A partir de hoje, dia 18 de agosto de 2015, o meio-campista chileno Jorge Valdivia não é mais funcionário do Palmeiras. O cara que mais vestiu a 10 do Verdão no século XXI (apesar de ter participado de apenas 44% dos jogos entre 2010 e 2015) está livre para ganhar uma fortuna nas Arábias, levando na bagagem muita grana, poucas recordações positivas, várias polêmicas e incontáveis horas usando o chinelinho no departamento médico.
Como o time está em boa fase (aliás, eu previ isso aqui rs), é fácil se despedir do Mago que já nos deu tantas esperanças frustradas sem qualquer tristeza no coração. Mas, apesar de tudo, Valdivia não foi só mais um jogador que passou pelo Palestra. Tento dar, abaixo, uma ponderada na trajetória do Mago pelo Brasil a partir de algumas constatações que tive após pensar um pouco sobre o assunto.
O auge do boêmio, no futebol moderno, é antes dos 25
Se bem me lembro, Vanderlei Luxemburgo, técnico do Palmeiras na época, disse em uma entrevista após a venda que Valdivia iria "estourar", mas não no sentido técnico - o corpo do chileno não aguentaria a sequência de noites tão agitadas. Luxa achou que o melhor era vender logo o jogador antes que as contusões aparecessem.
A realidade com a segunda passagem do Mago, que se iniciou no meio de 2010, durou cinco anos e teve uma quantidade absurda de lesões, mostra que o "pofexô" estava certo. Ao passar dos 25, o metabolismo de Valdivia começou a ficar mais lento e sua musculatura se tornou mais propensa às contusões, principalmente por ser regada a álcool regularmente, como o próprio jogador confirmou em entrevistas recentes.
Talvez se Valdivia tivesse nascido algumas décadas atrás, quando a intensidade das partidas era bem menor, seu corpo não seria tão exigido no campo de jogo - estaria então livre para desfilar seu talento sem restrições físicas. Como não foi o caso, o Mago, da mesma forma que Adriano Imperador e Walter (também com indiscutíveis habilidades), decaiu miseravelmente antes dos 30 anos. Como o desempenho do chileno na Copa América mostrou, com um pouco mais de comprometimento e muitos copos a menos de cerveja, ele teria sido muito, muito maior para o Palmeiras e para o futebol.
Sempre titular absoluto: qualidade e carência de jogadores
Levando em conta o nível dos jogadores que atuaram no futebol brasileiro no período valdiviano, o Mago sempre figurou entre os melhores do país, muito por causa da massiva exportação de "pé-de-obra" para a Europa. Também conta a fragilidade dos elencos do Palmeiras, o que sempre fez de Valdivia um titular incontestável, mesmo com as constantes fisgadas na coxa. Nenhum dos meias contratados para fazer sombra a Valdivia conseguiu perturbar a tranquilidade do chileno - e foram vários, como Lincoln, Mendieta, Daniel Carvalho, Felipe Menezes, Bruno Cesar e até Cleiton Xavier.
Grandes jogos contra times pequenos e ausências em partidas importantes
Ele deixou os palmeirenses na mão na semi do Paulista de 2011, quando se contundiu ao dar o chute no vácuo, contra o Corinthians; não jogou a partida mais importante da Copa do Brasil de 2012, quando o Palmeiras venceu o Grêmio por 2x0 no Olímpico; ficou de fora da finalíssima do mesmo torneio por ter sido irresponsavelmente expulso - o que poderia ter custado o título ao time de Felipão; não participou da reta final que determinou o segundo rebaixamento, devido a uma lesão no joelho; na semi do Paulista de 2013, contra o Santos, também não esteve em campo.
Ele salvou o Palmeiras do rebaixamento
Apesar de tudo, ele gostava do Palmeiras
Valdivia é o retrato dos 15 anos de Palmeiras no século
O Palmeiras, um gigante do futebol brasileiro, esteve em baixa nos últimos anos, com péssimas administrações e dois rebaixamentos. Teve seus auges justamente com os lampejos de Valdivia, em 2008 e 2012. Se o clube estivesse estruturado e montasse elencos pelo menos medianos, provável que o chileno também rendesse mais - ou talvez proporcionasse uma boa grana com uma transferência para a Europa; se Valdivia fosse mais comprometido, quem sabe os palmeirenses poderiam ter comemorado mais títulos e evitado a dor do segundo rebaixamento.
Valdivia só é Valdivia por causa do Palmeiras, e o Palmeiras teve seus alentos nesses anos duros com a ajuda do Mago. A saída do chileno fecha uma era masoquista, de sofrimentos e expectativas frustradas, e coincide com a volta do protagonismo do Verdão, brigando por todos os campeonatos.
Apesar de tudo, obrigado, Valdivia. Boa sorte e não volte mais.