O sorriso bobo do Loki

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O sorriso bobo do Loki

Depois de conversar a respeito de bandas dos anos 80 com alguns amigos, resolvi escutar novamente o disco "Dois", da Legião Urbana. Fazia tempo que eu não prestava atenção na história de amor de "Eduardo e Mônica" (um boyzinho e uma garota "alternativa").

A afeição de Mônica pela banda os Mutantes foi um dos atributos que seduziu o rapaz.

(Em 99, quando comecei a ouvir incessantemente as músicas da Legião, eu sequer imaginava quem tinham sido os Mutantes. Porém, em 2008, eu tinha uma banda cover de Mutantes)

Mas por que eu estava falando sobre isso? Ah, sim. Assisti ao filme "Loki", de Paulo Henrique Fontenelle, que retrata a explosiva trajetória do mais brilhante integrante d'os Mutantes: Arnaldo Dias Baptista.

Arnaldo era um menino brincalhão. E com um sorriso meio bobo, divertia-se viajando em seu contrabaixo elétrico. Numa molecagem, misturou rock com samba (ei João!), causando fúria nos conservadores da sala de jantar (ei José!). De bobo, só tinha o sorriso, pois não teve medo de brincar de amor nem de criar o dia 36.

A rotina, uma forte decepção amorosa e o vazio dos prazeres fugazes fizeram o menino perder o sorriso fácil. Estaria ele crescendo e se apegando às coisas materiais? "Loki" (o disco de 74, não o filme) é um retrato formidável da mais pura angústia. Um disco de rock sem guitarra. Possivelmente, a tentativa de demonstrar a falta de sentido em seu mundo.

Na lucidez mais serena de quem já passou três vezes pelo hospício e tinha pavor de morrer trancafiado numa camisa de força, o loki Arnaldo se joga de um prédio e, milagrosamente, volta a ser menino. Torna-se mais amigo das crianças, dos velhos e dos animais. Recupera a ingenuidade dos pequenos, sem esquecer a vivência da "primeira juventude". As sequelas, que deveriam ser um peso, transformam-se em uma ferramenta para descobrir a simplicidade que havia se perdido em sua vida. O sorriso bobo e fácil está de volta aos mutantes lábios.

O filme em si, além de mostrar relatos de uma história fantástica (líder de uma das maiores bandas de rock do mundo se joga de prédio e sobrevive), acerta pela sesibilidade de escolher como fio condutor a manufatura de um quadro produzido pelo próprio Arnaldo. Com uma arte infantil que não se preocupa com o prestígio das técnicas de pintura consagradas, Baptista exprime sua trajetória na tela.

No quadro, estão os Mutantes, o amor por Rita Lee, as drogas, as inovações musicais, os amigos, a loucura, as sequelas. Ao lado da obra está um senhor, um menino sem medo de pular, brincar e gritar:

"Eu não tô nem aí pra morte. Eu não tô nem aí pra sorte"...

... e com um bobo sorriso no rosto.
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Metalinguagem: