Noutro dia, fui surpreendido com a notícia de que Alan Kardec, o melhor jogador do Palmeiras, iria realmente deixar o clube para acertar com um rival – o São Paulo. No começo, não acreditei muito nas especulações da imprensa, já que sempre que o Palmeiras vai mais ou menos bem em alguma competição, ela cava negociações dos destaques do time (Wesley e Valdivia também foram cogitados fora do Palmeiras após a razoável campanha no Paulista e a vitória sobre o Criciúma na primeira rodada do Brasileiro). Consequência de anos a fio de times pouco competitivos.
2014 é o ano do centenário do alviverde e o que deveria ser um ano de comemoração fica dramático para um time que vai lutar, no máximo, para ficar no meio da tabela do Campeonato Brasileiro. Sem me alongar nas repetições de análises de especialistas e apaixonados (pois esse não é o foco da postagem), sem dúvida foi um vacilo da diretoria (que tenta sambar num pé só para lidar com enormes dívidas), mas que não justifica a humilhação sofrida: há perda técnica para o time, para o moral dos jogadores, para o planejamento da temporada, além da questão simbólica de acabar fazendo como os times pequenos, que não conseguem segurar seus principais atletas devido ao fator grana, apesar de toda a grandeza do Palmeiras.
E mesmo eu já tendo 28 anos, bateu aquele tipo de tristeza bem parecida com a que ocorre quando algo dá muito errado na vida (demissão de um emprego, brigas com grandes amigos, etc.). Fiquei de mau humor por uns três dias. Era só pensar em Palmeiras (coisa muito recorrente) para bater uma dorzinha no peito.
Era pra tanto? Certamente que não, mas futebol é uma coisa, convenhamos, difícil de explicar. Só que, pelo menos, o caso trouxe à minha mente a reflexão sobre a força meio infantil e sem sentido que o futebol, com relação a todo o universo que envolve um torcedor fiel de uma equipe, tem.
Em 99% dos casos, é uma influência que vem de cedo e costuma ter motivação familiar – raras vezes o esporte bretão angaria um novo apaixonado se este já ultrapassou a adolescência. O jogo coletivo dos poucos, mas prazerosos tentos, dos esquemas táticos variáveis em que o brilho individual costuma prevalecer perante brucutus (mas nem sempre), e das torcidas apaixonadas agarra o nosso coração e, quando isso acontece, costuma durar até o fim da vida. Mesmo quem viu craques do nível de Ademir, Leivinha e Cesar Maluco, rende-se à explosão de alegria de um gol de Marcão (o zagueiro/lateral esquerdo, não o São Marcos), de Robert ou de Marquinhos Gabriel, jogadores que não deveriam sequer ter tido a chance de envergar o manto palestrino.
Em 99% dos casos, é uma influência que vem de cedo e costuma ter motivação familiar – raras vezes o esporte bretão angaria um novo apaixonado se este já ultrapassou a adolescência. O jogo coletivo dos poucos, mas prazerosos tentos, dos esquemas táticos variáveis em que o brilho individual costuma prevalecer perante brucutus (mas nem sempre), e das torcidas apaixonadas agarra o nosso coração e, quando isso acontece, costuma durar até o fim da vida. Mesmo quem viu craques do nível de Ademir, Leivinha e Cesar Maluco, rende-se à explosão de alegria de um gol de Marcão (o zagueiro/lateral esquerdo, não o São Marcos), de Robert ou de Marquinhos Gabriel, jogadores que não deveriam sequer ter tido a chance de envergar o manto palestrino.
A felicidade de um gol, de uma vitória ou da conquista de um campeonato é tão intensa para um torcedor fanático que parece que foi ele o responsável por tudo isso – vide a alta quantidade de superstições esdrúxulas dos exaltados em jogos decisivos. Ele se sente confiante em vários âmbitos da vida com o resultado positivo. Pode zuar os amigos torcedores de times rivais, vestir, orgulhoso, a camisa de seu time enquanto desfila pelas ruas, altivo.
Nas derrotas, a mesma lógica com a situação invertida: não foi o torcedor que montou esquema tático, contratou os jogadores ou deu palestras motivacionais na véspera de uma partida importante, mas a sensação de derrota, humilhação e abatimento é mais aguda do que nos próprios onze penas de pau.
A realidade, porém, é que o torcedor pouco interfere na campanha de um clube e é daí que vem o aspecto infantil da coisa. Racionalmente falando, não há uma motivação clara para você gostar mais de um clube do que de outro. Algum torcedor já vasculhou a história de vários times antes de combinar sua gratidão eterna com algum deles? Comparou ídolos? Ponderou qual era o uniforme mais bonito? Duvideodó.
Mas uma camisa pirata dada de presente pelo pai, o gosto predileto por uma cor que coincide com as ostentadas pelo escudo do clube ou um gol emocionante numa final de campeonato que foi assistida quando a TV estava ligada por acaso (tudo isso, geralmente na infância) podem fazer com que o seu coração seja eternamente devoto de um time, a ponto de a perda de um jogador que está longe de ser um dos mais importantes da história da agremiação fazer com que você perca o humor. E por três dias.
Um motivação simples, pouco profunda e muito mais sensorial que racional pode ter um peso insustentável (parafraseando em outro contexto o famosíssimo "A insustentável leveza do ser", de Milan Kundera), com a propriedade de proporcionar espasmos de alegria ou tristeza ao longo de toda a existência.
Será que vai ser sempre assim? Será que, num mundo diferente, em que o fator predominante para um jogador escolher este ou aquele time não for o dinheiro, seremos ainda tão fanáticos? Será que não somos tão loucos por assistir futebol porque soltamos nossos fantasmas dos dias de trabalho alienado em frente à televisão? Será que se tivéssemos mais lazer e mais times amadores as coisas seriam diferentes?
Tenho minhas suspeitas, mas, sinceramente, não sei. Só tenho a certeza de que meu coração vai morrer verde e branco, chorando com os vexames e sorrindo com as conquistas.
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Metalinguagem: fazia realmente muito tempo que eu não falava sobre futebol por aqui.
Mas uma camisa pirata dada de presente pelo pai, o gosto predileto por uma cor que coincide com as ostentadas pelo escudo do clube ou um gol emocionante numa final de campeonato que foi assistida quando a TV estava ligada por acaso (tudo isso, geralmente na infância) podem fazer com que o seu coração seja eternamente devoto de um time, a ponto de a perda de um jogador que está longe de ser um dos mais importantes da história da agremiação fazer com que você perca o humor. E por três dias.
Um motivação simples, pouco profunda e muito mais sensorial que racional pode ter um peso insustentável (parafraseando em outro contexto o famosíssimo "A insustentável leveza do ser", de Milan Kundera), com a propriedade de proporcionar espasmos de alegria ou tristeza ao longo de toda a existência.
Será que vai ser sempre assim? Será que, num mundo diferente, em que o fator predominante para um jogador escolher este ou aquele time não for o dinheiro, seremos ainda tão fanáticos? Será que não somos tão loucos por assistir futebol porque soltamos nossos fantasmas dos dias de trabalho alienado em frente à televisão? Será que se tivéssemos mais lazer e mais times amadores as coisas seriam diferentes?
Tenho minhas suspeitas, mas, sinceramente, não sei. Só tenho a certeza de que meu coração vai morrer verde e branco, chorando com os vexames e sorrindo com as conquistas.
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Metalinguagem: fazia realmente muito tempo que eu não falava sobre futebol por aqui.