Livraria? Prefiro a loja de jeans

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Livraria? Prefiro a loja de jeans

Antes eu até que gostava, no começo de minha vida literária, lá pros 17 anos, mas hoje não gosto de jeito nenhum.


Ir à livraria significava pra mim todo um mundo a se descobrir, com livros de capas legais, sobre os mais variados temas. Tinha uma baita sede de conhecimento e vislumbrava uma fase nova de meus percalços (universidade), em que leria de tudo e saberia horrores. Sentia-me com o mesmo apetite de um esfomeado que acaba de chegar num restaurante por quilo ao meio-dia.

Hoje, a sensação é de enjôo de quem comeu maionese estragada. Às vezes até entro, dou uma caminhada, folheio alguma coisa, mas só. Raramente compro algo, salvo as ocasiões de presentear alguém. Afinal, pra que gastar grana com um livro se nas bibliotecas tem tantos e tantos que ainda quero ler e não li? Essa é a minha lógica.

Calejado pelos 21 anos, e, enfim, desiludido, vejo que a chance de eu ler 1% dos livros que me causam interesse nas livrarias é de algo em torno de 1%. Primeiro, por que a visão romântica de uma vida com tempo de sobra para fazer as mais diversas atividades se evaporou tão cedo entrei na faculdade e passei a morar sozinho. Segundo, que travo uma batalha cotidiana contra meu jeito enrolado de ser. Sou um ser naturalmente indisciplinado, e, pra encaixar algum tempo de leitura no seu dia, disciplina é tudo.

É por isso que acho livraria um dos lugares mais angustiantes de se visitar. Pra mim ela é o reflexo em espaço físico de um dos grandes dilemas pós-modernos daquelas pessoas inseridas na sociedade da informação: a escolha.

Tem algo mais angustiante que escolher entre ESPN, Discovery ou CNN, entre ouvir rádio, TV ou ler jornal, entre a biografia do Stalin, a do Mao, o livro da Cremilda Medina, o Rota 66 do Caco Barcelos, A Sangue Frio, 1984, O Poder do Mito, Como Ficar Milionário em 3 Dias... Argh!

Por isso, prefiro uma loja de jeans caríssimos. Pelo menos na loja de jeans caros, você tem a possibilidade, mesmo que remota, de juntar o caminhão de dinheiro necessário pra comprar as peças que você quer. Já em uma livraria, o capital de acesso aos seus desejos é outro e humanamente inalcançável: tempo.





Depois de mermão ter me mostrado este vídeo, de dois trouxas tirando racha, me lembrei deste aqui, que vi num post do Pensar Enlouquece