Quarto ano de universidade.
Desde 2005, quando ingressei na instituição que iria mudar o rumo da viagem que é minha vida, muitas das minhas concepções mudaram. Muitas mesmo.
De drogas a música, esse balaio de gato de idéias que é minha cabeça foi, voltou, mudou de cor. Se no primeiro ano gostava de siclana, agora é fulana quem eu quero. Se no passado era só rock, o presente me apresenta o samba. Se ontem eu era PT, hoje é gritar pelego. Vai saber amanhã..
E é justamente sobre minha concepção política que quero versar sobre. É sintomático como esse tema é bastante presente nas minhas conversas do dia-a-dia (mas não me considero um cara monotemático, muito pelo contrário: falo até de futebol).
Antes da Unesp, a única via sobre a qual deitava os olhos era a Institucional. O negócio era eleger aquele cara que vai nos salvar, que vai livrar o povo da miséria.
Hoje, cada vez mais, constato que se trata de uma via cujo horizonte é um beco sem saída se o destino for a igualdade social. Mas não me entendam mal: não acho que a via Institucional deva ser ignorada ou repudiada totalmente. De fato, ela por vezes traz ganhos sociais, por menores ou paliativos que sejam. Vide os governos Chávez, Evo, e, argh, Lula.
Mas de medidas paliativas o inferno tá cheio. Hoje vejo que só com um movimento de cunho popular, não-personalista, tocado pelas pessoas que realmente trabalham pondo a mão na massa e o pé no barro que vamos encontrar a igualdade social de fato. E essa minha nova visão só se deu depois de 4 anos de universidade.
Cerco-me de pessoas que também acham que a via Institucional já era. O lance seria focar em movimentos de base, em movimentos sociais. Criar o chamado Poder Popular, onde as deliberações funcionariam nos moldes dos sovietes. Tudo lindamente democrático.
Como já é possível de compreender nas linhas passadas, eu também sou um entusiasta do Poder Popular. Acontece que para o Poder Popular é preciso organização. E também comprometimento.
Essas mesmas pessoas que tanto versam sobre a necessidade do Poder Popular têm a oportunidade de pôr em prática esse conceito de organização nos Centros, Diretórios Acadêmicos e outros espaços estudantis da rotina universitária. Mas não é bem isso que acontece.
Se nas conversas de bar sobre o Maio de 68 ou sobre os conflitos na Bolívia essas pessoas são capazes de se entusiasmar como crianças, na hora de pegar na foice e no martelo o que impera é a negligência. Faltam em reuniões, não cumprem tarefas. Minam desse jeito qualquer tentativa de organização de base.
Poxa, assim se vai construir o Poder Popular como?
Desanima? Sim. Desistir? Jamais.
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Ps1: escrevendo esse texto me lembrei do documentário mais louco de toda minha vida: A Batalha do Chile. São 4 horas e meia de encher os olhos de qualquer militante, divididos em 3 dvds. Quem não assistir é a mulher do padre.