A arte de acordar muito tarde

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

A arte de acordar muito tarde


Todas as férias o fenômeno se repete. Logo nos primeiros dias a situação ainda é branda. Ainda sob efeito do período letivo, saio da cama lá pelas onze, onze e meia, direto tomar meu café de manhã – cena essa que se repetirá no máximo cinco vezes nos próximos dois meses. Mas com o decorrer dos dias, a situação vai se agravando. Logo no fim da primeira semana, a marca de uma da tarde já é facilmente batida. Às vezes dá pra pegar o pessoal almoçando na mesa, às vezes não.

O tempo passa, e o sono só aumenta; na verdade ele não aumenta, apenas se desloca. Ao invés de estar entre a meia-noite e as 10:00, ele migra para entre as 5:00 e as 15:00. A duração é a mesma. É quando você começa a se levantar às três da tarde que o negócio começa realmente a incomodar. “Porra, já perdi metade do dia”, eu sempre penso.

Normalmente se estabiliza em três da tarde, com variantes tanto pra menos quanto pra mais. Os dias em que você acorda às quatro são os que mais você se sente um inútil. Ainda bem que são raros, como o de hoje, por exemplo. Acordar depois das quatro já passa a ter um significado maior: você já é um faixa preta na arte de acordar muito tarde.

A arte de acordar muito tarde foi a primeira comunidade no Orkut que criei, lá em 2005. O que mostra que esse meu hábito é de longa data. A comunidade conta com figuras ilustríssimas, como o rei Marquito (duvido que alguém consiga vencê-lo num duelo). Como já diz a descrição da comunidade, “aqui [você] poderá compartilhar suas incríveis experiências do dia-a-dia, como almoçar às 5 da tarde e acordar bem na hora da Malhação”.

A receita para você aprender esta arte se baseia em três ingredientes: 1) gostar de Internet, 2) ter muito sono e 3) ter uma força de vontade fraca o suficiente a ponto de não superar a força do seu sono. A Internet serve pra te manter acordado até altas horas. Mesmo que passado alguns dias você não fique mais o tempo todo nela, é ela a responsável pela falta de sono que não vai te deixar dormir antes das cinco. Afinal, era esse o horário que você ia dormir depois de ter passado a madrugada no MSN ou navegando por aí. Uma coisa boa é que você pode ocupar esse tempo da madruga com boas leituras.

Já o excesso de sono e a fraca força de vontade servem para te manter na cama. São várias as vezes em que eu acordo, tipo, à meio-dia e penso com os meus botões: “se eu tivesse que, por algum motivo, acordar agora, até que daria. Ainda bem que não tenho”. Viro de lado, volto a dormir, e, quando realmente acordo, tcharan, já são três da tarde.

Essa arte, no entanto, te apresenta desafios torturantes, de verdade. Eles aparecem geralmente nos dias que antecedem a volta às aulas. Afinal, como você vai fazer pra começar a acordar às oito se você estava acordando às três? Ou ainda quando você marca um médico que só tem horário livre na parte da manhã. Conforme a consulta vai chegando, a sensação de sofrimento inescapável cresce. Pura tortura.

É claro que na hora que já estou acordado, sóbrio, rosto lavado, me arrependo até a última pena de não ter levantado cedo, mas ali, na cama, aquele sono gostoso, aqueles lençóis aconchegantes, eu penso “acordar pra quê?”. Essa é a beleza dos prazeres efêmeros!