(Acima, as linhas 11 e 12, que passam na região do Alto Tietê. A figura está meio desfocada. Clique na imagem e veja com mais nitidez).
Nesse último feriado, recebi a agradável visita de Andressa Borzilo nesta Suzano apertada entre outras cidades-dormitório, cheias de poluição, ruas estreitas, confusão... e uma linha de trem que as atravessa.
Fomos à capital paulista uma duas vezes (por motivos comerciais e culturais) e tivemos, obviamente, que voltar. O meio utilizado foi o trem.
Não me lembro se em Guaianases ou Ferraz, subiram três moças no vagão em que estávamos. Já era tarde, umas 23h30.
As três deveriam ter entre 14 e 17 anos. O vagão estava um pouco cheio, o que impossibilitou as amigas de se sentarem em locais próximos. A alternativa que encontraram para conversar foi falando alto.
Elas trabalhavam numa loja de roupas, provavelmente em São Paulo, e o bate-papo teve como ponto central o emprego. Falaram mal dele o tempo todo. A remuneração era baixa (não recebiam nem salário mínimo), a jornada era alta e as humilhações, constantes.
As moças contaram vários episódios interessantes. Num deles, relataram, a quem quisesse ouvir, que pegavam algumas peças de roupa enquanto os chefetas estavam desatentos. Também embolsavam uma espécie de comissão por conta própria quando vendiam muito.
Em toda a loja, só tinha uma menina que não fazia "essas coisas". A tal moça começou a trabalhar como babá dos filhos do patrão. Ela contou para as colegas que, uma vez, o patrão a deixou pegar todas as moedas contidas na loja. Umas das interlocutoras comentou:
"Até parece! Nunca um chefe ia dar dinheiro fácil assim para uma empregada".
Elas desceram na estação Calmon Viana. Provavelmente foram pegar a linha 12, que passa na cidade mais pobre da região, Itaquaquecetuba.
Na guerra do trabalho diário, nem todos os explorados sabem de que lado realmente estão. Nesse caso, a consciência das moças e a convicção em exercer atos considerados ilegais e condenáveis por quem tem poder político (caras que roubam muito mais do que simples peças de roupa) surpreendeu-me positivamente.
Mais uma lição tomada no trem.
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Metalinguagem: deixei esse post pronto durante o dia. Após a eliminação do Palmeiras na Libertadores, eu não teria saco para postar.
Nesse último feriado, recebi a agradável visita de Andressa Borzilo nesta Suzano apertada entre outras cidades-dormitório, cheias de poluição, ruas estreitas, confusão... e uma linha de trem que as atravessa.
Fomos à capital paulista uma duas vezes (por motivos comerciais e culturais) e tivemos, obviamente, que voltar. O meio utilizado foi o trem.
Não me lembro se em Guaianases ou Ferraz, subiram três moças no vagão em que estávamos. Já era tarde, umas 23h30.
As três deveriam ter entre 14 e 17 anos. O vagão estava um pouco cheio, o que impossibilitou as amigas de se sentarem em locais próximos. A alternativa que encontraram para conversar foi falando alto.
Elas trabalhavam numa loja de roupas, provavelmente em São Paulo, e o bate-papo teve como ponto central o emprego. Falaram mal dele o tempo todo. A remuneração era baixa (não recebiam nem salário mínimo), a jornada era alta e as humilhações, constantes.
As moças contaram vários episódios interessantes. Num deles, relataram, a quem quisesse ouvir, que pegavam algumas peças de roupa enquanto os chefetas estavam desatentos. Também embolsavam uma espécie de comissão por conta própria quando vendiam muito.
Em toda a loja, só tinha uma menina que não fazia "essas coisas". A tal moça começou a trabalhar como babá dos filhos do patrão. Ela contou para as colegas que, uma vez, o patrão a deixou pegar todas as moedas contidas na loja. Umas das interlocutoras comentou:
"Até parece! Nunca um chefe ia dar dinheiro fácil assim para uma empregada".
Elas desceram na estação Calmon Viana. Provavelmente foram pegar a linha 12, que passa na cidade mais pobre da região, Itaquaquecetuba.
Na guerra do trabalho diário, nem todos os explorados sabem de que lado realmente estão. Nesse caso, a consciência das moças e a convicção em exercer atos considerados ilegais e condenáveis por quem tem poder político (caras que roubam muito mais do que simples peças de roupa) surpreendeu-me positivamente.
Mais uma lição tomada no trem.
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Metalinguagem: deixei esse post pronto durante o dia. Após a eliminação do Palmeiras na Libertadores, eu não teria saco para postar.