exatamente a impressão que a gente, na melhor das hipóteses, esperava causar. Precisamente nesse ponto, o sorriso se dissipou..."
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Metalinguagem: uma vez fiz um post parecido, mas o livro era do Rubem Fonseca e o texto era sobre sexo - clique aqui e relembre.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A questão da paz



No reveillon, 90% dos brasileiros passa os últimos minutos do ano com roupas brancas (uns até com partes íntimas dessa cor) no intuito de desejar a paz para toda a população durante os próximos 365 dias. Muitos, quando perguntados sobre o que mais desejam para o ano seguinte, respondem sem pestanejar: "quero muita paz...".

É, meu amigo, mas vamos pensar sob a seguinte perspectiva: você acorda todo o dia às 4h, tem que tomar 3 conduções para ir para o trabalho, onde é explorado mental e fisicamente, muitas vezes humilhado em público por fazer algo que o superior considera errado, depois volta para casa pregado de cansaço (com mais 3 conduções), onde só consegue ver o Jornal Nacional e dormir.

A galera que deseja paz na virada do ano, diria: "ué, o cara tem um emprego, não tomou uma bala na cabeça... tá reclamando de que?"

Não existe apenas a violência física. Tomar uma bala na cabeça e morrer é uma tremenda violência, mas levar uma vida de humilhações como a do personagem do parágrado acima também é. Se seguirmos nessa paz clichê que todos desejam, um cara como esse do exemplo não vai fazer nada para mudar sua rotina e quem explora vai continuar explorando. Tudo se mantém, cheio de violência, mas revestido pela falsa paz.

Não desejo paz para 2009. Desejo que as pessoas comecem a enxergar a violência escondida sob a falsa paz.
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Metalinguagem: eu queria colocar o vídeo normal do Gilberto Gil, mas essa foto-montagem ilustra razoavalmente bem o post.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Isto não é uma guerra


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-->É triste ver que existe um número considerável de pessoas que defendem o que Israel está fazendo com os palestinos. Claro exemplo são alguns dos vários artigos publicados diariamente na Folha sobre a questão. A maioria destaca o falido argumento de “legítima defesa” contra o Hamas por seus foguetes lançados – como se esse argumento fosse suficiente para justificar a punição coletiva imposta aos mais de um milhão e meio de árabes que vivem enlatados na Faixa de Gaza, zona com maior densidade demográfica do mundo.

Em um desses artigos, Gustavo Ioschpe, outro desses “colonistas”, no vocabulário de Paulo Henrique Amorim, ressalta que ninguém ficou chocado pelos civis alemães mortos durante a derrocada do Terceiro Reich de Hitler. Segundo o colonista, o número de civis alemães mortos foi 22 vezes maior que o número de baixas entre civis ingleses. Bom, de fato, finalmente um argumento para fazer pensar.

E, de fato pensando, concluí que realmente são inevitáveis as baixas civis em casos de guerra total. (A idéia de guerra já é estúpida por si só, salvo casos em que se infelizmente se faz necessária, como as de independência e emancipação). Mas o que vemos não é uma guerra, como insiste em pregar Israel e alguns colonistas; trata-se de um Massacre, com M maiúsculo.

Ou será que uma potência nuclear versus um bando cujas armas mais potentes são foguetes desorientados é uma guerra? Seria a mesma coisa que dizer que um enfrentamento entre um lutador de vale-tudo e uma criança de 8 anos é uma briga.

Botemos as tremas nos us, e não deixemos que tal ou qual emprego de uma palavra distorça a realidade: Israel massacra os palestinos de Gaza e não guerreia contra os militantes do Hamas. Façamos o favor de pelo menos ganhar essa “Guerra da Retórica”.

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Ps1: Para entender mais sobre esse conflito, ler este texto de Mino Carta, além deste e deste do Sakamoto. Também leia Robert Fisk (em inglês).

Ps2: Link para o texto de Gustavo Ioschpe.

Ps3: No intuito de impressionar e de realmente aproximar o leitor da realidade de Gaza hoje, a rede árabe de notícias Al Jazeera publicou imagens fortes do conflito, de corpos e prédios destruídos. Para conferir, basta clicar aqui (tirado do Blog do Sakamoto).

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

2008, um ano bélico

Lendo sobre o massacre de Israel na Faixa de Gaza, me dei conta de como vários países em 2008 lançaram uso da força militar. Vamos relembrar:

- Ação militar da Colômbia em território no Equador
- Intervenção da Rússia na Geórgia
- Permanência da invasão dos EUA no Afeganistão e no Iraque
- Bombardeio de Israel à Faixa de Gaza

Isso ainda sem contar os incontáveis países da África em guerra civil, como Ruanda, Somália, Congo etc etc.

É míssel de norte a sul, de leste a oeste.