Redes sociais, fragmentos e contrapontos

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Redes sociais, fragmentos e contrapontos


Um vez, faz um tempinho, eu escrevi sobre o Twitter, dizendo que ele é um reflexo de nosso tempo: uma ferramenta ágil e superficial - mas que, claro, possui pontos positivos. Tenho muitos amigos que usam e dizem que serve como um grande selecionador de artigos e notícias. E mesmo se não servisse para nada de "útil", todo mundo tem o direito de gastar seu tempo livre como bem quiser.

Mas e a grande rede social hegemônica que desbancou a soberania então inquestionável do Orkut no Brasil? O Facebook, se você for para para pensar, não é muito diferente disso. Tem uma linha do tempo com milhares de postagens de centenas de pessoas diferentes - e poucas delas, imagino eu, passam de 140 caracteres. Quando ultrapassam esse número, é bem provável que o alcance diminua. Há muitas fotos (a rede está cada vez mais dando prioridade às imagens), links (esses sim com artigos e matérias que podem ser mais desenvolvidos) e um espaço também crescente para vídeos. Resumindo, é um emaranhado de fragmentos de onde é possível pinçar coisas legais depois de gastar bastante tempo girando a rodinha do mouse.

E excluindo o fator essencial do Facebook  (o seu aspecto de rede), é possível traçar uma analogia dessa ferramenta com uma mais informativa e que está rareando: o jornal impresso. Ele tem como premissa básica "botar ordem" no caos do mundo e, para isso, fala um pouquinho sobre cada coisa. Esse pouquinho era bem maior até a década de 60, aqui no Brasil. O leitor se deparava com imensos blocos de texto logo nas capas e as matérias tinham tons opinativos mais fortes. O padrão do jornalismo estadunidense "objetivo" e "imparcial" do pós-guerra (com muitas aspas porque não existe objetividade e imparcialidade no jornalismo) passou a imperar a partir de então e as portas foram se abrindo cada vez mais para fotos, ilustrações e design em geral. E os textos foram ficando menores.

Fomos seduzidos pelas imagens e pelas lindas curvas do design. Por quê? Porque elas são informativas também e já nos dão boa ou má impressão de algum conteúdo mesmo que não tenha havido contato nenhum com ele. Elas são como um cartão de visitas sobre o que será discutido. Às vezes precisamos fingir que a diagramação não está tão ruim e ter força de vontade para ler um texto de alguém que você sabe que tem bom conteúdo, mas que subvaloriza a informação "imagética".

Por que o cérebro do ocidental (será que é só do ocidental?) funciona assim? Acho que tem a ver com a vida na sociedade moderna, com a correria das grandes cidades, com a falta de incentivo à reflexão de uma sociedade cujo objetivo principal de quem tá lá no alto é só reproduzir o que já existe e embolsar mais lucro, mas também penso que se a sociedade fosse diferente e mais reflexiva, com maior participação de todos sobre as decisões fundamentais, certamente haveria discussão e muito estudo sobre o poder das imagens e do design. Não dá para fazer a oposição simples conteúdo (profundo) x forma (superficial), já que há complementariedade na relação e existem formas profundas e conteúdos superficiais.

E se o grande problema das redes sociais é a captura de informações pessoais e a falta de privacidade, por outro lado, elas possibilitam, a partir do domínio de algumas técnicas, criar contrapontos de debate e de concepções da realidade que não estão no mainstream, vide a organização dos protestos brasileiros de junho de 2013, canais de música independente e até políticos, como o do humorista carioca Rafucko.

Pois bem, por tudo isso e porque tô tentando levar meu blog mais a sério, lanço hoje a página do Mercy Zidane no Facebook. Lá, vou tentar contribuir pra esse contraponto com as caraminholas que penso por aqui e também com outros conteúdos de blogs amigos que eu ache legal .Copio o Chespirito em sua primeira postagem no Twitter (ele tinha 82 e eu tenho 28): sigam-me os bons!