Mercy Zidane: julho 2009

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A crise e uma de suas consequencias esquecidas

Dizem os empresários otimistas que o período de crise passou e que agora é preciso pensar no "pós-crise", afinal, o Brasil pode crescer até 1% este ano, segundo Guido Mantega (foto), chutando a estagnação prevista há pouco.

O engraçado é que os jornalões, os jornalecos e seus analistas se prendem aos números do binômio crise-demissões, sem verificar as consequencias que essa relação proporciona às pessoas de carne e osso.

Para ser prático, cito um caso que deixou meus colegas de trabalho um tanto assustados: nesta terça, na principal rua do comércio suzanense, (rua General Francisco Glicério - foto) uma atendente de 32 anos foi baleada em plena luz do dia após sacar R$8 mil em uma agência bancária. Ela foi perseguida por dois assaltantes. Por ter reagido, acabou sendo baleada.

Uns podem dizer: "Ah, ela vacilou, não se pode tirar uma quantia tão alta". Sim, é verdade, mas não se trata de um caso isolado. Nesta matéria sobre o ocorrido, há um intertíulo em que os comerciantes da cidade expõe sua indignação com relação ao grande aumento da violência na região (a de maior concentração financeira da cidade) nos últimos meses.

Ontem mesmo, indo para o trabalho (na rua em que ocorreu o crime citado), fui alvo de uma cena pouco comum, pelo menos nos seis meses que estou trabalhando em terras suzanenses: um cara me parou na rua e perguntou se eu tinha "perdido" um relógio. Provavelmente era roubado e ele queria me vender.

No assassinato ocorrido em Suzano, a mídia local coloca a culpa na falta de monitoramento eletrônico e no pouco número de guardas rondando o centro da cidade. Assim, esquecem-se do que os jornalões também fingem esquecer: a criminalidade aumenta com o desemprego.

Ah, é que eles não podem se contradizer, pois "a crise já é passado" e o recente aumento no número de roubos e furtos na cidade seria apenas uma "coincidência", que deve ser combatida com repressão.

A crise está só no começo e os jornais não exergam o desdobramento mais evidente.
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Metalinguagem: com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a cidade de Suzano e toda a região do Alto Tietê têm apresentado perda de postos de trabalho desde o início do ano. Apesar de haver recente redução das demissão, elas ainda superam as contratações. Créditos das fotos - Mantega: globo.com; rua de Suzano: mixsaopaulo.com.br

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O estupro diário

Depois de ter entrado duas horas e meia mais cedo e ter saído três horas mais tarde no trabalho, estou sem a menor vontade de escrever. Portanto, serei breve.

Enquanto eu voltava para a casa, fiquei pensando em letras de música. No momento em que cheguei, olhei para o aparelho de som e, devido à raiva e ao abatimento adquiridos por motivos óbvios, resolvi ouvir um disco do Nirvana chamado "In Utero".

Baseado na livre interpretação, a música "Rape me" (que em português significa "Estupre-me") nunca fez tanto sentido para mim.

As degradações físicas e psicológicas (principalmente) que ocorrem no ambiente de trabalho têm muitas semelhanças com um estupro.

Abaixo, a letra da música traduzida. Mais abaixo ainda, um vídeo da canção.

Rape Me (tradução)
Nirvana

Composição: Kurt Cobain
Estupre-Me

Estupre-me, estupre-me meu amigo
Estupre-me, estupre-me novamente

Eu não sou o único yeahEu não sou o único yeah
Eu não sou o único yeah
Eu não sou o único

Odeie-me, faça e faça novamente
Prove-me, estupre-me meu amigo

Eu não sou o único yeah
Eu não sou o único yeah
Eu não sou o único yeah
Eu não sou o único

Minha fonte interna favorita
Eu vou beijar suas feridas abertas
Apreciar sua preocupação
Você sempre federá e queimará.

Estupre-me, estupre-me meu amigo
Estupre-me, estupre-me novamente

Eu não sou o único yeah
Eu não sou o único yeah
Eu não sou o único yeah
Eu não sou o único

Estupre-me (x9)



________________________Metalinguagem: e um detalhe: o meu trabalho é bem leve comparado com o do restante da população. A tradução foi tirada do letras.mus.br.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O sorriso bobo do Loki

Depois de conversar a respeito de bandas dos anos 80 com alguns amigos, resolvi escutar novamente o disco "Dois", da Legião Urbana. Fazia tempo que eu não prestava atenção na história de amor de "Eduardo e Mônica" (um boyzinho e uma garota "alternativa").

A afeição de Mônica pela banda os Mutantes foi um dos atributos que seduziu o rapaz.

(Em 99, quando comecei a ouvir incessantemente as músicas da Legião, eu sequer imaginava quem tinham sido os Mutantes. Porém, em 2008, eu tinha uma banda cover de Mutantes)

Mas por que eu estava falando sobre isso? Ah, sim. Assisti ao filme "Loki", de Paulo Henrique Fontenelle, que retrata a explosiva trajetória do mais brilhante integrante d'os Mutantes: Arnaldo Dias Baptista.

Arnaldo era um menino brincalhão. E com um sorriso meio bobo, divertia-se viajando em seu contrabaixo elétrico. Numa molecagem, misturou rock com samba (ei João!), causando fúria nos conservadores da sala de jantar (ei José!). De bobo, só tinha o sorriso, pois não teve medo de brincar de amor nem de criar o dia 36.

A rotina, uma forte decepção amorosa e o vazio dos prazeres fugazes fizeram o menino perder o sorriso fácil. Estaria ele crescendo e se apegando às coisas materiais? "Loki" (o disco de 74, não o filme) é um retrato formidável da mais pura angústia. Um disco de rock sem guitarra. Possivelmente, a tentativa de demonstrar a falta de sentido em seu mundo.

Na lucidez mais serena de quem já passou três vezes pelo hospício e tinha pavor de morrer trancafiado numa camisa de força, o loki Arnaldo se joga de um prédio e, milagrosamente, volta a ser menino. Torna-se mais amigo das crianças, dos velhos e dos animais. Recupera a ingenuidade dos pequenos, sem esquecer a vivência da "primeira juventude". As sequelas, que deveriam ser um peso, transformam-se em uma ferramenta para descobrir a simplicidade que havia se perdido em sua vida. O sorriso bobo e fácil está de volta aos mutantes lábios.

O filme em si, além de mostrar relatos de uma história fantástica (líder de uma das maiores bandas de rock do mundo se joga de prédio e sobrevive), acerta pela sesibilidade de escolher como fio condutor a manufatura de um quadro produzido pelo próprio Arnaldo. Com uma arte infantil que não se preocupa com o prestígio das técnicas de pintura consagradas, Baptista exprime sua trajetória na tela.

No quadro, estão os Mutantes, o amor por Rita Lee, as drogas, as inovações musicais, os amigos, a loucura, as sequelas. Ao lado da obra está um senhor, um menino sem medo de pular, brincar e gritar:

"Eu não tô nem aí pra morte. Eu não tô nem aí pra sorte"...

... e com um bobo sorriso no rosto.
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Metalinguagem:

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O Porta Curtas e o "Meow"

Eu conheci o Porta Curtas na faculdade, por meio da professora Adriana Nogueira, enquanto eu cursava a disciplina de Telejornalismo II, relacionada com a produção de documentários.

Confesso que, à epoca, não dei muita bola. Entrei uma ou duas vezes para procurar algum curta que tivesse a ver com o nosso megalomaníco projeto, mas nem chegava a assistir a um filme completo.
Agora, como estou com uma certa "coceira" de fazer um documentário, tenho entrado sempre no site e descoberto muita coisa boa.

O curta abaixo (uma animação chamada "Meow" e dirigida por Marcos Magalhães) é um dos que mais gostei. Trata-se da história de um gato que é repentinamente obrigado trocar seu leitinho por uma certa marca de refrigerantes (em termos metafóricos, é possível fazer algumas interpretações sobre o papel do gato e das "mãos" que o alimentam, mas deixarei isso para uma próxima postagem). Reparem na caracterização da cidade no "plano sequência" inicial, principalmente nos tipos que são obrigados a fugir da polícia:



Veja em boa qualidade neste link

"Se acostumou sem querer ao salto alto, salário baixo e à vida dura" diz a letra da música "Vida Diet", composta por John Ulhôa e presente no belíssimo disco "Toda Cura Para Todo Mal", do Pato Fu, lembrando que, se vivermos por inércia, "a gente se acostuma a tudo, a tudo a gente se habitua".
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Metalinguagem: também indicaria os curtas A Pessoa É Para o que Nasce, que deu origem ao longa homônimo de Roberto Berliner; Uma Saída Política, de Arnaldo Galvão, outra engraçada animação a respeito do papelão que fazem os políticos em época de campanha; e Cartão Vemelho, de Laís Bodansky, que apesar de machista em certo sentido, foge do moralismo.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Baile Funk? Só para ricos

Imagine o Antônio Ermínio de Moraes, o Eike Batista e o Roberto Justus conversando tranquilamente numa mega festa para 500 pessoas promovida por Luciano Huck, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Todos felizes, contentes, bebendo e comendo do bom e do melhor, quando, de repente, um policial do BOPE chega quebrando tudo e e gritando:

-Pode parar essa festa, porra!!! Vocês não têm autorização pra fazer essa merda!! Vocês não comunicaram o número de convidados às autoridades e, pelas minhas contas, os banheiros dessa porra são insuficiente pra todo mundo. Sem contar que essa musiquinha americana que vocês ouvem é a mais pura bosta!!!

Situação inconcebível, não é verdade? Só redigi esses dois parágrafos iniciais para ajudar a ilustrar a mais nova prova de como o Brasil é separado entre ricos e negros...digo, pobres. O que jamais ocorreria em qualquer festa dos ricaços é realidade nos morros cariocas. A Polícia Militar do Rio proibiu a realização de bailes funk em áreas violentas da cidade, a partir de ontem.

O motivo alegado: a lei.

Veja o que ela determina, de acordo com o site da Folha: "Segundo algumas normas da lei estadual 5.265, de autoria do ex-deputado e ex-chefe de polícia Álvaro Lins, para realizar um baile funk é necessário pedir autorização com 30 dias de antecedência, ter comprovante de tratamento acústico, ter um banheiro químico para cada 50 pessoas e câmeras no local, além de outras regras".

Em outras palavras, a lei torna ilegal qualquer baile funk fora das boates da área nobre da cidade, já que quem mora no morro não tem condição financeira de cumprir todas as determinações legais. Sem entrar no mérito da concepção do funk ou do que ele representa em termos de culto ao corpo, machismo, etc., esse ato da polícia se configura pura e simplesmente em preconceito.

E tem gente que acredita que vivemos numa democracia (com liberdade de expressão).
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Metalinguagem: além da notícia, minha outra inspiração foi o documentário "Blue Eyed", de Bertram Verhaag, que filma um workshop da professora estadounidense Jane Elliot. Nesse workshop, ela faz um exercício em que todos os participantes com olhos azuis são ridicularizados, considerados inferiores e humilhados. A ideia é fazer a pessoa sentir na pele, por duas horas, o que os negros sentem a vida toda. Crédito da foto: globo.com.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Diferenças geográficas entre favelas

(Ferradura, a maior favela de Bauru: o bairro existe há 15 anos e não tem asfalto. Em Ferraz, no Alto Tietê, a Vila Ayda tem pavimentação, mas os moradores correm o risco de despejo por ocuparem uma área da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos)

Uma das experiências mais ricas que tenho como jornalista, aqui no Alto Titê, é visitar as ocupações urbanas ilegais que existem na periferia dessas cidades.

As visitas são muito rápidas, portanto, superficiais. Não me envolvo com a comunidade em questão e sequer sinto na pele seus problemas. Apenas ouço relatos e vejo manifestações. Mas com isso, é possível fazer certas comparações.

Apesar de ser garantido na constituição brasileira, o direito à moradia não existe no Brasil. Pelo contrário, é um modo de se comprovar que a nossa democracia não passa de uma grande piada. O fator econômico e a divisão extremamente desigual das propriedades empurra os pobres para reservas de mananciais ou terrenos de encostas, que também pertencem às elites locais. Sem escolha, as áreas são ocupadas. Alguns conseguem a escritura com muito sacrifício para continuarem morando em locais totalmente esquecidos pelo poder público, sem o mínimo aceitável de infraestrutura. Outros, são despejados como "invasores".

De forma empírica e com um pingo de teoria (o livro de Milton Santos, chamado Manual de Geografia Urbana), encontrei algumas diferenças entre as ocupações urbanas no interior e na região da grande São Paulo. O meu conhecimento interiorano é baseado nas visitas que eu fazia ao Ferradura, maior favela de Bauru, quando eu participava da construção de um jornal comunitário em tal bairro, além de certa noção superficial sobre outros bairros periféricos da cidade. Portanto, quando eu disser interior, entenda-se por Bauru. No Alto Tietê, como eu já disse, as visitas a regiões periféricas, como repórter, são minha base . Assim, faço três constatações, com respectivos exemplos:

-O poder público concede mais benefícios na Grande São Paulo: de maneira reformista e eleitoreira, os governos asfaltam e colocam galerias em terrenos onde há ocupações irregulares, coisa que nunca vi (nem ouvi falar) que tivesse ocorrido em Bauru. O maior acesso a recursos financeiros e menor extensão territorial das cidades do Alto Tietê podem facilitar tal trabalho. Ex: o negócio é tão interesseiro, que os políticos chegam a asfaltar ruas que sabem que serão desapropriadas, como acontece na Vila Ayda, em Ferraz;

-As associações de moradores são mais organizadas: poucos bairros de Bauru, que eu me lembre, tinham associação de moradores ativa. Aqui, poucos não têm. Talvez isso tenha ligação com o tópico acima. Como é mais fácil receber certas migalhas por estas bandas, a organização das pessoas dá mais resultados, mesmo que eles sejam ilusórios. Ex: no bairro de Palmeiras, em Suzano, a associação pediu asfalto ao prefeito, que cumpriu o prometido, pavimentando as ruas com material de péssima qualidade. Porém, como não havia nada antes, os moradores se contentaram;

-O número de "barracos" no interior é muito maior: grande parte das habitações que visitei no Alto Tietê é de alvenaria, fato pouco comum em Bauru. O subemprego na região de São Paulo é mais bem remunerado, o que permite a qualidade um pouco melhor das construções. Ex: conversando com um dos motoristas do jornal em que trabalho, quando estávamos num bairro periférico de Ferraz, ele constatou que a cor que predominava na paisagem era a laranja dos tijolos das casas recém construídas, mas sem acabamento.

A "coisa tá braba" para os dois lados, mas diferenças existem. As reivindicações da população pobre da periferia da grande São Paulo são muito específicas. As associações de moradores reivindicam direitos pontuais e as vinculações que possuem são geralmente com partidos como o PT, que dimiuíram muito a capacidade de mobilização popular nos últimos anos (como explica este belo artigo). No interior, por sua vez, o contato das pessoas pobres com partidos, sindicatos e associações é bem menor. Apesar da condição de vida ruim, algumas migalhas do governo federal (estilo Bolsa Família) fazem o papel de amansar o povo.
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Metalinguagem: não costumo escrever textos longos para não cansar o raro visitante deste blog, mas dessa vez não teve jeito.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Bolo mais duro que pedra

No início da tarde de hoje, fui até a casa do "seu" Antônio Carlos, operador de empilhadeira e morador do Parque São Francisco, na periferia de Ferraz de Vasconcelos.

Ele fez uma reclamação para o jornal em que trabalho a respeito da promessa não cumprida pelo prefeito eleito de pavimentar a rua da casa dele, que é muito íngrime. A falta de pavimentação, obviamente, causa problemas. Um dos mais graves é a impossibilidade do caminhão de lixo descer a rua.

No Brasil e no mundo, devem existir mil histórias como essa (de políticos que prometem e não cumprem). Porém, o relato do Antônio Carlos se atentou a detalhes que revelam a falsidade e tornaram a entrevista muito engraçada. Confesso que comecei a gargalhar no meio da conversa. Aí vai um trecho de algo que consigo me lembrar:

"Em época de eleição, todos os candidatos vêm até aqui, apertam a mão de todo mundo, entram na casa das pessoas. A gente oferece um bolo de fubá mais duro que pedra e eles comem e acham gostoso. A gente serve um café amargo e frio, eles acham muito bom. Eles veem uma criança recém nascida e pegam no colo. O menino pode estar remelento, sujo, eles não ligam, falam que a criança é linda.

Depois da eleição, eles nem aparecem".
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Metalinguagem: a história de pegar criança no colo é velha, masa a do "bolo-pedra" eu nunca tinha ouvido.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Twitter: um reflexo de nosso tempo

A internet entrou na minha vida quando eu tinha uns 12 anos, lá em 1997.

As conexões eram lentíssimas e minha mãe só me permitia ligar o barulhento discador aos finais de semana, quando o "pulso" da discagem era mais barato.

Com a gradual consolidação da internet no mundo e no Brasil (apesar de não termos a universalização do acesso, o número absoluto de internautas brasileiros é grande), surgiram os blogs, que se proliferavam em progressão geométrica.

(Blog do Sakamoto: análises sobre a questão do trabalho escravo, reflexões acerca da sociedade de consumo e considerações sobre a política institucional e em movimentos sociais)

Foi uma febre! Todos falavam em blogs, exaltando suas maravilhas, como a facilidade de uso e rapidez de postagem. Qualquer um podia ter um blog.

Passada a euforia do momento, constatou-se que a grande maioria dos blogs acabava morrendo com o passar do tempo (assunto já abordado por mim nesta postagem). O "problema" é que um blog precisa ser alimentado. As ideias são pinçadas, pensadas, concatenadas, formatadas e postadas (claro que isso não se aplica a todos os tipos de blog, mas à maioria). Resultado: demanda tempo, um dos "bens" mais escassos da sociedade capitalista.

Foi então que inventaram o fotolog. A elaboração textual passou para o segundo plano, mas se criou uma limitação técnica. Tirar uma foto numa câmera digital automática é mais fácil do que escrever, mas a postagem é mais complicada, pois depende do download da foto. Sem contar que nem sempre é possível tirar boas fotos, muitos não têm camera e os que têm, não estão com elas em toda a parte. O blog ainda não havia sido batido, exatamente pela sua praticidade.

Para chegarmos ao twitter, presisamos retomar o raciocínio do quinto parágrafo: se o que mais falta em nossa sociedade é tempo, o que mais sobra é informação. Porém, trata-se de uma informação simples, curta, rápida e, sem sombra de dúvida, superficial.

(Twitter do Mano Menezes: a celebridade futebolística relata que vai treinar, viajar, jogar, descansar, etc)

Eis o twitter: um blog com possibildade de postagem de 140 caracteres de conteúdo, sem necessidade de formatação. O que as pessoas costumam fazer com 140 caracteres? Dizem que estão indo para o trabalho, comendo, tristes, cansadas... enfim, "contam" para os internautas suas aflições e sensações momentâneas em tempo real (com postagens por celular). É uma forma de descarregar o vazio da vida cotidiada.

Rápido, superficial, descarregador de tensões, com pouca possibilidade de reflexão. Twitter: um retrato do século XXI.

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Metalinguagem: Apesar de saber das limitações da ferramenta, não condeno o seu uso. Creio que ela possa ser importante em determinadas ocasiões em que se faça necessária uma comunicação rápida, como ocorreu recentemente na greve da USP.