3 anos e meio atrás, no início da faculdade e da vida longe da casa da mãe, minhas habilidades junto aos afazeres domésticos eram mais ou menos as mesmas que as do Gabriel no manejo de um teclado de computador. Fruto de 19 anos de mãe, vó, tia e empregada sempre limpando minha sujeira e cozinhando minha comida. Nunca precisei lavar um garfo, nem varrer um tufo de pêlo. E não me culpem por isso, mas sim os responsáveis pela minha educação (que, apesar de ter sido muito boa no geral, considero falha nesse ponto).
Não tenho vergonha de dizer que me acostumei a viver na sujeira. Nem de revelar que meu prato predileto foi miojo com hambúrguer. Tive essa rotina, com poucas variáveis, durante um bom tempo de minha faculdade. Até esse ano.
Com o nascimento da Araguaia, minha república, não sei explicar exatamente por quê, o gosto pelas tarefas de dono-de-casa aflorou. Em parte, a razão reside no fato de que, diferentemente de um apartamento, uma casa junta sujeira em uma velocidade muito maior. E diante da opção dos araguaianos de não fazer uso de uma faxineira, passei a obrigatoriamente ter contato semanal com a vassoura e o pano. Caso contrário, era viver no lixão.
Foi nesse ano também que aprendi a cortar cebola, já que resolvi me aventurar também no fogão. Alguns dos responsáveis por essa nova fase foram os enjoativos (porém salvadores) marmitex do Tempero Manero, sempre com 90% de arroz, e meu companheiro de casa Linconl, que desde meu segundo ano gostava de bancar o cozinheiro. E acabou me influenciando.
Hoje, ao realizar aquela faxina (quando com muito tempo livre, é importantíssimo destacar isso!) ou ao servir aquele arroz/feijão/bife para um dos 4 habitantes da casa, experimento um prazer terapêutico. Me sinto melhor, me desestresso. É como se o ritmo da sociedade capitalista, com a opressão dos compromissos e da pontualidade, desse espaço para o ritmo da sociedade medieval, agrária, que obedecia tão somente aos ditames da natureza, sem prazos.
Parece viagem né?