Sim, agora é oficial. Eu e meu amigo Gabriel, o Leite, temos uma banda de Oasis cover.
Integrantes? Só eu e ele, porque é muito difícil de arranjar baterista e lugar e tempo para ensaiar no meio do semestre. Ou seja, a banda é um Oasis acústico (vamos ver se arranjamos uma percussãozinha) e, mesmo só sabendo tocar 4 músicas do ingleses, já temos marcada a nossa primeira e última exibição: dia 24 de maio (eu acho), no Quinta no Bosque.
Quando eu era adolescente o meu sonho era ter uma banda e ser famoso. Consegui montar o primeiro grupo que foi um fiasco. O segundo teve um certo sucesso e nós tirávamos várias músicas de diversas bandas, mas eu sempre pedia para a galera aprender uma do Oasis. Chegamos a tocar:
-Live Forever
-Supersonic
-Wonderwall
-Champagne Supernova
-Stand By Me
-Don't Go Away
-Go Let It Out
-The Hindu Times
Até que foi bastante, mas eram apenas as músicas mais famosas do Oasis. Eu gostaria de tocar várias que considero ótimas só que ninguém conhece. Mesmo sendo fanático pelo Oasis naquela época eu não pensava em ter uma banda de Oasis cover, eu queria mesmo era ter uma banda própria, com canções próprias.
Agora, marmanjo, monto uma banda cover.
Bom, quando você gosta muito da banda é legal fazer cover, mas só para zuar, mostrar como os caras são idiotas e se acham mais do que tudo, apenas por fazerem boas canções.
Tem uns caras que levam muito a sério. Eu estava procurando uns vídeos do Oasis no youtube e encontrei uma banda que se chama Electric Oasis. Eles tocam de modo idêntico aos ingleses. Imitam os trejeitos, o som dos instrumentos, a posição no palco, as roupas, enfim... o que leva um cara a se dedicar a ser o que uma outra pessoa já é?
Vamos ver se eu descubro com a minha nova banda: Zooasis
.
segunda-feira, 30 de abril de 2007
quinta-feira, 26 de abril de 2007
Globo e Igreja, tudo a ver
Noutro dia eu estava jantando e liguei a TV para assistir ao Jornal Nacional.
Como os leitores deste blog já devem ter percebido, caso tenham assistido ao programa da Rede Globo nas últimas semanas, a emissora está veiculando reportagens especiais sobre a visita do Papa.
Ora, nada mais justo, afinal, estamos em um dos países de maior população católica do mundo. Ok, mas cobertura não significa subserviência.
Após uma notícia sobre os preparativos da visita de Bento XVI, Bonner e Fátima dão uma nota sobre um comunicado da Igreja ou de algum padre importante (não me lembro ao certo) condenando veementemente a homossexualidade. Os âncoras não expressam nenhuma opinião e seguem o jornal com mais uma reportagem relacionada com a visita do Papa.
A Globo se gaba tanto de fazer novelas que tratam de temas como homossexualidade, mas é incapaz de emitir uma opinião contrária à parte retrógrada da Igreja; e ainda por cima veicula mais uma matéria de "eba, o Papa está chegando".
Essa matéria que veio na seqüência e deixou ensanduichada a nota sobre a homossexualidade foi ridícula. É como se os apresentadores dissessem: "não importa que a Igreja acha que os gays são doentes, o Papa está chegando! Esqueçam! Não discutam! Deixem o preconceito dentro de vocês para sempre!"
Arrisco dizer que o preconceito contra homossexuais está mais arraigado em nossa sociedade do que o preconceito contra negros. Ainda ouvimos (e muitas vezes fazemos) piadinhas sobre os gays, sendo que qualquer tipo de preconceito é condenável da mesma maneira.
A Globo mais uma vez mostrou rabo presto e deixou de prestar um grande serviço à bandeira da igualdade, quando poderia ter criticado a fala do tal padre.
Como os leitores deste blog já devem ter percebido, caso tenham assistido ao programa da Rede Globo nas últimas semanas, a emissora está veiculando reportagens especiais sobre a visita do Papa.
Ora, nada mais justo, afinal, estamos em um dos países de maior população católica do mundo. Ok, mas cobertura não significa subserviência.
Após uma notícia sobre os preparativos da visita de Bento XVI, Bonner e Fátima dão uma nota sobre um comunicado da Igreja ou de algum padre importante (não me lembro ao certo) condenando veementemente a homossexualidade. Os âncoras não expressam nenhuma opinião e seguem o jornal com mais uma reportagem relacionada com a visita do Papa.
A Globo se gaba tanto de fazer novelas que tratam de temas como homossexualidade, mas é incapaz de emitir uma opinião contrária à parte retrógrada da Igreja; e ainda por cima veicula mais uma matéria de "eba, o Papa está chegando".
Essa matéria que veio na seqüência e deixou ensanduichada a nota sobre a homossexualidade foi ridícula. É como se os apresentadores dissessem: "não importa que a Igreja acha que os gays são doentes, o Papa está chegando! Esqueçam! Não discutam! Deixem o preconceito dentro de vocês para sempre!"
Arrisco dizer que o preconceito contra homossexuais está mais arraigado em nossa sociedade do que o preconceito contra negros. Ainda ouvimos (e muitas vezes fazemos) piadinhas sobre os gays, sendo que qualquer tipo de preconceito é condenável da mesma maneira.
A Globo mais uma vez mostrou rabo presto e deixou de prestar um grande serviço à bandeira da igualdade, quando poderia ter criticado a fala do tal padre.
sexta-feira, 20 de abril de 2007
O meu discman
Quando eu comprei meu discman, em 2004, ele ainda era valorizado . Não existiam MP3 players ou Ipods (pelo menos no Brasil).
Era fantástico você poder andar pela rua com um aparelho que tocava CDs, afinal, nem se comparava ao antigo walkman, que funcionava apenas com fitas, que já não eram muito utilizadas na minha época. Quem tinha um walkman geralmente precisava gravar as música do CD para a fita (isso demorava um tempo) e a qualidade da música ficava bem compromentida.
Uso meu Discman até hoje. Ele me satisfaz, já que ouço músicas quando estou indo para a faculdade a pé (isso leva cerca de 45 minutos, que é o tempo de um cd completo, em média).
Mas o melhor de ter um discman é poder andar tranqüilamente com ele pelas ruas. Os ladrões só procuram os Ipods e MP3 Players. Já me zuaram por ainda usar discman, dizendo que ele era um trambolho e era chato ficar tirando o colocando o cd, mas eu sinceramente não penso em trocá-lo por uma tecnologia mais moderna tão cedo. Sem contar que, gravando um cd, você pode ouvi-lo no seu cd player, no carro, etc; o que ainda não ocorre com tanta freqüência com os MP3 da vida.
Chamem-me de retrógrado e eu direi: longa vida ao discman!
quarta-feira, 18 de abril de 2007
Inspiração
Inspiração, insight, vontade... chame do que você quiser. A verdade é que ela existe.
Ter um blog depende muito de ter inspiração ou não (como acontece na maioria das vezes). Durante o dia ocorrem várias coisas rotineiras e chatas, mas, às vezes, os fatos interessantes aparecem escondidos no mais do mesmo.
É aí que o blogueiro entra. O cara percebe o tique nervoso engraçado de fulano, a notícia sem pé nem cabeça que saiu no jornal, a falta de sentido que determinados atos têm, etc.
Mas não basta ter percepção, tem que ter inpiração. E geralmente ela vem logo após a percepção. Só que nem sempre temos um computador perto ou lembramos do fato curioso depois de passado algum tempo. Resultado: blog desatualizado.
Depois de ver que eu não postava neste blog desde do dia 11 de abril e que tinham acontecido várias coisas "postáveis" que eu não tive inspiração de escrever, percebi que a inspiração era um bom tema para um post e não deixei que ela me escapasse dessa vez.
Algum dia ainda farei um post sobre meta-linguagens.
Ter um blog depende muito de ter inspiração ou não (como acontece na maioria das vezes). Durante o dia ocorrem várias coisas rotineiras e chatas, mas, às vezes, os fatos interessantes aparecem escondidos no mais do mesmo.
É aí que o blogueiro entra. O cara percebe o tique nervoso engraçado de fulano, a notícia sem pé nem cabeça que saiu no jornal, a falta de sentido que determinados atos têm, etc.
Mas não basta ter percepção, tem que ter inpiração. E geralmente ela vem logo após a percepção. Só que nem sempre temos um computador perto ou lembramos do fato curioso depois de passado algum tempo. Resultado: blog desatualizado.
Depois de ver que eu não postava neste blog desde do dia 11 de abril e que tinham acontecido várias coisas "postáveis" que eu não tive inspiração de escrever, percebi que a inspiração era um bom tema para um post e não deixei que ela me escapasse dessa vez.
Algum dia ainda farei um post sobre meta-linguagens.
quarta-feira, 11 de abril de 2007
O mundo está esquentando, e daí?
É mais ou menos essa a sensação que a mídia e o governo passam.
Na semana passada, o IPCC divulgou o segundo relatório sobre as mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global. Várias espécies podem entrar em estinção; países pobres vão sofrer graves conseqüências, como escassez de água; pode haver savanização da floresta amazônica e desertificação do semi-árido brasileiro. Existem outros fatores, mas os citados anteriormente já seriam suficientes para que alguma medida fosse tomada.
Os jornais fazem cadernos especiais sobre aquecimento global, entrevistam a ministra Marina Silva e esquecem do assunto até o IPCC divulgar outro relatório.
Já o governo fala que está fazendo sua parte e que a pasta do Meio Ambiente está no caminho certo.
Não há dúvidas de que os países como Estados Unidos e China são os maiores destruidores da camada de ozônio, mas quando o problema chaga ao nível alarmante em que se encontra, a população tem a necessidade de contribuir de alguma maneira.
Se reciclar o lixo, economizar água e utilizar energia solar não vão fazer grandes diferenças em nível global, pelo menos são medidas saudáveis para o meio ambiente das comunidades brasileiras.
É aí que o governo e a mídia se omitem. Como poder que ambos possuem, poderiam criar campanhas e incentivar a população para que hábitos mais "sustentáveis" fossem praticados.
A culpa é das grandes empresas e fábricas espalhadas pelas potências capitalistas, mas o povo também quer ajudar.
PS: Ouçam o programa "Ecoando: Educação e Atitude" da Rádio Unesp Virtual. É um programa bem opinativo sobre as questões ambientais. Quinta-feira (quinzenalmente), às 12h30 (também dá para ouvir depois, é só clicar no nome do programa). Vale a pena!
Na semana passada, o IPCC divulgou o segundo relatório sobre as mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global. Várias espécies podem entrar em estinção; países pobres vão sofrer graves conseqüências, como escassez de água; pode haver savanização da floresta amazônica e desertificação do semi-árido brasileiro. Existem outros fatores, mas os citados anteriormente já seriam suficientes para que alguma medida fosse tomada.
Os jornais fazem cadernos especiais sobre aquecimento global, entrevistam a ministra Marina Silva e esquecem do assunto até o IPCC divulgar outro relatório.
Já o governo fala que está fazendo sua parte e que a pasta do Meio Ambiente está no caminho certo.
Não há dúvidas de que os países como Estados Unidos e China são os maiores destruidores da camada de ozônio, mas quando o problema chaga ao nível alarmante em que se encontra, a população tem a necessidade de contribuir de alguma maneira.
Se reciclar o lixo, economizar água e utilizar energia solar não vão fazer grandes diferenças em nível global, pelo menos são medidas saudáveis para o meio ambiente das comunidades brasileiras.
É aí que o governo e a mídia se omitem. Como poder que ambos possuem, poderiam criar campanhas e incentivar a população para que hábitos mais "sustentáveis" fossem praticados.
A culpa é das grandes empresas e fábricas espalhadas pelas potências capitalistas, mas o povo também quer ajudar.
PS: Ouçam o programa "Ecoando: Educação e Atitude" da Rádio Unesp Virtual. É um programa bem opinativo sobre as questões ambientais. Quinta-feira (quinzenalmente), às 12h30 (também dá para ouvir depois, é só clicar no nome do programa). Vale a pena!
sábado, 7 de abril de 2007
05 de abril de 2007, parte 2.
Seis e meia da tarde, em uma Quinta vérspera de feriado prolongado. Chego na rodoviária de Bauru. Em companhia de um amigo, aproveito que estou adiantado no horário, e passo antes na banca de jornais. Dou uma olhada em algumas revistas, e acabo comprando o Lance. Saio da banca, e vou pra plataforma de meu ônibus, pronto para voltar a minha cidade. Até aí, tudo como de costume.
Eis então que acontece uma das cenas mais chocantes de minha tranquila classe mediana vida.
A plataforma é a de número 12, estamos eu e meu amigo, conversando e esperando. A véspera de feriado é a razão do movimento maior que o normal na rodoviária. A duas plataformas de distância, dois homens chamam a atenção. Um deles, negro, visivelmente alcolizado, sem os mínimos reflexos para sequer ficar em pé, tem o braço puxado, quase que arrancado, pelo outro, de pele morena, que apresenta um comportamento assustadoramente alterado.
"Levanta, caralho, levanta", berrava o de comportamento assutadoramente alterado, enquanto caía, ao tentar levantar o visivelmente alcolizado.
Não levantou.
"Voce é do UIPA (presídio de Bauru), né? É do PCC?", gritou ainda mais alto, sem obter, obviamente, nenhuma resposta. A seguir, embuído de uma agressividade fora do comum, com a raiva estampada no rosto, o homem em pé, se inclina, fecha a mão e acerta um soco direto e bem firme na cara do homem estirado.
Eu, que até então achava que os dois eram amigos, soltei um berro, assim como outros que testemunhavam a cena. Mas o pior estava por vir.
Não contente apenas com o soco, que provavelmente quebrou o maxilar acertado, o homem com raiva engatilha a perna, e dá um, dois, três chutes diretamente na cabeça do homem àquela altura desacordado. Três chutes que jamais sairão da minha memória, provavelmente porque não os vi. Quando da iminência do primeiro, virei de costas - a cena era insuportavelmente pesada para meus olhos. E a cada grito de apreensão daqueles que observavam o ato de covardia, senti o reflexo dos chutes rasgando-me brios adentro.
A poça de sangue que se formou ao redor da cabeça do agredido, a fuga do agressor entre as moitas e a escuridão, o homem com a camisa do são paulo que chegou correndo, indignado, gritando "como ninguém fez nada? o que é isso? queria ver se fosse parente de alguém?", meu desespero em chamar o resgate que não chamei e que outro chamou, a indiferença dos passageiros, dos funcionários, dos motoristas, que passavam pelo corpo, adentravam seus ônibus, recebiam as passagens, com o mesmo ar de naturalidade de qualquer outro dia, a chegada da polícia, o resgate que não chegava, o agressor voltando à cena, provavelmente drogado pra fazer aquela burrada, e sendo preso após denunciado, o clima de revolta e linchamento, aquele "esse já tá morto" da policial pro meu "não morreu não, ainda tá respirando", os policiais se preparando pra levar o corpo ao hospital, "não mexe na cabeça não, é melhor imobilizar antes", "voce quer que ele morra aqui então, moleque? vaza daqui", a chegada do resgate segundos depois, meu ônibus, entro nele, de onde vejo o agredido, imobilizado e já dentro do resgate.
Dentro do ônibus, ainda ouço de uma menina "Ih, aquele deve tá morto", em tom de uma indiferença irritante, como se o suposto morto tivesse o mesmo valor que um saco de batata frita. "Não morreu não, ele ainda tava respirando", respondi pela segunda vez na noite, com uma mistura de lamento e raiva pela aquela frase. E aí que um colega meu, que pegara o mesmo ônibus, em tom de deboche, me manda:
"Relaxa. Bica em cabeça de bêbado não mata não", para logo depois abrir seu laptop e passar a viagem toda, trânquilo, assistindo ao dvd que trouxera.
* * *
O agressor é Vagner Caetano, 22 anos. O agredido é Antônio Carlos da Silva, 23 anos. Ambos receberam o benefício de indulto, creio eu, apenas durante a Páscoa, para visitar seus familiares.
Para alguém como eu, que cresceu blindado das mazelas da sociedade brasileira, que viveu sempre no eixo do centro da cidade, vendo a verdadeira violência apenas na TV e nos jornais, e a sentindo de maneira bem tímida apenas nos relatos dos que foram assaltados ou dos que conhecem algum pai de família morto em um assalto, o acontecimento de 05 de abril de 2007 me suscitou ínumeros pensamentos que me acompanharam durante as 2 horas e meia de viagem de Bauru a Rio Claro, e que ainda me acompanham. Destes, pude fazer algumas constatações:
O Individualismo da sociedade - foi triste, muito triste de ver a indiferença dos vários que ali estavam em relação ao homem que teve o crânio estraçalhado. As pessoas passavam, olhavam o corpo com olhar de curiosidade, e entravam em seus ônibus de maneira supernatural. Ninguém estava muito aí, salvo algumas exceções. Apesar de injustificado, o fato de ninguém ter ousado deter o agressor se compreende de alguma maneira pelo sentimento de medo e por todos terem sido pegos de surpresa. Mas a unica explicação para a indiferença das pessoas no pós-crime é essa: vivemos em um mundo onde o lema é "cada um por si, Deus por todos, foda-se". Sei que não é nenhuma novidade, mas nunca é demais lembrar.
Cristianismo? - as pessoas voltavam para as suas cidades em razão do fim de semana da Páscoa, datas que relembram a crucificação e ressureição de Jesus Cristo. Religiosismo à parte, a filosofia de Jesus Cristo era a da caridade, do espírito coletivo, do amor incondicional a qualquer um, independente de raça, credo e classe social. Ao antagonismo do individualismo de hoje em dia e da idéia por trás do cristianismo, o acontecimento daquela quinta traz uma grande conclusão: a grande maioria dos que se dizem cristão é de fachada.
Minha covardia - Só de pensar de que eu poderia ter presenciado um assassinato de uma pessoa indefesa, sem ter feito absolutamente nada, quando perfeitamente o poderia, já crava nos meus brios o sentimento de Culpa. Fui covarde quando não podia.
O lado positivo - "João, a violência que você vê nos jornais e na TV realmente existe".
* * *
PS1: No site do Jornal da Cidade, de Bauru, há uma notícia sobre o acontecimento, que diz que tanto o agressor como o agredido foram liberados durante a noite (um, da delegacia, o outro, do hospital). Logo, não houve morte, tampouco prisão. Liguei hoje no JC pra saber mais da história, mas a repórter que fez a matéria não estava. Vou procurar mais informações na segunda.
PS2: Sei que é difícil ler esse texto sem fazer uma imagem demagógica de minha pessoa, mas quero crer que tudo que escrevi é realmente o que sinto e penso.
PS3: Por favor, se você conseguiu ler tudo até aqui, comente.
Eis então que acontece uma das cenas mais chocantes de minha tranquila classe mediana vida.
A plataforma é a de número 12, estamos eu e meu amigo, conversando e esperando. A véspera de feriado é a razão do movimento maior que o normal na rodoviária. A duas plataformas de distância, dois homens chamam a atenção. Um deles, negro, visivelmente alcolizado, sem os mínimos reflexos para sequer ficar em pé, tem o braço puxado, quase que arrancado, pelo outro, de pele morena, que apresenta um comportamento assustadoramente alterado.
"Levanta, caralho, levanta", berrava o de comportamento assutadoramente alterado, enquanto caía, ao tentar levantar o visivelmente alcolizado.
Não levantou.
"Voce é do UIPA (presídio de Bauru), né? É do PCC?", gritou ainda mais alto, sem obter, obviamente, nenhuma resposta. A seguir, embuído de uma agressividade fora do comum, com a raiva estampada no rosto, o homem em pé, se inclina, fecha a mão e acerta um soco direto e bem firme na cara do homem estirado.
Eu, que até então achava que os dois eram amigos, soltei um berro, assim como outros que testemunhavam a cena. Mas o pior estava por vir.
Não contente apenas com o soco, que provavelmente quebrou o maxilar acertado, o homem com raiva engatilha a perna, e dá um, dois, três chutes diretamente na cabeça do homem àquela altura desacordado. Três chutes que jamais sairão da minha memória, provavelmente porque não os vi. Quando da iminência do primeiro, virei de costas - a cena era insuportavelmente pesada para meus olhos. E a cada grito de apreensão daqueles que observavam o ato de covardia, senti o reflexo dos chutes rasgando-me brios adentro.
A poça de sangue que se formou ao redor da cabeça do agredido, a fuga do agressor entre as moitas e a escuridão, o homem com a camisa do são paulo que chegou correndo, indignado, gritando "como ninguém fez nada? o que é isso? queria ver se fosse parente de alguém?", meu desespero em chamar o resgate que não chamei e que outro chamou, a indiferença dos passageiros, dos funcionários, dos motoristas, que passavam pelo corpo, adentravam seus ônibus, recebiam as passagens, com o mesmo ar de naturalidade de qualquer outro dia, a chegada da polícia, o resgate que não chegava, o agressor voltando à cena, provavelmente drogado pra fazer aquela burrada, e sendo preso após denunciado, o clima de revolta e linchamento, aquele "esse já tá morto" da policial pro meu "não morreu não, ainda tá respirando", os policiais se preparando pra levar o corpo ao hospital, "não mexe na cabeça não, é melhor imobilizar antes", "voce quer que ele morra aqui então, moleque? vaza daqui", a chegada do resgate segundos depois, meu ônibus, entro nele, de onde vejo o agredido, imobilizado e já dentro do resgate.
Dentro do ônibus, ainda ouço de uma menina "Ih, aquele deve tá morto", em tom de uma indiferença irritante, como se o suposto morto tivesse o mesmo valor que um saco de batata frita. "Não morreu não, ele ainda tava respirando", respondi pela segunda vez na noite, com uma mistura de lamento e raiva pela aquela frase. E aí que um colega meu, que pegara o mesmo ônibus, em tom de deboche, me manda:
"Relaxa. Bica em cabeça de bêbado não mata não", para logo depois abrir seu laptop e passar a viagem toda, trânquilo, assistindo ao dvd que trouxera.
* * *
O agressor é Vagner Caetano, 22 anos. O agredido é Antônio Carlos da Silva, 23 anos. Ambos receberam o benefício de indulto, creio eu, apenas durante a Páscoa, para visitar seus familiares.
Para alguém como eu, que cresceu blindado das mazelas da sociedade brasileira, que viveu sempre no eixo do centro da cidade, vendo a verdadeira violência apenas na TV e nos jornais, e a sentindo de maneira bem tímida apenas nos relatos dos que foram assaltados ou dos que conhecem algum pai de família morto em um assalto, o acontecimento de 05 de abril de 2007 me suscitou ínumeros pensamentos que me acompanharam durante as 2 horas e meia de viagem de Bauru a Rio Claro, e que ainda me acompanham. Destes, pude fazer algumas constatações:
O Individualismo da sociedade - foi triste, muito triste de ver a indiferença dos vários que ali estavam em relação ao homem que teve o crânio estraçalhado. As pessoas passavam, olhavam o corpo com olhar de curiosidade, e entravam em seus ônibus de maneira supernatural. Ninguém estava muito aí, salvo algumas exceções. Apesar de injustificado, o fato de ninguém ter ousado deter o agressor se compreende de alguma maneira pelo sentimento de medo e por todos terem sido pegos de surpresa. Mas a unica explicação para a indiferença das pessoas no pós-crime é essa: vivemos em um mundo onde o lema é "cada um por si, Deus por todos, foda-se". Sei que não é nenhuma novidade, mas nunca é demais lembrar.
Cristianismo? - as pessoas voltavam para as suas cidades em razão do fim de semana da Páscoa, datas que relembram a crucificação e ressureição de Jesus Cristo. Religiosismo à parte, a filosofia de Jesus Cristo era a da caridade, do espírito coletivo, do amor incondicional a qualquer um, independente de raça, credo e classe social. Ao antagonismo do individualismo de hoje em dia e da idéia por trás do cristianismo, o acontecimento daquela quinta traz uma grande conclusão: a grande maioria dos que se dizem cristão é de fachada.
Minha covardia - Só de pensar de que eu poderia ter presenciado um assassinato de uma pessoa indefesa, sem ter feito absolutamente nada, quando perfeitamente o poderia, já crava nos meus brios o sentimento de Culpa. Fui covarde quando não podia.
O lado positivo - "João, a violência que você vê nos jornais e na TV realmente existe".
* * *
PS1: No site do Jornal da Cidade, de Bauru, há uma notícia sobre o acontecimento, que diz que tanto o agressor como o agredido foram liberados durante a noite (um, da delegacia, o outro, do hospital). Logo, não houve morte, tampouco prisão. Liguei hoje no JC pra saber mais da história, mas a repórter que fez a matéria não estava. Vou procurar mais informações na segunda.
PS2: Sei que é difícil ler esse texto sem fazer uma imagem demagógica de minha pessoa, mas quero crer que tudo que escrevi é realmente o que sinto e penso.
PS3: Por favor, se você conseguiu ler tudo até aqui, comente.
sexta-feira, 6 de abril de 2007
05 de abril de 2007, o pior dia da minha vida
Tá, pode ser que não tenha sido o pior dia da minha vida, mas, sem a menor sombra de dúvida, foi o mais zicado da história. Vamos à narrativa:
Quinta-feira, dia 05 de abril, véspera de feriado. Mesmo sabendo que a chance de algum ser vivo da minha sala ir à aula era ínfima, resolvi acordar cedo e tentar a sorte. Levantei um pouco mais tarde do que o normal e peguei um busão para ir para a facul. Cheguei até lá e o óbvio ululava: havia meia dúzia de gatos pingados na universidade inteira. A professora chegou, conversou comigo durantes uns 30 ou 40 minutos e foi embora. Gastei 1,70 do busão à toa e perdi uma manhã de sono.
Tudo bem, afinal de contas, eu teria que ficar na faculdade para resolver algumas coisas da Web Rádio Unesp Virtual, além de gravar o NJ Notícias (jornal da rádio) às 18h. Fui para a biblioteca e li a Folha por umas 2 horas. Depois encontrei o professor Dino que me entregou 250 folders (que não estavam dobrados) e 50 cartazes de divulgação da rádio. Eu acho ótimo divulgar a rádio (inclusive fui eu que fiz os folders e os cartazes), mas como não havia ninguém na faculdade e a programação estréia oficialmente na segunda-feira, dia 9, eu teria que dobrar os 250 folders e colar os 50 cartazes até o fim do dia.
Após almoçar com o Bulhões, fui à luta: comecei a dobrar os folders. Dobrei, dobrei, dobrei, dobrei...até umas 16h30, aí decidi fazer uma pausa para colar os cartazes (lotei a cantina da FEB de cartazes). Voltei para o laboratório e comecei a dobrar de novo. Estava me sentido como no filme de Chaplin, eu não sabia fazer mais nada além de dobrar. Já eram umas 17h30 quando acabei a "dobração" e o editor do NJ Notícias me mandou o roteiro do programa editado. Tive que corrigir algumas coisas técnicas rapidamente porque o programa iria ao ar às 18h 30. Terminei de corrigir às 18h10 e fui correndo imprimir as cópias. Peguei a primeira cópia e fui para a rádio (eu, os 250 folders dobrados na mochila, uns 25 cartazes e o livro do Tom Wolfe de 900 páginas que eu tive a excelente idéia de levar para a faculdade). Chegando lá, bato com a cara na porta. Apesar de a luz do estúdio estar acesa, a porta estava trancada e não dava pra ver se tinha alguém lá dentro. Grito, berro, xingo e nada. Vou até a portaria e pergunto se alguém estava com a chave da rádio. Sim, alguém estava com a chave.
Depois de passar muita raiva, desencano de gravar o jornal e vou terminar de colar os cartazes, xingando todas as gerações do técnico responsável (que era o Gabriel). Por volta das 19h15 encontro com o Gabriel na região das salas 70:
Gabriel: Pô véio, por que o NJ não rolou?
Eu: Não tinha técnico.
Gabriel: Mas eu tava lá a tarde inteira.
Resumindo: alguém trancou a porta que dá acesso a rádio e o Gabriel estava ouvindo música, portanto, ele não ouviu os meus berros. Ok, vamos gravar o programa? Não, o outro locutor (Daniel Gomes) tinha acabado de entrar na aula e só iria sair no intervalo, às 21h. Fui esperar com o Gabriel no boteco.
Depois de uma cerveja e uma porção de amendoim, começamos a gravar por volta das 21h30. Tivemos alguns problemas técnicos e, após a gravação, eu e o Gabriel gastamos um tempo arrumando os erros (como um ataque de riso frenético que tive depois que o Daniel disse Elba Barramalho em vez de Elba Ramalho, numa notícia da editoria de Cultura).
Depois de tudo arrumadinho, o Gabriel chamou um amigo dele para nos dar carona. Quando o amigo chegou, lembrei que o Palmeiras estava jogando. Olhamos na internet: o jogo estava nos pênaltis e Edmundo havia acabado de perder uma cobrança. Chegamos no carro e ligamos o rádio:
-Ehhhhhh, o time jogou mal, mas o importante é que ganhamos do Palmeiras nos pênaltis.
Puta que pariu! Palmeiras eliminado da Copa do Brasil pelo Ipatinga. Vai se fuder!
Bom, fazer o quê? Pelo menos eu não ia gastar o dinheiro do busão pra voltar pra casa. Acontece que quando estavamos na Avenida Nações Unidas, perto do Confiaça Flex, acaba a gasolina do carro do amigo do Gabriel. Detalhe: justamente numa subida.
Eu, Gabriel e outro amigo dele que estava presente empurramos o carro a subida inteira. Depois de uns 15 minutos de tentativas, xingamentos e quase atropelamentos, o carro pegou. Só que na correria para entrar no carro, fecharam a porta do carro na minha mochila e a presilha da alça quebrou: mochila quebrada.
Eu, melancolicamente, chego em casa às 23h30 com meus 250 folders dobrados na minha mochila quebrada e com a sensação de que não deveria ter levantado da cama.
Quinta-feira, dia 05 de abril, véspera de feriado. Mesmo sabendo que a chance de algum ser vivo da minha sala ir à aula era ínfima, resolvi acordar cedo e tentar a sorte. Levantei um pouco mais tarde do que o normal e peguei um busão para ir para a facul. Cheguei até lá e o óbvio ululava: havia meia dúzia de gatos pingados na universidade inteira. A professora chegou, conversou comigo durantes uns 30 ou 40 minutos e foi embora. Gastei 1,70 do busão à toa e perdi uma manhã de sono.
Tudo bem, afinal de contas, eu teria que ficar na faculdade para resolver algumas coisas da Web Rádio Unesp Virtual, além de gravar o NJ Notícias (jornal da rádio) às 18h. Fui para a biblioteca e li a Folha por umas 2 horas. Depois encontrei o professor Dino que me entregou 250 folders (que não estavam dobrados) e 50 cartazes de divulgação da rádio. Eu acho ótimo divulgar a rádio (inclusive fui eu que fiz os folders e os cartazes), mas como não havia ninguém na faculdade e a programação estréia oficialmente na segunda-feira, dia 9, eu teria que dobrar os 250 folders e colar os 50 cartazes até o fim do dia.
Após almoçar com o Bulhões, fui à luta: comecei a dobrar os folders. Dobrei, dobrei, dobrei, dobrei...até umas 16h30, aí decidi fazer uma pausa para colar os cartazes (lotei a cantina da FEB de cartazes). Voltei para o laboratório e comecei a dobrar de novo. Estava me sentido como no filme de Chaplin, eu não sabia fazer mais nada além de dobrar. Já eram umas 17h30 quando acabei a "dobração" e o editor do NJ Notícias me mandou o roteiro do programa editado. Tive que corrigir algumas coisas técnicas rapidamente porque o programa iria ao ar às 18h 30. Terminei de corrigir às 18h10 e fui correndo imprimir as cópias. Peguei a primeira cópia e fui para a rádio (eu, os 250 folders dobrados na mochila, uns 25 cartazes e o livro do Tom Wolfe de 900 páginas que eu tive a excelente idéia de levar para a faculdade). Chegando lá, bato com a cara na porta. Apesar de a luz do estúdio estar acesa, a porta estava trancada e não dava pra ver se tinha alguém lá dentro. Grito, berro, xingo e nada. Vou até a portaria e pergunto se alguém estava com a chave da rádio. Sim, alguém estava com a chave.
Depois de passar muita raiva, desencano de gravar o jornal e vou terminar de colar os cartazes, xingando todas as gerações do técnico responsável (que era o Gabriel). Por volta das 19h15 encontro com o Gabriel na região das salas 70:
Gabriel: Pô véio, por que o NJ não rolou?
Eu: Não tinha técnico.
Gabriel: Mas eu tava lá a tarde inteira.
Resumindo: alguém trancou a porta que dá acesso a rádio e o Gabriel estava ouvindo música, portanto, ele não ouviu os meus berros. Ok, vamos gravar o programa? Não, o outro locutor (Daniel Gomes) tinha acabado de entrar na aula e só iria sair no intervalo, às 21h. Fui esperar com o Gabriel no boteco.
Depois de uma cerveja e uma porção de amendoim, começamos a gravar por volta das 21h30. Tivemos alguns problemas técnicos e, após a gravação, eu e o Gabriel gastamos um tempo arrumando os erros (como um ataque de riso frenético que tive depois que o Daniel disse Elba Barramalho em vez de Elba Ramalho, numa notícia da editoria de Cultura).
Depois de tudo arrumadinho, o Gabriel chamou um amigo dele para nos dar carona. Quando o amigo chegou, lembrei que o Palmeiras estava jogando. Olhamos na internet: o jogo estava nos pênaltis e Edmundo havia acabado de perder uma cobrança. Chegamos no carro e ligamos o rádio:
-Ehhhhhh, o time jogou mal, mas o importante é que ganhamos do Palmeiras nos pênaltis.
Puta que pariu! Palmeiras eliminado da Copa do Brasil pelo Ipatinga. Vai se fuder!
Bom, fazer o quê? Pelo menos eu não ia gastar o dinheiro do busão pra voltar pra casa. Acontece que quando estavamos na Avenida Nações Unidas, perto do Confiaça Flex, acaba a gasolina do carro do amigo do Gabriel. Detalhe: justamente numa subida.
Eu, Gabriel e outro amigo dele que estava presente empurramos o carro a subida inteira. Depois de uns 15 minutos de tentativas, xingamentos e quase atropelamentos, o carro pegou. Só que na correria para entrar no carro, fecharam a porta do carro na minha mochila e a presilha da alça quebrou: mochila quebrada.
Eu, melancolicamente, chego em casa às 23h30 com meus 250 folders dobrados na minha mochila quebrada e com a sensação de que não deveria ter levantado da cama.
segunda-feira, 2 de abril de 2007
Romário e o milésimo
Inspiro-me em dois textos publicados ontem na Folha de S. Paulo para escrever sobre Romário. O primeiro, sob título de “Ajuste de contas”, estava no caderno Mais!, de autoria de Marcos Augusto Gonçalves (o mesmo que certa vez tabulou Rogério Ceni de ‘O Presepeiro do Morumbi’, em um de seus artigos). O segundo texto é de Juca Kfouri, talvez o melhor jornalista esportivo deste vasto país, publicado no caderno Esportes, intitulado “O país do hímen complacente”.
Enquanto que o primeiro fala sobre o milésimo que não saiu contra o Flamengo e glorifica a carreira do jogador, Juca Kfouri adota um ar mais sóbrio e critica. Lamenta o fato de todos aceitaram as contas de Romário, já que este contabiliza gols marcados de quando era amador, e relembra que o Brasil é o país onde tudo pode.
Concordo com os dois textos (brilhantes por sinal), mas prefiro dar mais atenção apenas ao primeiro. Mesmo achando Romário um tanto que folgado enquanto pessoa, não deixo de apreciá-lo quando nas quatro linhas. O Baixinho tornou o ofício de marcar gols tão brilhante e apreciável como ninguém. Seu estilo leve, com passo de sandália arrastada, como muito bem descreve Marcos Augusto Gonçalves, encanta a todos, ainda mais porque quase sempre o arrastar das sandálias termina em gol.
Quando vi o 999º , o terceiro da vitória do Vasco contra o Flamengo, a ficha voltou a cair: “Que golaço. Romário é o cara”. E lamentei tanto quanto o repórter atrás do gol do Flamengo, quando Romário, livre, acertou o milésimo nos pés do goleiro.
Assim como muito bem assinalou Juca Kfouri, a contagem de Romário abre prerrogativas para que jogadores cheguem no profissional já com 200 gols no currículo. Mas abramos uma exceção a Romário. Esqueçamos os gols do amador. Tomemos por fato consumado os 999 gols, assim como a grande mídia já o fez (e costuma fazer com muitos outros casos). Não custa muita coisa.
Dentre os emocionantes gols de Romário que povoam a minha memória, está um marcado contra o Corinthians, quando jogava pelo Fluminense, na primeira partida da semifinal do Brasileiro de 2002. Depois de receber um lindo passe de calcanhar, Romário fuzilou, dentro da grande área. E depois comemorou numa de suas danças, para delírio dos milhares que testemunhavam aquele momento.
Também me recordo de sua estréia pelo Fluminense. Não dos gols, mas do resultado: um 5 a 2 no Cruzeiro, em pleno Maracanã, onde o Baixinho fez 3. Estrear com três gols, bem típico de Romário.
Mas gol que não vou esquecer mesmo foi num jogo Brasil 5, Bolívia, 1, se não me equivoco. Eram eliminatórias para a Copa de 2002. Assim como em 94, o Brasil passava por apuros. Assim como em 94, Romário não andava às tantas com o técnico da seleção (Luxemburgo). E assim como em 94, Romário foi convocado para salvar a pátria.
Era uma tarde de Domingo, num Maracanã lotado. Como não podia deixar de ser, Romário brilhou. Fez três. E um deles só de lembrar já me arrepia. A goleada já estava armada, o placar apontava três, quatro a zero, quando Romário, livre, partiu da intermediária, em direção ao gol. Estabanado, o goleiro boliviano saiu ao encontro do camisa 11, já ciente da fatalidade.
A chuva caía fina. Romário, com a calma dos deuses, conduziu a bola até o momento certo. E deu um leve toque, com a precisão que só o artilheiro tem. A bola subiu apenas o suficiente pra encobrir e parar no fundo das redes. Delírio no Maracanã.
Romário, como de praxe, saiu para a comemoração em corrida discreta, marota, depois de ter feito mais um golaço.
Enquanto que o primeiro fala sobre o milésimo que não saiu contra o Flamengo e glorifica a carreira do jogador, Juca Kfouri adota um ar mais sóbrio e critica. Lamenta o fato de todos aceitaram as contas de Romário, já que este contabiliza gols marcados de quando era amador, e relembra que o Brasil é o país onde tudo pode.
Concordo com os dois textos (brilhantes por sinal), mas prefiro dar mais atenção apenas ao primeiro. Mesmo achando Romário um tanto que folgado enquanto pessoa, não deixo de apreciá-lo quando nas quatro linhas. O Baixinho tornou o ofício de marcar gols tão brilhante e apreciável como ninguém. Seu estilo leve, com passo de sandália arrastada, como muito bem descreve Marcos Augusto Gonçalves, encanta a todos, ainda mais porque quase sempre o arrastar das sandálias termina em gol.
Quando vi o 999º , o terceiro da vitória do Vasco contra o Flamengo, a ficha voltou a cair: “Que golaço. Romário é o cara”. E lamentei tanto quanto o repórter atrás do gol do Flamengo, quando Romário, livre, acertou o milésimo nos pés do goleiro.
Assim como muito bem assinalou Juca Kfouri, a contagem de Romário abre prerrogativas para que jogadores cheguem no profissional já com 200 gols no currículo. Mas abramos uma exceção a Romário. Esqueçamos os gols do amador. Tomemos por fato consumado os 999 gols, assim como a grande mídia já o fez (e costuma fazer com muitos outros casos). Não custa muita coisa.
Dentre os emocionantes gols de Romário que povoam a minha memória, está um marcado contra o Corinthians, quando jogava pelo Fluminense, na primeira partida da semifinal do Brasileiro de 2002. Depois de receber um lindo passe de calcanhar, Romário fuzilou, dentro da grande área. E depois comemorou numa de suas danças, para delírio dos milhares que testemunhavam aquele momento.
Também me recordo de sua estréia pelo Fluminense. Não dos gols, mas do resultado: um 5 a 2 no Cruzeiro, em pleno Maracanã, onde o Baixinho fez 3. Estrear com três gols, bem típico de Romário.
Mas gol que não vou esquecer mesmo foi num jogo Brasil 5, Bolívia, 1, se não me equivoco. Eram eliminatórias para a Copa de 2002. Assim como em 94, o Brasil passava por apuros. Assim como em 94, Romário não andava às tantas com o técnico da seleção (Luxemburgo). E assim como em 94, Romário foi convocado para salvar a pátria.
Era uma tarde de Domingo, num Maracanã lotado. Como não podia deixar de ser, Romário brilhou. Fez três. E um deles só de lembrar já me arrepia. A goleada já estava armada, o placar apontava três, quatro a zero, quando Romário, livre, partiu da intermediária, em direção ao gol. Estabanado, o goleiro boliviano saiu ao encontro do camisa 11, já ciente da fatalidade.
A chuva caía fina. Romário, com a calma dos deuses, conduziu a bola até o momento certo. E deu um leve toque, com a precisão que só o artilheiro tem. A bola subiu apenas o suficiente pra encobrir e parar no fundo das redes. Delírio no Maracanã.
Romário, como de praxe, saiu para a comemoração em corrida discreta, marota, depois de ter feito mais um golaço.