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segunda-feira, 7 de julho de 2014
Um pouco sobre esquerda, estética e conteúdo
Quem começa a militar em partidos e organizações de esquerda, costuma o fazer por uma mistura de convencimento racional e paixão pela vontade de mudar o mundo.
É uma relação dialética entre as duas coisas: não dá para se convencer sem sentir a gana de construir um futuro diferente na atuação diária e também não há modo de ter só a paixão e não pensar estrategicamente, aprendendo com as lições do passado e verificando quais dos diversos caminhos propostos por várias visões valem a pena.
O problema é que, infelizmente (apesar da conjuntura estar se alterando), ainda são poucos os comunistas neste mundo. Quando essas ideias escapam dos espaços mais tradicionais de atuação da esquerda, como certos sindicatos, centros acadêmicos, movimentos sociais, etc., há um grande ruído comunicacional, principalmente quando falamos de mídia (jornal, vídeo, internet).
Excluindo as correntes que se adaptam ao que a maioria pensa sem fazer as críticas necessárias, as demais chegam com um discurso que soa, de maneira geral, como um romantismo abnegado de quem dedica sua vida a uma causa nobre, como se bastasse gritar palavras de ordem com várias exclamações, citar exemplos desconexos e siglas ininteligíveis para fazer uma pessoa perceber os absurdos do sistema e ideias complexas que podem superá-lo.
Mas, infelizmente, um punhado de comunistas não faz revolução (desculpe o trocadalho, foi inevitável) - e se faz, ela já nasce degenerada, como no caso da Revolução Cubana, em que os trabalhadores não foram sujeito ativo do processo revolucionário e acabaram sendo governados até hoje por uma burocracia que se perpetuou no poder por ser a parte mais ativa na derrubada do antigo regime.
Ou seja, de qualquer jeito, é preciso convencer mais pessoas de que certas ideias que parecem absurdas e que questionam a raiz dos problemas do capitalismo, como estatização dos transportes sob controle de trabalhadores e usuários, autogestão de fábricas por parte de trabalhadores, etc., não são. E, para isso, o trabalho de base é importante, mas o uso aprimorado e criativo de ferramentas de comunicação também é, porque pode ser eficaz tanto na relação diária nos locais de trabalho e estudo, quanto de forma mais superestrutural, difundindo conteúdo pela vastidão do mundo virtual.
É muito difícil puxar pela memória uma produção gráfica ou audiovisual da esquerda que seja criativa e abra portas para novas cabeças pensarem a partir dessas ideias. Geralmente os jornais são grandes bíblias, os vídeos têm sindicalistas falando por vários minutos, usando e abusando dos clichês que mais afastam do que aproximam. Pouca linguagem inovadora, poucas sacadas, muita repetição. E o pior é que as técnicas para fazer algo diferente já estão bem difundidas.
No Brasil, quem foge dessa linha é Rafucko, um militante independente que faz vídeos muito criativos e irônicos, com um conteúdo político muito forte. Outro ponto fora da curva é a websérie Marx ha vuelto (da qual falei aqui).
Bom, e eu disse tudo isso para mostrar que, dentro das minhas pequenas possibilidades, tento estimular um jeito diferente de fazer conteúdo dentro da esquerda, a partir da também pequena organização em que atuo (que ainda está longe de ser exemplo em termos comunicacionais). Como tenho mexido com audiovisual, tentei produzir formatos novos de vídeos em algumas oportunidades. Até agora, o que deu mais certo foi o da visita do papa ao Brasil. Mas, na última semana, fiz um vídeo que tenta criticar a repressão do período da Copa de um modo diferente: com a narração futebolística entra os times dos manifestantes e da repressão: