Baile Funk? Só para ricos

terça-feira, 14 de julho de 2009

Baile Funk? Só para ricos

Imagine o Antônio Ermínio de Moraes, o Eike Batista e o Roberto Justus conversando tranquilamente numa mega festa para 500 pessoas promovida por Luciano Huck, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Todos felizes, contentes, bebendo e comendo do bom e do melhor, quando, de repente, um policial do BOPE chega quebrando tudo e e gritando:

-Pode parar essa festa, porra!!! Vocês não têm autorização pra fazer essa merda!! Vocês não comunicaram o número de convidados às autoridades e, pelas minhas contas, os banheiros dessa porra são insuficiente pra todo mundo. Sem contar que essa musiquinha americana que vocês ouvem é a mais pura bosta!!!

Situação inconcebível, não é verdade? Só redigi esses dois parágrafos iniciais para ajudar a ilustrar a mais nova prova de como o Brasil é separado entre ricos e negros...digo, pobres. O que jamais ocorreria em qualquer festa dos ricaços é realidade nos morros cariocas. A Polícia Militar do Rio proibiu a realização de bailes funk em áreas violentas da cidade, a partir de ontem.

O motivo alegado: a lei.

Veja o que ela determina, de acordo com o site da Folha: "Segundo algumas normas da lei estadual 5.265, de autoria do ex-deputado e ex-chefe de polícia Álvaro Lins, para realizar um baile funk é necessário pedir autorização com 30 dias de antecedência, ter comprovante de tratamento acústico, ter um banheiro químico para cada 50 pessoas e câmeras no local, além de outras regras".

Em outras palavras, a lei torna ilegal qualquer baile funk fora das boates da área nobre da cidade, já que quem mora no morro não tem condição financeira de cumprir todas as determinações legais. Sem entrar no mérito da concepção do funk ou do que ele representa em termos de culto ao corpo, machismo, etc., esse ato da polícia se configura pura e simplesmente em preconceito.

E tem gente que acredita que vivemos numa democracia (com liberdade de expressão).
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Metalinguagem: além da notícia, minha outra inspiração foi o documentário "Blue Eyed", de Bertram Verhaag, que filma um workshop da professora estadounidense Jane Elliot. Nesse workshop, ela faz um exercício em que todos os participantes com olhos azuis são ridicularizados, considerados inferiores e humilhados. A ideia é fazer a pessoa sentir na pele, por duas horas, o que os negros sentem a vida toda. Crédito da foto: globo.com.