O adeus ao Ferradura

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O adeus ao Ferradura

Em um semestre de tantas despedidas, o mês de dezembro foi, sem dúvida, o mais recheado delas.

Nos divertimos muito indo a bares, fazendo passeios alternativos (Pavuna, caixa d'água) e conversando, ao perceber e declarar nosso amor aos amigos que fizemos ao longo desses quatro anos de intensa vida universitária.

Bom, e o projeto mais importante da minha faculdade foi o Jornal do Ferradura, publicação comunitária (sem entrar no mérito do conceito) voltada aos moradores do bairro mais pobre da cidade de Bauru: o Ferradura. Ele também mereceu uma despedida.

(foto do time de futebol do bairro, tirada quando fiz minha primeira matéria, em 2007) 

A idéia do jornal surgiu em 2006, mas a primeira edição só saiu em 2007, no mês maio. De lá para cá passamos por empolgações, discussões, crises, desistências, reformulações (tanto editoriais, quanto de pessoal)... Mas o jornal nunca deixou de ser produzido.

O fato é que foi muito, muito importante para a minha formação ter feito parte desse dessa equipe.

Para fechar o ciclo, eu e a Marjorie (dois dos fundadores da publicação) fomos ajudar o Gabriel e a Regina a entregarem a última edição do ano no bairro, isso há uma semana.

Eu fui andando pelas ruas de terra do Ferradura e tudo foi passando como num filme, para variar... Lembrei-me de matérias, encontrei pessoas muito legais, como Flavinho, Paulinho e Seu Vicente, que nos agradeceram e nos desejaram boa sorte em nossa caminhada.
(uma das ruas que cortam o Ferradura, na foto à direita) 

Mas teve uma cena que me marcou e acho que vou levá-la para sempre em minha vida: uma menininha de uns 2 anos apareceu num dos lugares mais pobres do bairro e sorriu para mim e para a Marjorie. A menina, que era linda, estava toda suja e tinha moscas e formigas andando em seu rostinho. Ficou ali parada, bem perto do esgoto,em frente a sua casa, vendo a gente ir embora para terminar a entrega de jornais.

Por mais clichê que isso soe, pensar que existem milhões de menininhas como essa espalhadas pelo mundo por causa de um maldito sistema é revoltante... Mas dá estímulo para seguir em frente.

Muitos questionam a comunicação comunitária ideologicamente. Ainda acredito que os meios de comunicação, apesar de não "formarem" questionadores do sistema, podem abrir caminhos para que haja propagação de pensamentos para uma sociedade igualitária, que coligados com partidos ou movimentos sociais, podem sim formar questionadores.

O projeto vai continuar em 2009 e, trabalhando com o Grupo de Estudos de Comunicação Comunitária, tentará ser mais efetivo em todos os sentidos possíveis.

Obrigado a todos do Ferradura por me fazerem enxergar melhor o que sempre é dito na teoria; por me fazerem ver as potencialidades do ser humano independentemente de sua classe social, por me fazerem ver inteligência exalando de pessoas com pouquíssimo estudo.

Obrigado.
_________________________
Metalinguagem: post feito em Bauru, no meu último dia nessa cidade. Acabo de entregar as chaves da minha casa com muita tristeza e saudade.