Mercy Zidane: agosto 2009

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O que é isto, o fichamento?

Na faculdade de jornalismo, logo no primeiro semestre, eu tive aulas de Filosofia com o simpático e polêmico professor Clodoaldo Cardoso, esse da foto aí do lado.

Pra ser sincero, lembro de poucas coisas daquela disciplina.

Mas uma delas me marcou: a valorização do fichamento.

O professor Clodoaldo não aplicava provas, mas exigia fichamentos dos textos que indicava aos alunos, além de um seminário ao final do semestre. Esses fichamentos não eram simples transposições resumidas de escritos de filósofos consagrados, eram reflexões.

Só fui perceber isso após a realização do meu primeiro fichamento. Passei um fim de semana inteiro na labuta. Entreguei o trabalho no início da semana. Na aula seguinte, Clodoaldo disse para eu refaze-lo, diminuindo a quantidade de páginas e relacionando o que foi apreendido nos textos com experiências pessoais. Em outras palavras, ele disse: pense.

Anos depois, isolado em Suzano, trocando ideias relevantes com grandes amigos apenas pela interface do computador (salvo raras exceções), o fichamento de livros e textos (e não apenas a leitura) está sendo um parceiro no desafio de pensar, algo tão combatido pela socidade atual.
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Metalinguagem: a preguiça e o tamanho dos textos anteriores me fizeram reduzir os caracteres neste daqui.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O porquê da minha certeza de que o Palmeiras será o Campeão Brasileiro 2009

O título é sensacionalista (foi só para te fisgar, leitor, hehe). Apesar do meu desejo, acho que o Palmeiras tem poucas chances de vencer o Brasileirão.

Mas os fatores que me dão esperanças dpara continuar torcendo são o acaso e a motivação, por mais clichê que isso possa soar (estou praticamente falando que futebol é uma caixinha de surpresas, mas explico).

Um dos técnicos mais vencedores da recente história do futebol brasileiro, Vanderlei Luxemburgo, ficou famoso por exaltar o "planejamento" e o "profissionalismo" em suas temporadas à frente de grandes equipes. Lembro-me de episódios em que o treinador esqueceu de estimular os jogadores e levou em conta apenas a parte tática de partidas decisivas. Acabou derrotado (Exemplos: Olimpíadas de Sidney, em 2000, quando o Brasil tinha dois jogadores a mais e Luxa teve uma conversa meramente técnica no intervalo; e o episódio em que o técnico humilhou o goleiro Marcos por tentar fazer um gol de cabeça contra o Grêmio, no Brasileirão 2008). Sobre o dito profissionalismo, Vanderlei ficou conhecido por ser um dos técnicos mais mercenários do futebol.

Já o tricampeão brasileiro, Muricy Ramalho, riu das palavras entre aspas no parágrafo acima, quando entrevistado em seu primeiro dia de trabalho com o manto palestrino, dizendo que "isso não existe".

Futebol não é uma partida de Brasfoot, onde só existem os fatores força e cansaço. O acaso e o lado motivacional tem papel preponderante no esporte e são (talvez) mais importantes do que a qualidade técnica (o Avaí que o diga).

Posso estar falando um monte de obviedades, mas se faz necessário estabelecer um paralelo entre a ridícula tentativa de se traçar um planejamento num jogo de xadrez com peças humanas (parafraseando meu amigo Bulhões), como o futebol, e o pensamento cartesiano de se teorizar o 'inteorizável", como é comum em algumas vertentes das ciências humanas (áreas da comunicação aí inclusas), tentando fazer com que o acaso seja mais previsível.

Paradoxalmente, se considerarmos que Mané é o acaso e João é a ciência cartesiana, saberemos o resultado de antemão.


______________________ Metalinguagem: não estou desvalorizando o estudo científico, mas é necessário ter consciência de suas limitações e dos "estragos" que o acaso pode causar. Também não dei exemplos sobre as áreas "inteorizáveis" da comunicação, mas depois falo sobre isso.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Suzano Nordeste

O texto abaixo foi escrito há cerca de três meses:

Acabo de assistir ao filme "Viva São João" (foto), de Andrucha Waddington, no qual o cantor e ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, apresenta (de forma bem superficial, diga-se de passagem) as raízes culturais da comemoração mais tradicional do Nordeste brasileiro: a Festa de São João. Neste texto, não irei me ater a detalhes da produção cinematográfica ou da festa em si; falarei sobre as sensações que o filme me causou.

Eu sou paulista, nascido na pouco conhecida Suzano, a 40 km da capital. Por tal proximidade com a megalópole, minha terra fica no limbo entre capital e interior, a chamada região metropolitana. Portanto, em Suzano, há carcterísticas geográficas comuns a bairros periféricos de São Paulo ao mesmo tempo em que certos hábitos comuns a cidades pequenas são praticados.

Dentre as características de cidade grande, Suzano tem um punhado de fábricas, que além de ter deixado a cidade famosa pelo mau cheiro, trouxe muita mão de obra barata. Assim como na capital, a grande maioria da massa de trabalhadores é oriunda do Nordeste.

O meu contato com os nordestinos se deu a partir da forma mais conservadora de distribuir a renda, como diria Milton Santos: a empregada doméstica que trabalha em casa há muitíssimos anos, a Josefa da Silva, conhecida como Zezé (foto), é nascida em Caruaru-PE. Ela começou a prestar serviços em minha residência após minha mãe ter cometido um ato de certa forma interiorano: Zezé tocou a campainha e ofereceu sua mão de obra. Mesmo sem conhecê-la, minha mãe aceitou. Assim, sempre de modo descontraído e detalhista, Zezé trouxe incontáveis histórias do Nordeste brasileiro para a mesa de casa. Exemplos de que me recordo agora: vezes em que foi obrigada a lavar as panelas da casa de seu pai com areia, a fuga da residência para poder se casar e o susto que tomou em sua "primeira vez" (ela não sabia o que fazer, pois não teve a mínima educação sexual).

Mas as histórias não são apenas de Caruaru. Zezé mora em Suzano há mais de 20 anos e conta muitos causos da vizinhança de uma humilde família da periferia, habitante de uma cidade que fica no limbo entre capital e interior e cujos membros trabalham em fábricas transnacionais. Com os demais habitantes da localidade, eles reivindicam asfalto, legalização das terras, participam da associação de moradores, dançam forró, jogam bola na várzea, compram móveis nas Casas Bahia e conhecem os assassinados e os assassinos das páginas policiais dos jornais locais.

Talvez por tudo isso que eu tenha sentido vontade de chorar quando assisti a uma apresentação da Banda de Pífanos de Caruaru (foto), há alguns anos, em Suzano (escrevi sobre isso - leia aqui). A cantora paulistana (mas de raízes nordestinas) Cris Aflalo também fez um show na mesma ocasião. Isso misturou meus sentimentos paulista, nordestino, suburbano, suzanense, brasileiro e até mundial (principalmente após ter apreendido alguns conceitos de classe).

"Não sou brasileiro, não sou estrangeiro. Não sou de nenhum lugar, sou de lugar nenhum", escreveu Arnaldo Antunes, na letra da música "Lugar Nenhum". Sabiamente, ele disse só ter tido capacidade de escrever tais versos por ter nascido em São Paulo, uma cidade cheia de contrastes.

É assim que sinto o Nordeste em mim. Contraditoriamente, o Nordeste que conheço tão pouco é parte fundamental da minha constuituição como pessoa. Só sou como sou por ter nascido em Suzano, na nordestina Suzano.

Esse Nordeste é meu. Esse Nordeste é Suzano também.
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Metalinguagem: assim como o anterior, esse post foi bem ruminado.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Aniversário

Estou tentando escrever este post desde o início da semana. Por se tratar de algo extramente pessoal (temática pouco comum neste blog), exitei por alguns dias, mas agora está aí, vomitado e com um caráter de diário pessoal.

Domingo, dia 2 de agosto, foi meu aniversário.

Eu não gosto de aniversários. Sinceramente, fico com uma vontade muito forte de chorar e a confusão de sentimentos é intensa de tal forma que eu nunca sei qual é o motivo predominante para a queda das lágrimas.

Isso ocorre desde os meus 15 anos.

Neste 2009, a razão do choro é menos difusa.

A rotina de um trabalho alienante e tolhedor de potencialidades me deixa cada manhã mais triste. Pelo menos eu percebo mais claramente como se dão as relações desiguais de trabalho na sociedade capitalista (tão discutidas com amigos em repúblicas e mesas de bar). Porém, alegria individual não tem nada a ver com isso.

Aliás, os debates expressos entre os parênteses do parágrafo acima fazem mais falta do que tudo. A vida em uma cidade onde as amizades antigas não te contemplam mais, as discussões se limitam a futebol, falar mal do trabalho e necessidades fúteis de consumo me angustiam. É tudo muito diferente do ambiente universitário com o qual estive integrado durante 4 anos. Discussões e trocas de ideia, só no mundo virtual ou em raros encontros com grandes amigos, nos parcos sábados livres.

O meu alento fica nos livros, onde tento adquirir mais embasamento para a vida e para entender o que quero dela, quando não estou cansado por causa do trabalho. Só tenho certeza de que a rotina que levo atualmente não irá durar por muito tempo.

Se você, raro leitor, perguntar se eu me sinto decepcionado, digo que não, pois sempre soube que este ano seria difícil e que o trabalho para grupos de mídia tradicional não me estimularia nem um pouco. Mas não, não estou nada satisfeito.

Espero, pelo menos, que essa fase ruim valha como experiência para sedimentar minhas convicções a fim de que as ações futuras sejam mais condizentes com os pensamentos que possuo.

Enquanto esse tempo não chega, aos 24 anos, sinto-me com 34.
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Metalinguagem: o primeiro parágrafo contempla esta seção.