A "amiga" televisão

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A "amiga" televisão

Fazia tempo que eu não convivia com a televisão como membro da família.

Ela se senta na sala e abraça nossos olhos e ouvidos, reverberando dentro de nós, apresenta-nos, todo dia, a sua velha novidade: a notícia vazia.
Para minha avó e meu pai, trata-se realmente de uma amiga. Talvez algo como uma vizinha fofoqueira, mas um tanto autoritária. Ela tem a prioridade da fala e do olhar, além de dizer novidades quentes. Não há como comparar com as coisas que são pensadas na cachola, caso a matraca televisiva desse um tempo. São curiosidades tão apelativas e vazias que exigem uma reação (novamente o autoritarismo não explícito), forçam a extração de uma opinião igualmente vazia.

Assim, o que resta a meus parentes? Inicialmente a reprodução. A amiga eletrônica cochica no ouvido um segredo tão novo que é preciso alardeá-lo. "Vem ver! O barraco caiu no Rio de Janeiro", grita a minha avó. Em seguida, a ideia estabelecida de que precisamos ter uma opinião escolhe aleatoriamente o "isso é uma bosta" ou "adoro esse programa". Por último, o sensacionalismo se torna mais evidente com as reações (gritos, expressões faciais) de minha avó.

Jornal não se lê, internet não se sabe usar, rádio não funciona. Resta a tevê, essa amiga que traz a novidade incrível e vazia para formar opiniões (baseadas em questões sem sentido informativo relevante) aqui em casa. E, muito provavelmente, em muitas, muitas outras casas.

Meu pai dorme, minha avó dorme, mas ela continua cochichando no ouvido deles e no meu, neste momento, mesmo eu estando em outro cômodo.

"A televisão me deixou burro, muito burro demais. Agora todas coisas que eu penso me parecem iguais".
Marcelo Fromer / Tony Belotto / Arnaldo Antunes
_______________________
Metalinguagem: post nada original, apenas um certo desabafo ao constatar cotidianamente o convívio da televisão em casa. Ressaltando: o problema não é o meio em si, mas quem o fez e com que intenção.