Seis motivos para que Oswaldo de Oliveira não fosse demitido do Palmeiras

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Seis motivos para que Oswaldo de Oliveira não fosse demitido do Palmeiras



O técnico Vanderlei Luxemburgo, o Luxa, pivô de tantas polêmicas e trambiques (apesar de vitorioso no passado), é muito conhecido por valorizar o "projeto" futebolístico de um clube. Trata-se de uma coisa aparentemente racional: iniciar um trabalho no começo da temporada, pinçar as contratações necessárias, estabelecer previamente as possibilidades do time nos certames a serem disputados e, acima de tudo, não demitir o técnico depois de duas ou três derrotas seguidas - o que é sempre o mais fácil a se fazer por parte da diretoria para dar uma resposta à torcida e "arejar" o ambiente. Os três primeiros atos costumam ser, sem dúvidas, mais cumpridos que o último.

Por dois motivos o "projeto" de Luxa virou piada: o primeiro é o linguajar peculiar do treinador, que transformou a palavra em "pojétu"; o segundo é o fato de que, de 2005 pra cá, Luxa passou exatamente por dez clubes - ou seja, em nenhum deles os "pojetinhus" foram levados adiante.

Oswaldo de Oliveira, o popular OO, ex-auxiliar de Luxa, foi a última vítima da mal falada "cultura do futebol brasileiro" que seu mestre, com razão, amaldiçoa. O agora ex-técnico do Palmeiras tinha 1000% de confiança do diretor de futebol Alexandre Mattos quatro dias antes da demissão - um empate com o Inter, em casa, e uma derrota para o Figueirense, fora, fizeram o "extrapolante" saldo ficar negativo.

Considero que a demissão foi um erro e vou elencar os motivos nos tópicos abaixo, mas antes, algumas ponderações: com cinco meses de trabalho, o time já deveria sim estar mais equilibrado - a defesa apresentou enormes buracos nas partidas contra Atlético-MG e Joinville, e o ataque foi ridículo contra Goiás, ASA e Figueirense, trocando bolas de forma inócua, sem nenhuma vontade de fazer gol; e, apesar de ser uma medida simples e populista, às vezes a troca de treinador funciona quando o clube dá sorte. Agora sim, vamos à lista:

1. Oswaldo fez o time jogar o melhor futebol desde 2009

Muricy, Antônio Carlos Zago, Felipão, Kleina e Dorival. De 2009 pra cá, com a exceção de Gareca (que tinha um time terrível), o Palmeiras só teve técnicos retranqueiros, que fechavam a casinha, esperavam por um escanteio ou por uma falta lateral para meterem bola na área. Oswaldo decidiu que o time proporia o jogo, manteria a posse de bola e tentaria triangulações, tabelas, viradas de jogo. Ele fez o Palmeiras jogar para frente, resgatando, mesmo que só um pouco, o DNA da Academia. "Ah, mas ele tinha jogadores para isso" alguns podem dizer. Sim, o elenco é bem melhor do que nos anos anteriores, mas muitos técnicos disponíveis no mercado não teriam o mesmo ímpeto de OO para se lançarem ao ataque.

2. Oswaldo venceu os três clássicos regionais em apenas cinco meses

No início do ano, o Palmeiras estava com o estigma de time que não ganha clássicos - em toda a temporada de 2014, o time venceu apenas um clássico regional (contra o São Paulo, no Paulista) e o jejum contra o Corinthians datava de 2011. Apesar da derrota no Allianz Parque ante o maior rival no primeiro clássico de 2015, o Palmeiras fez uma excelente partida contra o São Paulo, venceu com propriedade o Santos no primeiro jogo da final e eliminou o Corinthians do Paulista em Itaquera, além de vencer no Entulhão novamente pelo Brasileiro. Essas vitórias foram muito importantes para resgatar o respeito frente aos adversários e o orgulho da torcida. Para se ter uma ideia, o Palmeiras, até Oswaldo assumir, era a equipe grande com pior desempenho em clássicos regionais na década: sete vitórias em 35 jogos.

3. Em pouco mais de um ano, Palmeiras terá contratado cinco técnicos

A média de tempo de trabalho de um técnico no Palmeiras é de 2,6 meses no último 1 ano e 1 mês. Claro, há de se ponderar que, na luta contra o rebaixamento na temporada passada, as demissões de Kleina e Gareca foram necessárias e que Dorival foi só um tapa-buraco. Mas qual treinador consegue conhecer o elenco, ver suas qualidades e defeitos, implementar esquemas de jogo e ganhar a confiança dos jogadores em períodos tão curtos? A diretoria pode contratar os melhores técnicos do Brasil que não vai adiantar nada. Fulano começa o trabalho, indica jogadores para o elenco de acordo com seu esquema tático preferido e, após uma sequência de tropeços e oscilações na qualidade do futebol, é demitido. O segundo já chega para apagar incêndio e precisa transformar tudo da água para o vinho tendo como base o trabalho do sucessor, já que é impossível alterar radicalmente as estruturas no meio da temporada. Isso vira uma muleta da diretoria, que mesmo esfacelando o projeto inicial, afirma que "tentou mudar".

4. Destaques do elenco foram indicados por Oswaldo

Gareca indicou vários jogadores argentinos em 2014 e quatro foram contratados: Mouche, Cristaldo, Allione e Tobio. No time atual, nenhum deles é titular (e mesmo se Mouche e Allione estivessem com 100% das condições físicas, provavelmente não estariam nos 11 iniciais). Já com Oswaldo, a história é diferente: das 22 contratações do Palmeiras para a temporada, cinco foram indicações do ex-treinador: Lucas, Gabriel, Rafael Marques, Arouca e Fellype Gabriel. Os três primeiros têm se destacado, enquanto Arouca ainda não chegou ao auge de sua performance e Fellype ainda recupera a forma física. Ou seja, mesmo querendo montar uma filial do Botafogo de 2013, OO acertou nas indicações até o momento.

5. Oswaldo mexia no time quando alguém ia mal

Leandro Pereira começou o ano como titular, mas Churry Cristaldo entrava no segundo tempo e marcava gols sempre. Oswaldo então colocou o argentino nos 11 iniciais até ele se machucar e deixar Banana pegar a vaga no final do Paulista. Quando Churry recuperou a vaga, mas deixou de ser efetivo (partidas contra ASA e Goiás), OO o sacou do time e lançou mão do esquema de três atacantes sem referência (jogos contra Corinthians e Inter). Zé Roberto foi péssimo na parte defensiva contra Atlético-MG e Joinville - Oswaldo promoveu Egídio e botou o veterano no meio. Eu tocaria minha corneta caso Zé fosse titular contra o Fluminense, mas ele já tinha colocado o jogador no banco em outras oportunidades e acho que percebeu a falta de efetividade do jogador como meia nas últimas partidas.

6. Se o time está em formação, por que exigir resultados imediatos?

O time de 2014, para muitos, foi o pior da história. Em 2015, tudo parecia ser diferente até que o Brasileirão começou e a equipe, tida como uma das favoritas, apresentou falhas. Elas se davam principalmente no setor criativo quando Valdivia não estava inspirado ou não podia jogar e quando o adversário armava um ferrolho. De qualquer modo, o mantra do "time em formação" vinha sendo entoado por comissão técnica e diretoria desde o começo do ano, afinal, 22 jogadores haviam sido contratados. Como pode o cara responsável por efetivar essas mudanças simplesmente ser demitido se o time ainda está se moldando e sendo testado contra adversários mais difíceis no início do Brasileirão? A diretoria realmente acha que o time está em formação? Porque não é possível afirmar isso e exigir uma campanha de título nacional após seis rodadas do maior certame do país com tantas alterações em tão pouco tempo. Se o próximo técnico não conseguir um título ou tropeçar na disputa pela Libertadores recomeçamos do zero novamente?

Sei que a percepção de uma partida de futebol é algo bem subjetivo e muitos podem contrapor todos os meus argumentos tendo assistido aos mesmos jogos que eu. Há outros fatores que não levei muito em conta, como a experiência de OO (não dá pra se referenciar só no passado), a chegada à final do Paulista (nível muito baixo) e os títulos por ele conquistados (a maioria foi no Japão). Fiquei chateado com a demissão, mas sei que, com um pouco de sorte, é sim possível que o novo comandante dê certo, seja ele Marcelo Oliveira ou Cuca. O próprio Luxa, citado no início do texto, teve seu primeiro "pojétu" em time grande após entrar no lugar de Otacílio Gonçalves, no meio da campanha do Palmeiras que culminou no título Paulista de 1993 (e que depois abriria caminho para mais um Paulista e dois Brasileiros). O problema é a diretoria, que se diz diferente, continuar mandando embora um técnico atrás do outro.