As desculpas inócuas de Boris

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

As desculpas inócuas de Boris

No segundo post do ano, pensei em falar sobre mil coisas, mas escolhi algo relativamente velho, se levarmos em conta a velocidade fútil das informações jornalísticas.

Na semana passada, Boris Casoy, âncora televisivo renomado na grande mídia, cometeu a gafe mais preconceituosa de 2009 ao humilhar em rede nacional os garis participantes do vídeo promocional de ano novo da TV Bandeirantes, antes do intervalo do Jornal da Band.

Erro cometido, Boris veio a público se retratar no dia seguinte, no mesmo programa. Como um jornalista "ético", limitou-se a pedir desculpas aos garis e aos telespectadores pelo vazamento de som e por sua frase infeliz.

Agora imagine a cena análoga: você tem um amigo negro e você não é negro. Ao se despedirem, você cumprimenta seu amigo, mas faz um grave xingamento racista a ele. O rapaz ouve sua frase, vai embora e tira satisfação com você no dia seguinte. Como resposta, você se desculpa e diz que não era para ele ter ouvido.

Boris não se dignou a "cutucar a merda" porque sabia que, mesmo se apresentasse argumentos, ele não teria defesa. Afinal, como o âncora se salvaria de uma fala tão preconceituosa, incrustada em seu pensamento aos 68 anos de idade? Mesmo assim, a frase e o pedido de desculpas ridículo mostraram a cabeça racista da elite brasileira que, na frente das câmeras, prega o discurso da igualdade, mas nas conversas de boteco, na informalidade, na vida privada, trama e executa a manutenção ou o aumento das disparidades.
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Metalinguagem: post relâmpago também inspirado pela postagem do Byron & Shelley.