Em uma aula no segundo ano de faculdade, o professor disse que a porcentagem de jornalistas formados que exercia a profissão era de apenas 13%.
É pouco, bem pouco para um curso com uma concorrência tão grande no vestibular (cerca de 25 candidatos por vaga, na Unesp). Explicações existem várias, mas a que eu considero mais correta é a de que a profissão de jornalista exerce grande facínio pela possibilidade da fama.
Imagine quantas menininhas não entram no curso pensando em apresentar o Jornal Nacional? E o pior, tem umas que saem do curso pensando a mesma coisa. Mas depois a dura realidade trata de dar um salário zuado e um emprego pior. Mas é claro que, em via de regra, quanto menor o senso crítico e o poder de contestação, melhor é o emprego, pelo menos em termos de fama.
Enfim, feita essa breve consideração, vou contar uma historinha. Um veterano meu conseguiu um emprego numa afiliada de uma grande emissora de televisão, num longínqüo Estado.
O cara foi bem várzea na faculdade inteira. Não se envolveu com projetos de extensão, nem iniciação científica, nem movimento estudantil, nem estágio e nem atlética. O cara só fazia o básico das aulas. Tinha um senso crítico limitado.
Só que essa emissora tem um programa bem famoso no domingo. Aconteceu alguma coisa lá na terra em que ele trabalha e o cara apareceu no programa de domingo. Resultado: virou comentário na minha sala:
-Você viu o fulano na TV? Esse tá se dando bem. A minha esperança é essa.
Achei meio deprimente ouvir isso. O cara é um soldadinho de chumbo, não tem senso crítico (como na maioria dos grandes meios) e só porque apareceu na TV no domingo é o ícone do cara bem sucedido.
É preferível ganhar pouco, não aparecer e fazer algo em que se acredita do que ser um pau mandado famoso.
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Metalinguagem: fato ocorrido há um tempinho, mas que fiz algo que não costumo fazer: salvar o rascunho