"Os manifestantes contra o caos aéreo que saíram do Monumento às Bandeiras por volta das 9h20 chegaram aproximadamente às 11h50 deste domingo (29) ao local onde o avião da TAM explodiu no dia 17 de julho.
Informalmente, policiais militares estimaram que houve concentração entre 4 mil e 5 mil pessoas. Oficialmente, porém, a Polícia Militar não estimou o número de participantes. Ao chegar ao local, os manifestantes rezaram o "Pai Nosso", fizeram dois minutos de silêncio, aplaudiram e cantaram o Hino Nacional. "
É claro que um acidente de avião em que morre todo mundo é coisa tristíssima. Explosão, destruição, desencarnação em massa, musiquinha do plantão da Globo, tudo de uma vez só. O que mais consterna é a penúria dos familiares das vítimas. Não me sai da cabeça a cena de uma mãe que, após receber a notícia de que no fatídico vôo estavam suas filhas, desabou em prantos.
Também não me sai da cabeça o William Waack, com rapidez de dar inveja a Sherlock Holmes, concluindo a investigação sobre o acidente, cerca de 5 horas depois da tragédia. “A crise aérea provoca sua primeira tragédia”. Ah, claro, o acidente da TAM foi provocado pela operação padrão dos controladores de vôo. Investigar caixa-preta pra quê?
É nesse contexto - entre a amargura da perda de amigos e familiares, e a malhação-de-judas orquestrada pela grande mídia ao governo federal - que hoje manifestantes foram às ruas protestar contra o caos aéreo, gritar “Fora Lula” e homenagear os mortos no acidente da TAM.
Não sou contra a manifestação, muitíssimo pelo contrário. Se fosse o meu pai no vôo ou até mesmo o Suzano, eu também teria ido. Sou totalmente a favor de mobilização sociais que protestem contra falhas no sistema, e contra (falta de) medidas de governantes.
Como não poderia deixar de ser, a grande mídia estava lá. Se desde agora tarde, sites dos Globos, Folhas e Uols da vida já bombam com notícias sobre a manifestação, imagino a repercussão no Fantástico e Jornal Nacional.
Pois bem.
Li ontem, na Caros Amigos de Junho, uma baita de uma reportagem, assinada por João de Barros, sobre a ocupação de um terreno de propriedade privada, em Itapecerica da Serra, região da Grande São Paulo. Organizada pelo Movimento dos Sem-Teto, a ocupação durou 2 meses, de Março a Maio. No terreno ocupado (ou invadido, como queiram), foram erguidos centenas de barracos.
Não foi uma ocupação qualquer. Segundo a matéria, em seu auge, a ocupação abrigou 10 mil pessoas, reuniu 5 mil manifestantes em protesto rumo à sede do Governo do Estado, e, no fim, terminou na operação de reintegração de posse feita por 700 policiais.
Eram pessoas que não têm onde morar (imagina o que não passam nessa época de frio paulistano) se mobilizando.
“Caralho, Suzano, você ficou sabendo dessa ocupação?”, perguntei para o meu companheiro de blog, enquanto lia a matéria. “A parada foi grande e durou bastante, e só agora to sabendo”. E, logo eu, um estudante de jornalismo conectado na internet o dia inteiro.
É claro que algo de errado acontece com a grande mídia de nosso país. Enquanto órfãos e viúvos endinheirados vão às ruas protestar, sob as lentes das câmeras de última geração dos canais de TV, um movimento composto por pobres e miseráveis, que não tem um teto para se proteger do frio, é noticiado por apenas uma revista de 48 mil exemplares.
O que só serve pra fazer a ratificação cotidiana de que, para a classe econômica dominante brasileira, quem é pobre está situado em algum lugar entre o Homem de Neandertal e o Homo Sapiens
Protesto leva milhares ao local do acidente com avião da TAM
Acidente uma ova