Um poema fodido de Pessoa

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Um poema fodido de Pessoa

Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, esse licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo

Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.

Na primeira página do livro "Ficções do Interlúdio/4 - Poemas de Álvaro de Campos". Não há título.
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Metalinguagem: tenho pensado bastante sobre isso.