2009 para o Palmeiras: o ano do quase

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

2009 para o Palmeiras: o ano do quase

A temporada 2009 acabou e o meu time de coração, o Palmeiras, mais uma vez, não ganhou nada.
Inspirado no post do Disparada sobre o fracassado elenco são-paulino, escrevo este texto. O objetivo é traçar as evoluções e dificuldades do Verdão ao longo de 2009, para depois emitir minha opinião a respeito dos mercenários (com exceção de São Marcos) que vestem o manto sagrado (assim como o Bulhões fez com os tricolores).

Vamos lá. Em 2008, após o título paulista e o quarto lugar no Brasileirão, o então técnico Vanderlei Luxemburgo resolveu dispensar medalhões, que estavam fazendo corpo mole e teriam seus vínculos finalizados em breve, para contratar jovens promessas que poderiam render altas cifras à Traffic (empresa que investe no Palmeiras) num futuro próximo. Desta forma, Denílson, Élder Granja, Leandro, Martinez, Roque Júnior, Alex Mineiro e Léo Lima foram para o olho da rua e não fizeram a menor falta. O mesmo eu não posso dizer sobre Kléber e Gustavo (até hoje não entendi o motivo de sua dispensa). 

A reformulação foi tão grande que a torcida organizou protestos na reapresentação do time. Os jogadores que chegavam eram praticamente desconhecidos (Cleiton Xavier, Willians, Armero, Danilo, Maurício Ramos, Marquinhos). Mas as mudanças afetaram o estilo de jogo da equipe, que passou a ter como principal arma a velocidade, com ênfase nas descidas ao ataque do lateral-esquerdo Armero, nos dribles de Willians e nos toques ligeiros de Cleiton Xavier. A chegada do matador e futuro traidor Keirrison (foto, ao lado de Diego Souza) era a cereja do bolo alviverde. Nos primeiros meses de 2009, o Verdão jogava o melhor futebol do Brasil. 

Eis que o time começou a apresentar deficiências no setor em que Luxemburgo e o Palmeiras menos investiram: a defesa. Os bons zagueiros Danilo e Maurício Ramos (que, na minha opinião, têm qualidade técnica inferior à do ex-palmeirense Gustavo, contratado pelo Cruzeiro) ainda não estavam entrosados e o péssimo volante/zagueiro Edmílson começava a entregar alguns jogos. Assim, apesar da classificação em primeiro lugar no Paulista, sofremos para chegar às oitavas da Libertadores, quando São Marcos salvou de novo, pegando três pênaltis contra o Sport. Nas quartas, o corpo mole de Keirrisson e a forma física ainda não ideal de Obina se faziam evidentes. Naufragamos, mas pelas expectativas iniciais até que fomos bem longe. O abatimento resultou na eliminação do Paulistão, em derrota frente ao Santos. A sensação era de que o time ainda não estava maduro.

O Brasileirão começa e a equipe empata alguns jogos, ganha outros, mas não empolga. Os problemas defensivos persistiam, tanto no 3-5-2, quanto no 4-4-2. Quando caminhávamos para mais uma campanha medíocre, Keirrisson, o grande traidor, é pivô da demissão de Luxemburgo. De uma hora para outra, o Palmeiras perdia seu principal artilheiro (24 gols em 35 jogos, vendido para o Barcelona) e o técnico que fizera todo o planejamento para o decorrer do ano.

Contrariando a lógica, foi aí que o time voltou a jogar bem. O interino Jorginho mostrou sua capacidade ao escalar a equipe de acordo com a formação inicial do adversário. Acertou ao colocar Obina e Ortigoza juntos contra o Avaí; ao posicionar Diego Souza mais à frente e escalar Ortigoza como único atacante na vitória contra o Flamengo; ao entrar com três volantes e anular o meio campo adversário nos 3x0 contra o Corinthians. A defesa parecia mais confiante. O Palmeiras atingiu a marca de 12 jogos sem derrota (que veio contra o Goiás, fora de casa, e com forte ajuda da arbitragem).

De um time sem muitas pretensões no Brasileiro, o Palmeiras passou a ser o grande candidato ao título, principalmente com a chegada de Muricy Ramalho (foto). O ex-são paulino implantou um ferrolho, jogando sempre com três volantes (mesmo em partidas no Palestra). A defesa se solidificou de vez e, apesar dos resultados magros e do futebol nada empolgante, o time chegou à primeira posição.

Quando parecia não haver modos de melhorar as condições para a conquista do campeonato, a diretoria, além de garantir a permanência de todos os jogadores até o fim da temporada, contratou o medalhão e ídolo da torcida, Vágner Love. Com um atacante de alto nível para substituir Keirrison, o título parecia próximo. Pela segunda vez no ano, o Palmeiras apresentava o melhor futebol do Brasil (não era um jogo de encher os olhos, como no primeiro semestre, mas muito eficiente). As vitórias fora de casa contra Cruzeiro e Santos fizeram os palmeirenses crer que o jejum de grandes conquistas estaria se encerrando.

Aí fomos surpreendidos novamente, justo na reta final do torneio. Três contusões e duas convocações fizeram com que o Palmeiras passasse a jogar um futebol extremamente medíocre, digno de times pequenos. O cão de guarda Pierre (fora por 12 jogos), que teve um grave problema no tornozelo, não foi o principal desfalque, já que tínhamos volantes substitutos à altura (Sandro Silva e Souza). O bicho pegou mesmo com a saída de Cleiton Xavier (por 5 jogos), que foi convocado para a seleção brasileira e, na sequencia, se machucou. Líder em assistências no campeonato, Xavier deixou o ataque órfão. Diego Souza, que não é especialista em armar jogadas (é praticamente um atacante mais recuado), ficou sobrecarregado, além de ter voltado da seleção muito mal. A perda de Maurício Ramos (por 10 jogos) na defesa foi (talvez) a mais sentida pelo conjunto do grupo. Não tínhamos zagueiros do mesmo nível para fazer a reposição. Lembremos que Maurício já estava entrosado com Danilo, formando uma das defesas menos vazadas da competição. Quem seria o substituto? O lento e pouco inteligente Marcão? O inexperiente Maurício Santos? O "se acha o melhor do mundo, mas é uma merda" Edmílson?

A zaga começou a vacilar muito e o meio campo não conseguia criar jogadas para o ataque. Muricy tentou voltar aos três zagueiros, mas não teve jeito. Vagner Love, na ânsia de resolver tudo sozinho, pouco fazia. A pressão por um título importante mexeu com a cabeça dos jogadores, que começaram a jogar de forma ainda mais medíocre. O final da história, todos sabem: briga entre jogadores do elenco (foto) e revolta da torcida. De virtual campeão brasileiro, o Palmeiras não chegou sequer a conseguir a vaga para a competição sul-americana mais importante.

Ficamos no quase, mas não, 2009 não foi um ano perdido. A base montada nesta temporada é boa e jovem, o técnico palestrino é experiente, campeão e sabe trabalhar a longo prazo. A equipe figurou, por quase todo o ano, como uma das melhores do Brasil. O trabalho não deve ser jogado no lixo. A lição que fica, apesar de óbvia, é que o elenco precisa se fortalecer. A diretoria do Palmeiras pensou que os reservas atuais dariam para o gasto, mas suas limitações só foram notadas na hora da necessidade. Mesmo atuando com um futebol pragmático, Muricy sabe da importância de uma uma defesa sólida. O time já tem bons atacantes, o que falta são defensores e armadores. Com mais dois zagueiros bons (podem até ser reservas), um meia de qualidade e um lateral-esquerdo que substitua o Armero sem comprometer, o Palmeiras será um dos concorrentes fortes aos títulos Paulista, da Copa do Brasil, da Sul-americana e do Brasileirão, em 2010.

Ah, e não custa nada contratar um psicólogo para o caso de os jogadores sentirem a pressão na reta final novamente.

Abaixo, uma breve análise do elenco (se você ainda tiver saco para ler). Os nomes em verde são para jogadores que devem continuar.

Marcos: continua fazendo milagres, apesar de estar velho. As falhas, principalmente em saídas estabanadas aumentaram.
Figueroa: o melhor lateral-direito aliviverde desde Arce. Aposto em uma grande temporada do chileno em 2010.
Maurício Ramos: é bom zagueiro. Foi um tanto atabalhoado no jogo contra o Botafogo (poderia ter evitado o segundo gol dos cariocas). Mesmo assim, jogou grandes partidas em 2009, como na vitória contra o Sport, na Ilha do Retiro, na primeira fase da Libertadores.
Danilo: é o melhor zagueiro do Palmeiras. Tem mais tranquilidade (não vai seco nas bolas) e maior noção de cobertura que os demais. Penso que pode até chegar à seleção brasileira daqui a algumas temporadas.
Armero: alterna ótimos e péssimos jogos. Ataca melhor do que defende. Precisa aprender a usar sua velocidade também para defender, além de treinar a precisão nos cruzamentos.
Pierre: o melhor volante do Brasil. Com a recuperação do ritmo de jogo, vai voltar a ser importante para o Palmeiras.
Edmílson: a grande enganação de 2009. Fala demais, se acha o melhor jogador do mundo, mas não joga nada. Se o seu time for jogar contra o Palmeiras, é só lançar uma bola nas costas do dito cujo que é gol certo. Saída de bola de qualidade? Só se for de vez quando, quando ele acerta lançamentos. Cansei de vê-lo cochilando e armando contra-ataques adversários. Edmílson, por favor, peça para sair.
Cleiton Xavier: é o verdadeiro meia do Palmeiras (Diego Souza atua mais como atacante recuado). Precisa se soltar mais, não ter medo de jogar, chamar o jogo e a responsabilidade. Quando faz isso, é um dos melhores do Brasil.
Diego Souza: seu principal problema é pensar que joga muito melhor do que realmente joga. Se atuasse de maneira mais simples, tocasse de primeira, colocasse a bola no chão, já estaria na seleção faz tempo. É verdade que o Diego prende a bola em momentos necessários, mas também faz isso quando estamos com pressa e mata nossos contra-ataques. Diego, mais simplicidade em 2010!
Deyvid Sacconi: mostrou que tem condições de ser titular do Palmeiras. Precisa de um pouco mais de confiança, assim como o Cleiton.
Vagner Love: fez um Brasileirão medíocre, é verdade, mas ninguém desaprende a jogar. Love é rápido e artilheiro, características difíceis de serem encontradas em um centro avante. Se o time atuar com três armadores, Vagner terá mais chance de aparecer e mostrar seu real futebol. Acho que ele ainda irá ajudar muito o Palmeiras no tempo que lhe resta até o fim do empréstimo.

Reservas:
Bruno: tá aprendendo, mas falhou em lances importantes, principalmente nos jogos contra o Corinthians.
Wendel: um bom reserva, tanto para o meio, quanto para a lateral.
Jefferson:
típica contratação do Luxa. Teve várias chances e não deu certo. Volte para o Guaratinguetá.
Henrique: outra contratação do Luxa. Jogou um jogo e não agradou. Pode vazar.
Marcão: é grosso e lento. Não vou ser injusto, já fez partidas boas, é verdade. Mas se o Palmeiras contratar um ou dois zagueiros boquetas, é melhor dispensá-lo.
Sandro Silva: alterna ótimos momentos com apresentações pífias. Mesmo assim, confio em seu futebol. É mil vezes melhor que o Edmílson.
Souza: tem tudo para ser o titular absoluto, ao lado de Pierre. Basta melhorar o passe.
Jumar: sorte que o Palmeiras já o negociou com o Vasco.
Willians: jogou bem no primeiro semestre, ao lado do Keirrison. Se eu fosse o Muricy, eu lhe daria outra chance.
Marquinhos: não conseguiu fazer sequer um gol em 2009. Só jogou bem em uma partida (contra a LDU, em que foi expulso). Para mim, já chega. Vaza.
Lenny: começou bem o ano, marcando 5 ou 6 gols em poucos jogos. Porém, novamente não manteve a regularidade.
Robert: tem sorte e é goleador.
Ortigoza: raçuco demais. Sabe usar o corpo bem melhor do que Obina e Robert, fazendo o pivô. Ainda será muito útil ao Palmeiras.
Daniel Lovinho: se eu fosse o Muricy, o emprestaria para o Oeste de Itápolis.

Portanto, o meu Palmeiras 2010, seria: Marcos; Figueroa, Maurício Ramos, Danilo e Armero; Pierre, Souza (Sandro Silva), Cleiton Xavier, Deivid Sacconi e Diego Souza; Vagner Love. O esquema é o 3-6-1, para que haja movimentação no ataque com três jogadores muito técnicos (Xavier, Diego Souza e Sacconi) e um centro avante rápido (Love).

Para finalizar, insiro o segundo gol mais bonito que pude presenciar nas arquibancadas do Palestra neste ano (não coloco o primeiro - Diego Souza contra a LDU - porque já o postei anteriormente neste blog). Deyvid Sacconi contra o Goiás:

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Metalinguagem: o maior post que já escrevi. Créditos das fotos, respectivamente: abril.com.br, 4.bp.blogspot.com e blog.estadao.com.br