O caso da Vila Ipelândia

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O caso da Vila Ipelândia

Na semana passada, visitei um lugar chamado Vila Ipelândia. Um bairro da periferia de Suzano, onde eu nunca tinha ido, mesmo tendo morado aqui por 19 dos meus 23 anos.

A parte pobre da Vila Ipelândia é uma favela, mas tem casas de alvenaria, hortas e as ruas, apesar de serem de terra, parecem terraplanadas.

Acontece que, justamente nessa parte pobre do bairro, planejava-se fazer uma represa (a de Taiaçupeba) há muito tempo (cerca de 30 ou 40 anos), na época em que ninguém morava lá ainda. Mas como não começavam a construir essa represa nunca, quem tinha pouco dinheiro e nenhum lugar para morar foi para lá, comprando escrituras falsas ou ocupando a terra. Alguns com o pé atrás, outros nem sabiam do possível risco. Enfim, construíram casas de alvenaria, com muita economia e sofrimento, como a Dona Maria dos Santos, com quem tive o prazer de conversar.

Acontece que o governo do Estado resolveu transformar a lenda em realidade. Declarou que a terra já estava destinada a ser represa, era lugar de manancial e deu a ordem de despejo. Os moradores tiveram duas opções: mudarem-se para um prédio do CDHU no outro lado da cidade ou aceitar 10 salários mínimos, cerca de 4.500 reais para arranjar uma outra casa para alugar.

Uns moradores acharam bom, é verdade. Pois moravam em barracos e agora vão morar em apartamentos. Mas não são todos que podem desfrutar desse recurso (é preciso ser casado, maior de 35 anos, etc.), sem contar que muitos já criaram raízes no local. Dona Geni Clemente, que tinha construído uma casa de alvenaria, gastou 35 mil reais na obra. Agora vai se mudar para um prédio, que tem o valor de 40 mil, mas vai ter que pagar prestações e não poderá mais plantar em sua horta.

Depois de ter visitado as casas da Vila Ipelândia e os apartamentos do CDHU, é possível fazer mil análises e divagações, mas gostaria apenas de relatar o óbvio, já que muitas vezes se esquece dele: se fossem ricos que morassem ali, não importaria se a área fosse de manancial ou se uma represa estivesse pronta para ser construída, não importaria nada... eles conseguiriam mudar tudo a seu bel prazer...

...mas são pobres, portanto, se fodem.
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Metalinguagem: sobre esse assunto, penso em mandar emeio ao Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) relatando o caso da Vila Ipelândia, para ver se eles conseguem fazer algum contato com o pessoal, mostranto que tudo isso não deveria ser encarado como normal.