Praia em temporada é um lugar cheio de “imigrantes temporários”. No caso da baixada santista, o mais comum é encontrar banhistas vindos da capital ou de cidades do interior paulista. Mas isso mais entre os, digamos, “consumidores”.
Em meio a um sorvete ou uma cerveja, e com pouco de bate-papo, é interessante notar que aqueles ambulantes e vendedores de barraquinhas, que funcionam praticamente como nossos serviçais, montando nosso guarda-sol ou andando até nós para anotar nosso pedido, também viajam para o litoral paulista durante a alta temporada (período que se inicia em outubro e vai até o fim do carnaval). Seus objetivos, entretanto, não são o de desfrutar de descanso e lazer.
O vendedor de queijo, com apenas 19 anos, é de Olho d’Água Grande, cidadezinha do interior do Alagoas. “É perto de Arapiraca, cidade do ASA, que eliminou o Palmeiras na Copa do Brasil alguns anos atrás”, me disse. Estava no Guarujá a trabalho, de forma provisória. Perguntei se por lá em Alagoas não havia emprego. “Só na roça. Mas trabalho na roça só dá pra viver, não sobra muita coisa, além de ser muito pesado”. Saiu de lá atrás de mais qualidade de vida.
Thiago, também de 19 anos, garoto que servia de garçom de barraquinha, andando ininterruptamente o dia inteiro de baixo de sol quente e na areia fofa, não vem de tão longe. É de Arthur Nogueira, ao lado de Limeira. Hospedava-se na casa de uma tia, mas também desceu a serra pra levantar um dinheiro. “Me pagam 20, 25, dependendo do movimento até 30 por dia”, revelou.
Já o tocador de trompete de uma banda que entoava músicas desafinadas enquanto a turistaiada tomava seu chopp à noite na orla da praia vinha de mais longe. “São Bento do Úna, Pernambuco, mesma cidade de Alceu Valença”, me contou entusiasmado, antes de tirar uma foto do músico de sua pochete para me mostrar. Ganhava trocados com as doações de seus ouvintes, satisfeitos (ou não) após a execução de músicas como Asa Branca e Xote das Meninas (essas duas pedidas por nossa mesa).
Também tinha o “Velho das Montanhas”, apelido carinhoso que demos para o senhor que mantinha uma exposição com dejetos expelidos pelo mar no pé de um dos montes que delimitava a praia. De fala articulada e consciência crítica, ele era, em suas próprias palavras, “filho do ABC”.
Havia ainda o caso mais atípico de todos. Era a velhinha vendedora de empada, nascida em 1933, vinda da região de Pescara, na Itália. Seu nome era Edda. Nos contou que ia pra Itália uma vez por ano, para, espertamente, receber o dinheiro de uma pensão a que tinha direito.
O mais louco é pensar que todos esses vendedores e pessoas da praia que sobrevivem do dinheiro de nós, turistas, nos são praticamente invisíveis. Mas basta uma conversa rápida pra saber que por trás da oferta de um serviço ou produto se escondem histórias interessantíssimas. Histórias estas que, de certa forma, acabam por torná-los mais humanos diante de nossos olhos muitas vezes insensíveis.
Em meio a um sorvete ou uma cerveja, e com pouco de bate-papo, é interessante notar que aqueles ambulantes e vendedores de barraquinhas, que funcionam praticamente como nossos serviçais, montando nosso guarda-sol ou andando até nós para anotar nosso pedido, também viajam para o litoral paulista durante a alta temporada (período que se inicia em outubro e vai até o fim do carnaval). Seus objetivos, entretanto, não são o de desfrutar de descanso e lazer.
O vendedor de queijo, com apenas 19 anos, é de Olho d’Água Grande, cidadezinha do interior do Alagoas. “É perto de Arapiraca, cidade do ASA, que eliminou o Palmeiras na Copa do Brasil alguns anos atrás”, me disse. Estava no Guarujá a trabalho, de forma provisória. Perguntei se por lá em Alagoas não havia emprego. “Só na roça. Mas trabalho na roça só dá pra viver, não sobra muita coisa, além de ser muito pesado”. Saiu de lá atrás de mais qualidade de vida.
Thiago, também de 19 anos, garoto que servia de garçom de barraquinha, andando ininterruptamente o dia inteiro de baixo de sol quente e na areia fofa, não vem de tão longe. É de Arthur Nogueira, ao lado de Limeira. Hospedava-se na casa de uma tia, mas também desceu a serra pra levantar um dinheiro. “Me pagam 20, 25, dependendo do movimento até 30 por dia”, revelou.
Já o tocador de trompete de uma banda que entoava músicas desafinadas enquanto a turistaiada tomava seu chopp à noite na orla da praia vinha de mais longe. “São Bento do Úna, Pernambuco, mesma cidade de Alceu Valença”, me contou entusiasmado, antes de tirar uma foto do músico de sua pochete para me mostrar. Ganhava trocados com as doações de seus ouvintes, satisfeitos (ou não) após a execução de músicas como Asa Branca e Xote das Meninas (essas duas pedidas por nossa mesa).
Também tinha o “Velho das Montanhas”, apelido carinhoso que demos para o senhor que mantinha uma exposição com dejetos expelidos pelo mar no pé de um dos montes que delimitava a praia. De fala articulada e consciência crítica, ele era, em suas próprias palavras, “filho do ABC”.
Havia ainda o caso mais atípico de todos. Era a velhinha vendedora de empada, nascida em 1933, vinda da região de Pescara, na Itália. Seu nome era Edda. Nos contou que ia pra Itália uma vez por ano, para, espertamente, receber o dinheiro de uma pensão a que tinha direito.
O mais louco é pensar que todos esses vendedores e pessoas da praia que sobrevivem do dinheiro de nós, turistas, nos são praticamente invisíveis. Mas basta uma conversa rápida pra saber que por trás da oferta de um serviço ou produto se escondem histórias interessantíssimas. Histórias estas que, de certa forma, acabam por torná-los mais humanos diante de nossos olhos muitas vezes insensíveis.