Nas férias eu resolvi pegar um livro do Eric Hobsbawn na biblioteca (isso porque uma professora da USC jogou na cara da platéia de estudantes do EPECOM que nós não havíamos lido Hobsbawn). O escolhido foi “A Era do Capital 1848-1875”.
O começo foi um pouco denso, mas um dos capítulos mais tranqüilos na questão do entendimento foi o “Vencedores”. Esse capítulo explica os motivos pelos quais Estados Unidos e Japão se deram bem no sistema capitalista.
O Japão teve um grande processo de ocidentalização, apesar de manter algumas tradições. Os japoneses perceberam que deveriam seguir os modelos existentes no Ocidente para poderem competir de igual para igual com as grandes economias capitalistas.
Ou seja, os japoneses copiaram, na cara dura, vários modelos do ocidente.
Para se ter uma idéia, o Japão copiou o modelo inglês de estradas de ferro, telégrafo, obras públicas e métodos de comércio. O modelo francês inspirou o Japão em sua reforma legal e em sua reforma militar. Os Estados Unidos inspiraram os modelos de universidade, educação primária, inovação da agricultura e serviços postais do Japão.Em 1890, cerca de 3 mil especialistas estrangeiros estavam empregados sob supervisão japonesa.
Foi inevitável pensar em futebol ao ler o capítulo citado do livro.
No início dos anos 90, o Japão fez exatamente as mesmas coisas que seus governantes realizaram no final do século XIX: copiou e contratou especialistas. Copiou a NBA ao criar uma liga com mascotes bonitinhos e times com nomes extravagantes (J-League) e chamou vários brasileiros (Zico, Leonardo, Alcindo, Evair, César Sampaio, Zinho, etc) para atuarem em solo japonês com o intuito de divulgar o esporte.
Tinha tudo para dar certo, assim como os ocorridos no fim do século XIX. Mas não deu.
A J-League não empolga o torcedor; os japoneses, apesar de terem se classificado para 3 Copas seguidas, não conseguiram sequer passar das oitavas-de-final. Os melhores jogadores do país, apesar de já atuarem na Europa, não estão em times de ponta.
Sim, o futebol japonês evoluiu, mas não como os japoneses esperavam.
E esse é um dos motivos que faz com o que futebol seja apaixonante. Não basta ter disciplina e determinação para se dar bem com a bola no pé. É preciso algo a mais. Algo de imaginação, simplicidade e criatividade. Algo que os brasileiros possuem, mesmo sem a disciplina e o poder econômico japonês. E alguns insistem em dizer que futebol não é uma questão cultural.
Na Copa de 2006, todos esperavam mais do Japão, já que o time contava com um especialista brasileiro no comando. Resultado lastimável.Parabéns, Japão, pela determinação e pela vontade de vencer, mas felizmente, o futebol não depende apenas disso. O futebol é exceção.