Mercy Zidane: agosto 2010

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Você arruinou a minha vida

Sabe quando uma música que você nem sabe o nome aparece na sua cabeça sem motivo nenhum?

Pois isso aconteceu comigo na semana passada.

Eu só me lembrava da frase que é título desta postagem. Com esforço, recordei-me que, apesar da voz feminina, a canção era do Clube da Esquina, de Milton Nascimento e Lô Borges.

Então descobri que se tratava de "Me deixa em paz", composta por Monsuetto e Aírton Amorim.

E durante todo esse processo, que durou uns dois dias, ouvi a música incessantemente.

Percebi o quão desesperada era o restante da letra (Se você não me queria / Não devia me procurar) e como os vocais de fundo e os gritos arrastados da cantora (creio ser Alaíde Costa - a do vídeo abaixo - também na gravação original) tornaram a música tão perturbada, intensa.

Tudo isso culminando nas tristes e raivosas frases finais:

"Você arruinou a minha vida / Me deixa em paz".


Metalinguagem: a versão do vídeo está muito boa, mas ainda prefiro a gravação original do disco "Clube da Esquina", de 1972.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Agora sim, Felipão voltou



Em 98, eu me lembro de assistir aos jogos do Palmeiras, válidos pela extinta Copa Mercosul, no SBT. O canal de Silvio Santos só passava o segundo tempo das partidas daquele fantástico time de Felipão, a última grande equipe sul-americana que jogava para frente (há controvérsias, eu sei) segundo matéria recente da BBC. Se não estiver enganado, o Palmeiras teve 100% de aproveitamento na primeira fase. Seis vitórias em seis jogos. Veio o mata-mata. Aí minha memória embaralha a felicidade de vários jogos decisivos, como as três partidas finais contra o Cruzeiro (1x2, 3x1, 1x0), as semis das Copa do Brasil de 98, contra o Santos (gol decisivo do Darci), as outras semis da Libertadores 99, contra o River, o jogo histórico contra o Flamengo, na Copa do Brasil de 99 (em que o Palmeiras marcou 3 gols em 15 minutos). Sempre partidas sofridas, decididas nos últimos minutos. Na casa do adversário, uma derrota por poucos gols ou um empate dramático. Em casa, o time jogando para frente, mesmo que de forma desesperada, e a torcida incentivando sem parar, com a certeza de que algo bom estaria por vir. Sempre Marcos no gol. Sempre Felipão no banco. Sempre o coração saindo pela boca. Sempre a vitória no final. E hoje, depois de Roth, Caio Júnior, Leão, Muricy, Luxemburgo e tantos outros terem passado pelo Palmeiras (e com Marcos, sempre lá, completando 500 jogos), ele novamente, Felipão, resgatou esse sentimento.

Nos últimos dez anos, o impossível sempre foi impossível para o Palmeiras. Hoje Felipão voltou de verdade e nos lembrou que o impossível, às vezes, é possível. Tínhamos de vencer o vice-campeão da Copa do Brasil por três gols de diferença e sem as principais estrelas do time. Vencemos por 3x0. Com um gol incrível de falta. Aos 44 minutos do segundo tempo.
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Metalinguagem: tinha me programado para falar de outras coisas relacionadas a futebol, mas essa vitória de hoje quebrou o planejamento por completo. E repare no gol de Marcos Assunção lembrando os bons tempos de Arce!

domingo, 15 de agosto de 2010

Três frases pedantes

Os professores lá da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), da USP, onde estudo, estão em contato contínuo com livros e congressos.

Estudam a sociedade, suas relações antropológicas, políticas, filosóficas, linguísticas, históricas, geográficas, sociológicas.

Mas a imensa maioria se esquece da cidade, do país e do mundo em que vive. Os iluminados fecham-se na torre de marfim, apesar de abusarem de tal expressão sempre que podem.
Exemplo concreto são as três frases saídas das bocas de docentes em sala de aula, que reproduzo abaixo, com a tentativa de contextualização entre parênteses:
-"Isso qualquer verdureiro sabe"

(Professora de Política II, ao se referir à popularidade da obra de "O Príncipe", de Maquiavel, dizendo que os estudantes têm que ir além do senso comum - lembrou-me a citação de Boris Casoy, no fim do ano passado - escrevi sobre);

-"Para entrar na USP é só prestar qualquer curso com aquelas habilitações bizarras da Letras"

(Professora de Sociologia I, esquecendo-se que a relação candidato/vaga do curso de Ciências Sociais é baixa e avaliando a importância do curso pelo fator vestibular);

-"Aí eu fiz o doutorado e virei gente"

(Professora de Antropologia I, expressando-se de modo infeliz para dizer que teve relevância acadêmica a partir de tal momento. Ela, inclusive, não fez essa contextualização. Talvez ela seja um dos poucos milhares de seres humanos de verdade no Brasil).

Assim como o dinheiro, a intelectualidade sobe à cabeça. Segundo o professor Daniel (Letras), crítico em relação à posição política (de imobilidade) da maioria dos docentes da USP, 1/3 deles têm dívidas em cartões de crédito apesar do alto salário recebido. "Eles se acham os novos FHC. A USP traz o prestígio, o dinheiro. Eles adotam padrões de consumo absurdos para terem status e fazerem turismo em congressos".

Apesar de todo o "conhecimento", de nada adianta se não houver discussão. As aulas são como palestras em que muitos alunos são ridicularizados pela "falta de conhecimento" quando tentam realizar uma intervenção. Discutir o papel da universidade em uma aula do curso de Ciências Sociais com a reitoria ocupada a poucos metros? Nem pensar.

Em três palavras: punhetagem de conhecimento.
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Metalinguagem: guardei no pensamento duas das frases e com o surgimento de mais uma na primeira semana de aula, tive a ideia de escreve este texto. Não desconsidero a importância das aulas, mas a leitura organizada de textos está sendo bem mais proveitosa, além de discussões com alunos em corredores.

sábado, 14 de agosto de 2010

Frase que uma moça me disse num sonho

E no próximo aniversário, darei a você um presente que já estou parcelando: a indiferença

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Oito pequenos trechos desconexos de desabafos esparsos em noites solitárias

1. Isso é uma técnica de imersão. Entro em mim mesmo. Apesar de todas as travas, tento escrever o que realmente penso. Talvez não seja nem o que penso de verdade, considerando que pensar é somar todas as vozes da cabeça e dar a “vitória” à mais interessante, por qualquer motivo que seja.

2. Queria que ele fizesse o que ele fez.

3. Ultimamente tenho tido raiva das pessoas que têm medo.

4. Esperei o dia todo por esses 15 minutos.

5. Gosto muito do jeito como escreve, da concisão principalmente. Adoro como as frases secas dos personagens masculinos são cheias de significados. Termino os romances e contos e fico com vontade de falar como eles. Não consigo. Sou quieto, mas quando me sinto à vontade acho que falo bastante.

6. Que caralho de cidade é essa?

7. -Vamos. Vamos fingir a felicidade que não existe. Vamos falar com pessoas que têm uma obrigação moral de falar conosco, vamos perceber o quanto elas não nos conhecem e ver que as que conheciam não conhecem mais, que as que conhecerão são uma incógnita de cada vez mais difícil resolução.

-Sim, vamos jogar o jogo.

-E sem perspectivas.

-É, sem perspectivas.

8. A mão sente e pulsa, doendo um pouco.

sábado, 7 de agosto de 2010

Programáticas, pragmáticas

Quando acabou o primeiro debate entre quatro dos candidatos às eleições presidenciais deste ano, na Bandeirantes, ocorrido no dia 5, o diretor de jornalismo da emissora, Fernando Mitre, deu uma entrevista aos próprios repórteres que coordena.

Disse que, no debate, não ocorreram xingamentos pessoais, baixarias, enfrentamentos ríspidos. Em outras palavras, não rolou o dedo na cara, o embate direto. Uma certa cordialidade imperou entre os três postulantes mais bem contados nas pesquisas. Mitre ainda afirmou que o debate inaugurou a discussão programática entre os dois principais candidatos (Serra e Dilma), definindo tal termo como as principais propostas práticas de cada presidenciável para os próximos quatro anos.

Nao li os programas de governo de Serra e Dilma. Fiquei sabendo pelos jornalões que ambos são parecidos, genéricos e curtos. É fácil de se constatar que as campanhas estão mais pautadas no corpo a corpo, na figura pessoal, na imagem televisiva, nas promessas de entregas de escolas, hospitais, bolsas-família, nos beijinhos nas crianças, na continuidade, na polícia "apaziguadora" do que numa discussão sobre o que se quer para o futuro. Na minha opinião, o jornalista confundiu o programático com o pragmático. Muito mais do que prédios e medidas práticas, o programa é o que precede as ações e norteia um partido, são seus ideais. Os de Serra, de Dilma e da ecocapitalista Marina Silva convergem, como bem frisou Plinio.

Por falar em Plínio, achei que ele fez bem em pontuar algumas questões (o fato de todos serem farinha do mesmo saco, citar a impossibilidade de concilar desenvolvimento capitalista e sustentabilidade, tocar na questão da jornada de trabalho), mas acabou vestindo o papel de palhaço ao adotar um tom irônico. A mídia, óbvio, pintou-o como franco atirador, "velho louco". Penso que ele poderia ter sido mais incisivo e menos complacente. Poderia ter explicado melhor, mais didaticamente, como a sociedade é dividida por classes e como os interesses dos patrões divergem dos interesses do povo. Ficou falando em muros, em desigualdade, mas não disse claramente que Serra, Marina, Dilma e Lula estão do lado oposto ao dos trabalhadores.

Por mais que Plinio destoe dos demais candidatos, ele não rompe de fato com o modelo da "democracia" estabelecida.
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Metalinguagem: não assisti ao debate inteiro devido ao jogo da Libertadores.