Programáticas, pragmáticas

sábado, 7 de agosto de 2010

Programáticas, pragmáticas

Quando acabou o primeiro debate entre quatro dos candidatos às eleições presidenciais deste ano, na Bandeirantes, ocorrido no dia 5, o diretor de jornalismo da emissora, Fernando Mitre, deu uma entrevista aos próprios repórteres que coordena.

Disse que, no debate, não ocorreram xingamentos pessoais, baixarias, enfrentamentos ríspidos. Em outras palavras, não rolou o dedo na cara, o embate direto. Uma certa cordialidade imperou entre os três postulantes mais bem contados nas pesquisas. Mitre ainda afirmou que o debate inaugurou a discussão programática entre os dois principais candidatos (Serra e Dilma), definindo tal termo como as principais propostas práticas de cada presidenciável para os próximos quatro anos.

Nao li os programas de governo de Serra e Dilma. Fiquei sabendo pelos jornalões que ambos são parecidos, genéricos e curtos. É fácil de se constatar que as campanhas estão mais pautadas no corpo a corpo, na figura pessoal, na imagem televisiva, nas promessas de entregas de escolas, hospitais, bolsas-família, nos beijinhos nas crianças, na continuidade, na polícia "apaziguadora" do que numa discussão sobre o que se quer para o futuro. Na minha opinião, o jornalista confundiu o programático com o pragmático. Muito mais do que prédios e medidas práticas, o programa é o que precede as ações e norteia um partido, são seus ideais. Os de Serra, de Dilma e da ecocapitalista Marina Silva convergem, como bem frisou Plinio.

Por falar em Plínio, achei que ele fez bem em pontuar algumas questões (o fato de todos serem farinha do mesmo saco, citar a impossibilidade de concilar desenvolvimento capitalista e sustentabilidade, tocar na questão da jornada de trabalho), mas acabou vestindo o papel de palhaço ao adotar um tom irônico. A mídia, óbvio, pintou-o como franco atirador, "velho louco". Penso que ele poderia ter sido mais incisivo e menos complacente. Poderia ter explicado melhor, mais didaticamente, como a sociedade é dividida por classes e como os interesses dos patrões divergem dos interesses do povo. Ficou falando em muros, em desigualdade, mas não disse claramente que Serra, Marina, Dilma e Lula estão do lado oposto ao dos trabalhadores.

Por mais que Plinio destoe dos demais candidatos, ele não rompe de fato com o modelo da "democracia" estabelecida.
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Metalinguagem: não assisti ao debate inteiro devido ao jogo da Libertadores.