Escreveu Ruy Castro, na Folha da última quarta:
"É impressionante como, há tempos, no Brasil, os jovens não admitem ser contrariados. Quando querem alguma coisa, não enxergam o lado da outra parte e não lhe dão escolha: ou esta cede ou leva bala, quase sempre na cabeça, para não haver dúvida"
O notável colunista usara como argumento o sequestro de 100 horas que culminou em assassinato da refém, em Santo André, além de outros dois assassinatos, um em Sorocaba, e outro no Rio (o do empresário Sendas, capa em jornais de hoje). Todos os homicidas tinham seus vinte-e-poucos-anos.
A mim me pareceu aquele papo barato de avô e avó, que segue a linha do "na minha época as coisas eram diferentes". Quer dizer que assassinato agora é prova de que há uma geração de jovens hoje que não sabem ouvir "não"? E que nos anos 50 não havia crime passional praticado por menores de 30 anos? Ah, Ruy Castro, vá pentear os pêlos peitorais do Suzano.
No entanto, apesar da generalização horrenda e pretenciosa gerada, o tal do sequestro de 100 horas me fez refletir um pouco acerca desse negócio louco que é a Paixão. Muitos têm ainda arraigado na cabeça a idéia de que Paixão é algo lindo, romântico, muitas vezes perfumado. Pode até ser em alguns casos, como num amor correspondido ou numa relação com o animal de estimação.
Via de regra, Paixão é um sentimento patológico, um apego em demasia por algo. Em outras palavras, é algo não salutar, já que se trata de uma emoção que quase sempre se torna senhora da razão. Se o objeto pelo qual o sujeito está "apaixonado" é "possuído", aí tudo são flores. Se não, dependendo do nível da Paixão e do grau de sanidade do indíviduo, este vivencia uma das piores angústias imagináveis. E, em alguns casos, acaba por acarretar em sequestros seguidos de assassinatos.
Eu já experienciei sensações dolorosas geradas pela Paixão por pelo menos duas vezes em minha vida.
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PS1: O conceito de "Paixão" que utilizei foi o que está no meu amado Wikipedia. Não serão aceitas contestações de terminologia.
PS2: "Generalizações são o câncer da retórica honesta", autor desconhecido