A discussão sobre a queda da obrigatoriedade de diploma para exercer a função de jornalista, de acordo com a decisão do Superior Tribunal Federal (STF), pode ser vista por alguns viéses, defendidos pelos seguintes grupos generalizados por mim:
-Jornalistinhas diplomados: jornalistas filhos da classe média e que, de maneira corporativa, querem garantir a sua reserva de mercado. Afinal, "estudaram por quatro anos", pagaram mensalidade ou passaram no vestibular. Apesar de só apreenderem/executarem as técnicas jornalísticas na faculdade e, via de regra, pensarem pouco na comunicação em geral, consideram essencial o papel de reprodutores de todo o jornalismo (ruim) que já existe. São contrários à medida do STF.
-Intelectualóides humanistas: estes acreditam que qualquer pessoa, desde que seja formada (não, não pode ser semi-alfabetizada, muito menos pobre) tem condições de exercer a função de jornalista. Do mesmo modo que os diplomados, acreditam que o jornalismo é uma mera técnica. Como tal, basta "aprendida em duas semanas dentro da redação". São favoráveis à medida do STF.
-Democratizadores da comunicação: acreditam que não há sentido em exigir o diploma de um grupo de pessoas que tenta se apropriar de técnicas jornalísticas (exaustivamente repetidas nos meios de comunicação) para expressarem a vontade de um determinado grupo, como ocorre em rádios comunitárias, jornais de bairro e sindicatos. Acreditam na comunicação como uma ferramenta. São favoráveis à medida do STF.
Eu me enquadro mais no último grupo. O único porém é o medo de que o jornalismo acabe sendo considerado, cada vez mais, como um simples conjunto de técnicas; e a comunicação, como uma ciência inferior.
A comunicação não é sinônimo de mídia burguesa. Ela é um processo de transferência de conteúdos e está contida em todos os ambientes. As técnicas existem, mas é preciso entender como elas agem na mente das pessoas, o porquê de o capitalismo ter consagrado determinadas padronizações e se é necessário mudá-las para realizar algo que seja mais emancipador. Enfim, não é num simples parágrafo como este que vou esgotar as possibilidades de estudos (realmente relevantes) em comunicação. Se os atuais estudos são pouco críticos, acredito em possibilidades de mudança.
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Metalinguagem: considerando o post acima em termos de esquerda revolucionária (que desvaloriza o papel da comunicação num processo revolucionário), não há direção que consiga passar seus interesses a operários ou aos próprios militantes sem jornais, panfletos, cartazes, programas de rádio, etc, que realmente expressem o conteúdo da melhor forma, dando possibilidades de diálogo, agregando, falando a língua do público. Isso é essencial e demanda estudo em comunicação.