Relendo o texto (praticamente seis meses depois) vi que ele toca na questão do orgulho de ser brasileiro. Quando se fala em orgulho de ser brasileiro, geralmente as pessoas torcem o nariz. Isso porque a maioria dos patriotas e ufanistas tem um discurso vazio. A Copa do Mundo foi uma prova do ufanismo vazio. Todo mundo de verde-amarelo para encher a cara, mesmo com o time jogando mal. O mesmo tipo de patriotismo aconteceu com aquela famosa campanha “Sou brasileiro e não desisto nunca”. Uma campanha jogada em cima do povo, como se todos os problemas pudessem ser resolvidos com o pensamento positivo.
No dia desse show eu tive um patriotismo com motivo. Tive orgulho de ser brasileiro, orgulho de morar numa terra de uma cultura tão rica e de uma diversidade tão grande. E naquela noite eu estava apreciando um pouquinho da cultura e da diversidade que eu não conhecia. Eis a razão do meu orgulho.
A deusa Cris
Ouvi um canto. Não era um canto comum. Era o canto de uma sereia, de uma escrava, de uma cangaceira, de uma deusa. Sim, de uma deusa com a alegria tão grande quanto o número de cores de sua roupa (e eram várias e muito belas), de uma sereia com pernas e com sapatinhos vermelhos que dançavam num ritmo vibrante, de uma cangaceira arretada que não esquece jamais de suas raízes, de uma escrava sofrida que canta o canto da liberdade que todos nós sonhamos.
Ouvi um canto. Não era um canto comum. Era o canto de uma sereia, de uma escrava, de uma cangaceira, de uma deusa. Sim, de uma deusa com a alegria tão grande quanto o número de cores de sua roupa (e eram várias e muito belas), de uma sereia com pernas e com sapatinhos vermelhos que dançavam num ritmo vibrante, de uma cangaceira arretada que não esquece jamais de suas raízes, de uma escrava sofrida que canta o canto da liberdade que todos nós sonhamos.
Sua voz era doce, suave e rápida. Tão rápida que era capaz de cantar diversos trava-línguas numa mesma música em pouquíssimo tempo, sem perder o ritmo ou desafinar.
Era uma deusa, que cantava e dançava e hipnotizava todos os reles mortais que, atônitos, assistiam a sua apresentação. O simples gesto de bater uma mão na outra comandava uma platéia repleta de fiéis a fazerem o mesmo que ela em qualquer hora que lhe conviesse.
Mas a deusa não era autoritária, mesmo com todo esse poder. Senão não seria uma deusa. Era doce, alegre, linda, carismática, simpática, mas igual a nós. Bela como nós e era por isso que todos a adoravam.
Não se tratava de narcisismo ou algo do tipo. Era o reencontro. O reencontro com nós mesmos. Com nossa brasilidade. Com nossos irmãos. Com nossos parentes. Com todos os estranhos que dançavam como se fossem velhos conhecidos. Com o acordeom que me lembra da roça, do norte, das festas. Com alegria do sorriso fácil, às vezes tão difícil de aparecer. Com esse gingado e com esse ritmo que só tem na minha terra.
O reencontro com tudo isso faz-me lembrar que eu nasci aqui, neste país chamado Brasil, que tem tanta coisa boa. Faz orgulhar-me de ser brasileiro, mesmo sabendo de tanta coisa ruim que há por estas bandas.
O nome da deusa é Cris Aflalo.