Mercy Zidane: dezembro 2008

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Quatro anos depois

Em janeiro de 2005, eu fazia planos. Iria morar em São Paulo, estudaria jornalismo na PUC, frequentaria os jogos do meu clube de coração. Estaria bem situado no mercado de trabalho, com estágios desde cedo. Nem o câncer da Meg, minha gata, que a levaria do mundo 3 meses mais tarde, me impedia de fazer planos. E foi embalado nesse ideal que encarei com razoável indiferença o resultado de aprovação no vestibular da Unesp de Bauru. Afinal, "estudar jornalismo só se fosse em São Paulo".

Com a aval da minha mãe, partimos para a metrópole. Fiz a matrícula na PUC, vimos lugar pre'u morar, e nos apalavramos com a proprietária. Voltaríamos dali a dias para assinar o contrato. Estava praticamente tudo certo. Praticamente.

Eu, recém aprovado no vestibular.

Acontece que por essas reviravoltas da vida (mas que não foi tão reviravolta assim), aquele castelo de planos e ambições para os próximos anos que havia construído na minha mente de repente desabou. A responsável pela tal tragédia foi a notícia dada por minha mãe de que eu não iria mais para a PUC por uma razão bastante simples: grana. Mensalidade de 1000 reais somada às despesas de uma cidade como São Paulo pesariam no orçamento. E, além de tudo, eu havia sido aprovado na Unesp, uma universidade pública e gratuita...

Assim sendo, considerando todos os prós, contras e neutralidades, o aval inicial deixou de existir, e havia uma nova ordem de minha progenitora: teria que rumar pra Bauru, a cidade que não era São Paulo, que não ofereceria oportunidades de estágio, nem todas as infinitas opções de entretenimento e lazer que a capital paulistana oferece.

Confesso que chorei feito criança contrariada aqueles dias.


Rumava para Bauru, cidade cujo símbolo já foi isso aí

Mas como eu era um idiota. Posso fazer essa afirmação hoje, no primeiro dia de 2009, 4 anos após aquele divisor de águas, e com meus dias de faculdade findos. Não é preciso muita reflexão para ter a quase certeza de que jamais haveria de ter passado em São Paulo, onde o tempo é mais escasso e o pão custa mais caro, metade das experiências que gozei, desfrutei, senti e sofri em Bauru.

Imbuído da mentalidade de estágio a qualquer custo, é quase que certo que não teria me envolvido com o movimento estudantil nem com os projetos pedagógicos e de extensão na intensidade com a qual me envolvi na Unesp. Foram estes envolvimentos os responsáveis diretos pela visão de mundo que carrego comigo hoje, fundamental para um jornalista, no meu modo de ver.

É quase que certo também que em São Paulo não teria tido a mesma liberdade de lazer que tive em Bauru, pelo evidente motivo do alto custo das coisas. Teria bebido menos, saído menos, dado menos risada.

E muito provavelmente também não teria conhecido o Russo.

Este é Russo

Foram justamente as pessoas que conheci o maior tesouro que trago comigo daquelas vastas terras do cerrado. Com algumas das quais construí laços tão sólidos que tenho certeza que ficarão por muito tempo ainda presos. Só de pensar nas conversas, discussões, viagens, músicas tocadas, trabalhos realizados e, principalmente, risadas, as quais tive o prazer de compartilhar com alguns loucos e doentes, só de pensar nisso já me fica claro que são momentos que não voltarão mais.

4 anos dessa convivência fizeram dos meus últimos dias em Bauru mágicos. Mágicos pela única razão de sentir que nos derradeiros momentos até a despedida de todos da cidade, uma espécie de espírito coletivo em comum tomou conta de nosso círculo de amigos. Procurávamos a todo momento estar juntos, fazendo coisas que nunca fizeramos antes. E no abraço de adeus (ou melhor, do "até breve"), lágrimas verdadeiras. Como já disse nesse blog outro dia, o sentimento não era de tristeza nem de felicidade, mas de algo diferente.

Me considero extremamente um cara de sorte por ter seguido pelo Caminho Bauru.
Eu, hoje.

Agora cá estou de volta à Rio Claro. Com o plano de ficar 6 meses por aqui, pra tratar decentemente de uma labirintite crônica que me molesta há 2 anos, e que ninguém sabe direito o que é. Voltar pra casa da mãe me dá uma sensação de passo pra trás, confesso, mas, como diria minha vó, "às vezes precisamos dar um passo pra trás pra dar dois à frente".

E segue a vida.

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PS: Postagem dedica aos amigos que fiz em Bauru, aos quais só tenho a agradecer.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Balanço 2008

Assim como as despedidas, eu, Alberto, acho que os balanços são necessários.

Mesmo que o meu balanço de 2008 se resuma, de grosso modo, a um punhado de despedidas.

Por ser o meu último ano de faculdade (jornalismo em Bauru), ele representou uma tentativa de evitar o inevitável, não que isso seja necessariamente ruim. Foi um pouco, mas teve muita coisa boa.

O problema é essa sensação de que temos que aproveitar porque já já vai acabar.

Enfim, vamos ao que interessa (se é que interessa). Em termos acadêmicos, as aulas foram pouco aproveitáveis (com uma notável excessão - disciplina de Psicologia) e confesso que alguns dos projetos dos quais participei não tiveram tanta graça (como a administração da rádio). Não por eu não gostar deles, mas por estar participando mais para que ocorresse uma continuidade, do que por prazer.

(foto da festa da entrega do TCC) Outros foram importantes por terem a ver com o que quero mexer na minha profissão de jornalista (comunicação alternativa), como o Raiz Social e o Ferradura. Não pude participar tão ativamente do Movimento Estudantil como queria, principalmente no fim do ano. Mas o foda foi fazer TCC ao mesmo tempo que todas as outras coisas. Porém, ele foi uma grande experiência na minha vida acadêmica - finalmente tive uma continuidade de leituras que me fizeram enxergar melhor lances como a comunicação alternativa.

Na vida pessoal, comecei a namorar à distância no começo do ano e parei de namorar no meio do ano, devido a uma viagem internacional da minha ex-namorada e grande amiga Tati. Foi triste, mas acabou me fazendo ficar mais próximo dos meus amigos. E fizemos muita coisa juntos. Entre as mais marcantes:
-Mutretas
-Ilha Solteira
-Pavuna
-Caixa D'Água
-Salomé e lugar proibido
-Grupo Clássico

Considero, como eu já esperava, que 2007 foi melhor que 2008. Fiz bastante coisa boa neste ano, mas não chega nem perto do turbilhão de tarefas, idéias e projetos de 2007. Claro que aproveitamos mais em termos de amizades, mas sempre pensando em TCC... foi meio tenso.

Agora as chaves estão entregues, a parede pintada e eu estou de volta a minha casa, mas pronto para sair a qualquer momento. O sentimento é o mesmo de quando eu estava indo para Bauru: vamos ver o que vai virar...

A diferença é que eu não tinha amizades tão fortes, das quais vou sentir imensa falta, que ajudaram a formar minha cabeça e a mantê-la aberta. Espero conseguir ganhar dinheiro mantendo meus princípios e me engajando cada vez mais politicamente, mas isso é assunto para outro post.

Bom ano novo.

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Metalinguagem: o foda de fazer balanços é que eles nunca são feitos no dia 31. Ou seja, acabamos desconsiderando que muitas alegrias e tristezas podem rolar na última semana do ano. Enfim, depois pretendo fazer um post com meus planos para 2009.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O adeus ao Ferradura

Em um semestre de tantas despedidas, o mês de dezembro foi, sem dúvida, o mais recheado delas.

Nos divertimos muito indo a bares, fazendo passeios alternativos (Pavuna, caixa d'água) e conversando, ao perceber e declarar nosso amor aos amigos que fizemos ao longo desses quatro anos de intensa vida universitária.

Bom, e o projeto mais importante da minha faculdade foi o Jornal do Ferradura, publicação comunitária (sem entrar no mérito do conceito) voltada aos moradores do bairro mais pobre da cidade de Bauru: o Ferradura. Ele também mereceu uma despedida.

(foto do time de futebol do bairro, tirada quando fiz minha primeira matéria, em 2007) 

A idéia do jornal surgiu em 2006, mas a primeira edição só saiu em 2007, no mês maio. De lá para cá passamos por empolgações, discussões, crises, desistências, reformulações (tanto editoriais, quanto de pessoal)... Mas o jornal nunca deixou de ser produzido.

O fato é que foi muito, muito importante para a minha formação ter feito parte desse dessa equipe.

Para fechar o ciclo, eu e a Marjorie (dois dos fundadores da publicação) fomos ajudar o Gabriel e a Regina a entregarem a última edição do ano no bairro, isso há uma semana.

Eu fui andando pelas ruas de terra do Ferradura e tudo foi passando como num filme, para variar... Lembrei-me de matérias, encontrei pessoas muito legais, como Flavinho, Paulinho e Seu Vicente, que nos agradeceram e nos desejaram boa sorte em nossa caminhada.
(uma das ruas que cortam o Ferradura, na foto à direita) 

Mas teve uma cena que me marcou e acho que vou levá-la para sempre em minha vida: uma menininha de uns 2 anos apareceu num dos lugares mais pobres do bairro e sorriu para mim e para a Marjorie. A menina, que era linda, estava toda suja e tinha moscas e formigas andando em seu rostinho. Ficou ali parada, bem perto do esgoto,em frente a sua casa, vendo a gente ir embora para terminar a entrega de jornais.

Por mais clichê que isso soe, pensar que existem milhões de menininhas como essa espalhadas pelo mundo por causa de um maldito sistema é revoltante... Mas dá estímulo para seguir em frente.

Muitos questionam a comunicação comunitária ideologicamente. Ainda acredito que os meios de comunicação, apesar de não "formarem" questionadores do sistema, podem abrir caminhos para que haja propagação de pensamentos para uma sociedade igualitária, que coligados com partidos ou movimentos sociais, podem sim formar questionadores.

O projeto vai continuar em 2009 e, trabalhando com o Grupo de Estudos de Comunicação Comunitária, tentará ser mais efetivo em todos os sentidos possíveis.

Obrigado a todos do Ferradura por me fazerem enxergar melhor o que sempre é dito na teoria; por me fazerem ver as potencialidades do ser humano independentemente de sua classe social, por me fazerem ver inteligência exalando de pessoas com pouquíssimo estudo.

Obrigado.
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Metalinguagem: post feito em Bauru, no meu último dia nessa cidade. Acabo de entregar as chaves da minha casa com muita tristeza e saudade.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Post piada interna

A minha banda favorita da época de adolescente, Oasis, lançou um novo disco há pouco, chamado Dig Out Your Soul (algo como "Desenterre sua Alma").

O Giul escreveu uma resenha sobre o disco. Em breve irei comentá-la, pois ouço o álbum freneticamente.

Mas fiz essa breve introdução para dizer que na primeira música do álbum, denominada Bag it Up, há os seguintes versinhos:

Someone tell me I'm dreaming (Alguém me diga que estou sonhando)
The freaks are rising up through the floor (Os loucos estão brotando do chão)
Nada de genial, realmente, mas fizeram muito, muito sentido para mim na última sexta-feira, depois de uma viagem que fiz com duas amigas.
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Metalinguagem: escolhi a foto de cima aleatoriamente, mas até que se parece com o capa do CD do Oasis (foto de baixo).

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

De novo

Juro que eu queria falar sobre outra coisa, afinal, eu e o Bulhões já estamos ficando um pouco redundantes com relação ao assunto fim do curso.

Mas não deu.

Acabamos de finalizar o último trabalho da faculdade: uma grande reportagem sobre a Luta Antimanicomial, feita, ou melhor, recauchutada, para a disciplina de Jornalismo Especilizado II (que de especilizado não tem nada).

Agora nos resta cerca de uma semana e meia, no máximo duas, para partirmos de Bauru.

Depois de termos que fazer trabalhos coxas para aulas coxas após o término do TCC, finalmente não teremos NADA para fazer durante esta semana.

Talvez seja a última semana de várzea do resto de nossas vidas. É necessário que ela seja histórica.

A nostaligia já bate e o carinho pelas pessoas mais próximas só aumenta.

Para entrar no clime nostálgico, um dos trabalhos mais engraçados que já fizemos na faculdade. Vai lá, Gaba!


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Metalinguagem: post feito às 3h da manhã. Amanhã preciso acordar às 8h30 para ir à última aula na Unesp, apenas para entregar o trabalho.