Futebol e alienação

domingo, 8 de março de 2009

Futebol e alienação

Como faz tempo que não falo de futebol, acho que agora é o momento.

Eu estava até pensando em fazer uma análise tática, estilo PVC, do time do Palmeiras que será campeão neste ano (basta ajeitar um pouquinho a defesa), mas decidi falar de outra coisa, a relação futebol x alienação.

Já cansei de ouvir gente dizendo que futebol é pura alienação. Eu discordo, principalmente porque você não desliga seus pensamentos quando discute um jogo, comparece ao estádio ou assiste a uma partida pela televisão.

O futebol foi criado no sistema capitalista. Só de pensar rapidamente, já percebemos que a pirâmide da grana se mantém. Apenas uns 2% dos jogadores ganham mais do que R$1.000,00 por mês, enquanto Ronaldos, Beckhams e Seedorfs ganham milhões.

Outra relação possível de se fazer rapidamente é a da profissionalização do esporte, que permitiu a entrada dos negros no futebol, no ano de 1933, no Brasil. Esse marco se assemelha à necessidade do sistema capitalista de ter empregados assalariados para expandir mercados. Ou seja, terminou a escravidão (formalmente), mas por necessidade de vender mais produtos para mais pessoas. No caso do futebol, a conquista de títulos e a venda de jogadores (que são praticamente escravos de empresários sanguessugas) é que trazem a grana.

Numa simples visita ao estádio, já é possível perceber mil relações desiguais, desde a proliferação de subempregos ou de bicos, como os cambistas profissionais (eles têm até cartão de apresentação), até as divisões dos assentos do estádio entre os lugares dos ricos e dos pobres e, consequentemente, negros e brancos.

Bom, raro leitor, você pode dizer que a torcida vai ao estádio apenas para descansar, divertir-se um pouco depois de um dia estressante de trabalho, como se fosse a um culto de igreja. Dê-me o direito de discordar. O futebol não prega não-violência nem submissão para ter um lugar no céu. E as relações desiguais, comuns aos olhares do dia a dia? Será que elas passam despercebidas também pelo "torcedor comum"? Será que eles não percebem o alto valor do ingresso, o número de brancos nas tribunas e a repressão policial?

O futebol é um aspecto cultural. Claro que muito se perde com a espetacularização da TV. Não há comparações entre uma visita ao estádio, tanto na questão da visão tática do jogo, quanto no quesito "percepção da realidade" do entorno, mas não deixa de ser cultura.
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Metaliguagem: o filme Boleiros é um exemplo de todas as relações que acontecem nos bastidores do futebol, como racismo, preconceito regional, machiscmo e a própria luta de classes (times dos ricos e times dos pobres). No vídeo, um árbitro comprado por dirigentes manda repetir uma cobrança de pênaltis por três vezes para salvar a própria pele.