Mercy Zidane: fevereiro 2009

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Rápido comentário sobre a desinformação da mídia

Hoje de manhã eu estava ouvindo a rádio Jovem Pan enquanto tomava banho. O assunto era a destinação de verbas públicas para programas envolvendo reforma agrária.

O comentarista da rádio (cujo nome me fugiu neste instante) descia o cacete em Lula, pois neste segundo mandato, o presidente triplicou a quantia de dinheiro repassado a assosicações como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que não pensam duas vezes para "ferir a ordem", ainda por cima com verba vinda "dos impostos da população que trabalha honestamente". O velho discursinho.

O nobre comentarista se esqueceu de dizer que faz algum tempo que João Pedro Stédile (foto), membro da direção nacional do movimento social, brada aos quatro ventos que Lula é um traidor, pois privilegia o agronegócio e não destinou quase nenhum recurso para a reforma agrária em seu primeiro mandato (talvez por isso a facilidade em triplicar a verba).

É engraçado como a maior parte da mídia ainda tenta pintar Luiz Inácio como uma ameaça de esquerda, mesmo fazendo um governo tão bom para os bancos, empresas e poderosos em geral.
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Metalinguagem:
o MST passa por diversas contradições internas, até mesmo estruturalmente, mas é o movimento social brasileiro mais importante neste momento - talvez esse tenha sido o principal motivo do post.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O bom filho à casa torna... mas com outros olhos e ideias

Foto de uma rua de Suzano, na época da eleição - tirei-a para um ensaio na faculdade

Se você pegar o mapa do Estado de São Paulo e localizar a capital, vai verificar que colado à Zona Leste da metrópole, existe um punhado de cidades (dez, para ser mais exato) que forma a região do Alto Tietê.

Eu nasci numa dessas cidades, Suzano, onde vivi os 19 primeiros anos da minha vida.

E foi justamente levando o nome dessa terra (meu apelido na época de faculdade foi "Suzano") que passei quatro anos estudando jornalismo na Unesp de Bauru. Quatro anos bem mais intensos,em todos os sentidos, do que os 19 que havia vivido na cidade homônima a minha alcunha.

Terminado o curso, voltei para casa pensando em não ficar. Mas algo importante para um desempregado (um emprego) me ligou novamente a Suzano e à toda Região. Tornei-me repóter da editoria de cidades do jornal Diário do Alto Tietê há pouco mais de um mês.

Sempre reneguei minha cidade e o Alto Tietê. Certamente por ter aprendido muita coisa em Bauru que me fez romper com padrões que eu tive como inquestionáveis durante minha formação inicial.

Mas agora, com o (ralo, mas precioso) caldo cultural adquirido na academia, consigo lançar outros olhares sobre essa região cheia de conurbações, cidades dormitório, fios de telefone que cortam as ruas (quase sempre estreitas), muitas favelas, muitas fábricas, muito cheiro ruim exalado das fábricas, muitos migrantes do Nordeste, muita miscigenação cultural, muita politicagem - todo esse "monte de muitos" a apenas 40 minutos de São Paulo.

Com o trabalho de repórter passo a conhecer um pouco mais de tudo isso... o que pode gerar vivência para fazer coisas pelas quais me interesso (jornais populares, documentários, reportagens) e que não existem por aqui, principalmente em se tratando de algo que sirva de base para as camadas populares pensarem de outra forma, algo com conteúdo crítico.

Em resumo, revisito com outros olhos a base da minha formação identitária , e com instrumentos para tentar mostrar o quão anormal são as coisas normais que acontecem por aqui. Espero que consiga fazê-los funcionar a médio prazo.
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Metalinguagem: acho que é bom para os raros leitores deste blog saberem que estou trabalhando, pois como disse o Max, grande professor que tive na faculdade, a profissão é a espinha dorsal da vida.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O cutucão de Glauber



Primeira parte do curta "Di-Glauber"

Acabo de assistir a um filme que há muito tinha baixado em meu computador: "Glauber - Labirinto do Brasil", um documentário sobre a vida artística explosiva de Glauber Rocha, um dos mais consagrados cineastas mundiais.

Creio que só assisti a dois filmes do dito cujo: Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe. Apesar de instigantes, os dois são muito densos, difíceis, metafóricos. É necessário pensar e discutir muito para chegar a alguma conclusão sobre as obras (coisa que não estamos acostumados a fazer com os filmes comerciais, diga-se de passagem).

Mas o que me chamou atenção na vida do cara foi uma certa magalomania que permeia todas as fases de sua história. Às vezes parece bom, porque Glauber tinha tanta certeza de estar fazendo a coisa certa em suas atitudes, em seus projetos, que acabava convencendo todos a sua volta de que determinada empreitada era realmente muito grandiosa.

Por outro lado, idéias estapafúrdias lotadas de concertezismo também tiveram ressonância na cabeça do cineasta, um artista que se dizia revolucionário, mas que chegou a acreditar que o governo do general Figueiredo, no final da ditadura militar, caminhava para o socialismo.

Mesmo com pensamentos contraditórios e megalomaníacos, Glauber me cutucou. De tanto se afirmar, ele te faz pensar se você realmente está fazendo algo que gosta e que acredita ser importante. É como se ele dissesse: fiz um filme revolucionário com 24 anos de idade, e você? O que você vai fazer para concretizar o que você acredita?



Para responder a Glauber, preciso pensar muito. Já tenho planos, mas é necessária uma lapidação. Algumas coisas em comum, como a questão da comunicação e de rompimento com o "imperialismo" de que Glauber tanto fala estão em meus planos; mas outras, como o estreitamento maior com a questão popular, algo que o cinema-poesia do cineasta baiano não conseguiu fazer, fazem parte da espinha dorsal do que eu quero para a minha vida.

Espero relatar mais detalhes de tais planos em breve, mas para isso, é preciso pensar muito, além de estudar em dobro.
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Metalinguagem: post relâmpago, escrito em 5 minutos. O filme Di-Glauber foi feito no enterro do artista plástico Di Cavalcanti e ganhou prêmios internacionais de cinema, mas sua exibição foi proibida pela família do pintor.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Homofobia e o Futebol


Li hoje na Folha que a diretoria do Corinthians está furiosa com o São Paulo. A razão é ainda o episódio dos 10% de ingressos, que ganhou mais lenha na fogueira após mais uma lamentável pancadaria ao fim do jogo que envolveu torcedores corintianos e a Polícia Militar, com mais de uma dezena de feridos (e que venha a Copa de 2014!).

Sedento de vingança, o recém reeleito presidente corintiano, André Sanchez, já pensa na retaliação. E qual a brilhante ideia? Imprimir os ingressos destinados à torcida do São Paulo em um próximo jogo entre as duas equipes na cor rosa, com a nobilíssima intenção de provocar a masculinidade dos são-paulinos.

Desde que entrei na faculdade e entrei em contato com diversas discussões, entre elas a opressão às minorias, comecei a rever alguns conceitos. Posso dizer que um deles é a homofobia.

Considero hoje que fazer piadas, insultos ou desqualificações recorrendo à orientação sexual do individuo se caracteriza como uma das formas de opressão mais violentas. É tão bizarro quanto ser racista.

Pra não parecer bairrista e criticar só o lado de lá, lembro que a Torcida Independente também já deu mostras de seu primitivismo no tema, quando, segundo Juca Kfouri, deixava de cantar o nome de apenas um único jogador do time, o de Richarlyson, que usualmente é apontado como sendo homossexual.

É por essa e outras que também venho fazer coro à Fernando Gallo, que nesse texto aqui propõe que os são-paulinos adotem a figura do Bambi como mascote do time. Seria uma saída com ares de superioridade, colocando aqueles que lançam uso da associação com o homossexualismo para provocação como os retrógrados e ignorantes da vez. Além, é claro, de agregar grandes forças no combate à homofobia.

Preto, japonês, prostituta, judeu, arábe, gay. E daí?

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PS1: Além de Juca Kfouri, outro jornalista esportivo que merece menção quanto à postura em relação ao tema é Celso Cardoso, comentarista da Tv Gazeta, que por diversas vezes teve que contemporizar as insinuações homofóbicas de Chico Lang a respeito de Richarlyson.

PS2: Aliás, a FIFA, que vem incentivando campanhas contra o racismo, já deveria começar a pensar em fazer o mesmo em relação à homofobia.


PS3: Blog mais homofóbico e preconceituoso do mundo: Kibe Loco. Um exemplo de humor preconceituoso de quinta categoria. Esse Tabet, mantenedor do blog, deveria ser processado (se é que já não está sendo).
PS4: Leia este post aqui, tirado do LLL, para ver que, sim, é possível praticar um humor refinado e preconceituoso. Basta ser inteligente.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Rápidas impressões sobre Manu Chao em São Paulo



Depois de voltar do maravilhoso fim de semana em Bauru (o da minha colação e formatura) e estar meio quebrado por ter dormido muito pouco (cerca de 7 horas em 2 dias), eu encarei uma viagem a São Paulo depois do trabalho para ver meu primeiro show internacional de grande porte de um artista não anglo saxão: Manu Chao.

O cara realmente tem muita energia. Não parou de pular por um minuto. E olha que em muitos momentos o show teve um ritmo frenético, digno de uma banda de hard-core.

As músicas do último álbum, La Radiolina (mais pesado que os dois anteriores), deram a tônica de tal modo que influenciaram até as músicas mais antigas. Destaque para algumas letras, em que a sensibilidade se mistura com problemas sociais comuns a países latinos.

Algumas vezes a batida "punk" ficou meio chata e cansativa, mas eu realmente admiro artistas que conseguem fazer arranjos diferentes e mudar músicas já consagradas. Melhor arriscar do que ficar sempre na mesmice.
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Metalinguagem: não quis fazer uma grande crítica sobre todo o show, apenas deixar um registro sobre minhas principais impressões. Mas reitero: foi muito bom!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

De volta a Bauru... por três dias

Há pouco mais de um mês eu estava escrevendo um post sobre algo bem emblemático para mim durante a faculdade (o Jornal doFerradura).

Nessa ocasião, escrevi o post de um hotel, na cidade em que morei por 4 anos. Eu fui o último a deixar o calor bauruense e estava me sentindo bem estranho...

Agora eu vou voltar a Bauru, rever todos os amigos dos quais sinto muita falta, mas sabendo que "as aulas não voltam mais".

Será o ponto final na nostalgia que percorreu todo o ano de 2008? Ou apenas o começo dela?
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Metalinguagem: post apenas para constar, mas fazia tempo que não falava de algo puramente "pessoal".

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O caso da Vila Ipelândia

Na semana passada, visitei um lugar chamado Vila Ipelândia. Um bairro da periferia de Suzano, onde eu nunca tinha ido, mesmo tendo morado aqui por 19 dos meus 23 anos.

A parte pobre da Vila Ipelândia é uma favela, mas tem casas de alvenaria, hortas e as ruas, apesar de serem de terra, parecem terraplanadas.

Acontece que, justamente nessa parte pobre do bairro, planejava-se fazer uma represa (a de Taiaçupeba) há muito tempo (cerca de 30 ou 40 anos), na época em que ninguém morava lá ainda. Mas como não começavam a construir essa represa nunca, quem tinha pouco dinheiro e nenhum lugar para morar foi para lá, comprando escrituras falsas ou ocupando a terra. Alguns com o pé atrás, outros nem sabiam do possível risco. Enfim, construíram casas de alvenaria, com muita economia e sofrimento, como a Dona Maria dos Santos, com quem tive o prazer de conversar.

Acontece que o governo do Estado resolveu transformar a lenda em realidade. Declarou que a terra já estava destinada a ser represa, era lugar de manancial e deu a ordem de despejo. Os moradores tiveram duas opções: mudarem-se para um prédio do CDHU no outro lado da cidade ou aceitar 10 salários mínimos, cerca de 4.500 reais para arranjar uma outra casa para alugar.

Uns moradores acharam bom, é verdade. Pois moravam em barracos e agora vão morar em apartamentos. Mas não são todos que podem desfrutar desse recurso (é preciso ser casado, maior de 35 anos, etc.), sem contar que muitos já criaram raízes no local. Dona Geni Clemente, que tinha construído uma casa de alvenaria, gastou 35 mil reais na obra. Agora vai se mudar para um prédio, que tem o valor de 40 mil, mas vai ter que pagar prestações e não poderá mais plantar em sua horta.

Depois de ter visitado as casas da Vila Ipelândia e os apartamentos do CDHU, é possível fazer mil análises e divagações, mas gostaria apenas de relatar o óbvio, já que muitas vezes se esquece dele: se fossem ricos que morassem ali, não importaria se a área fosse de manancial ou se uma represa estivesse pronta para ser construída, não importaria nada... eles conseguiriam mudar tudo a seu bel prazer...

...mas são pobres, portanto, se fodem.
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Metalinguagem: sobre esse assunto, penso em mandar emeio ao Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) relatando o caso da Vila Ipelândia, para ver se eles conseguem fazer algum contato com o pessoal, mostranto que tudo isso não deveria ser encarado como normal.