Uma lembrança sborniana

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Uma lembrança sborniana


Quando eu era criança, minha mãe, minha irmã e eu viajávamos quase sempre para Cruzeiro-SP nas férias, a cidade em que minha mãe foi criada. Era bem raro irmos para outro lugar. Mas uma das exceções ocorreu no início de 99 ou de 2000 (ou seria 2001?): fomos a Porto Alegre.

Apesar de já fazer tanto tempo, ainda me lembro de algumas coisas: o calor que fazia quando caminhávamos às margens do Guaíba, o passeio de barco, a feirinha do centro da cidade, a tentativa frustrada de vermos um show gratuito do Nenhum de Nós perto da Usina do Gasômetro. Mas o evento mais marcante foi, sem dúvida, acompanhar a apresentação do espetáculo Tangos &  Tragédias, no Theatro São Pedro.

Pode ser que eu tenha distorcido as coisas com o tempo, mas lembro-me que ficamos na parte de cima do teatro, que era realmente muito bonito e tinha um lustre imenso. Aí surgiram os dois músicas loucos - um com cabelo preto espetado e que tocava violino, e outro com cabelas grisalhos lambidos para trás, tocando um acordeom.



Do show em si, lembro de pouco: da música que dizia "Nós nascemos na Sbórnia" (vídeo acima) - o país fictício bombardeado por explosões nucleares, de onde vieram os bem vestidos personagens -, de muitas piadas hilárias, da execução de canções mais sérias e dos dois músicos levando o público para o lado de fora do teatro, antes que a apresentação fosse triunfalmente encerrada.

Tiramos fotos e compramos o CD que, claro, nunca poderia ser tão bom como uma apresentação teatral e musical sensível, engraçada e interativa, e que ocorre todo verão, no mesmo local, desde 1987.
E, noutro dia, dei de cara com a notícia sobre a morte de Nico Nicolaiewsky, o Maestro Pletskaya - músico de cabelo lambido que tocava acordeom. A internet me lembrou que a dupla do Tangos participou dum disco ao vivo do Pato Fu e me mostrou o interessantíssimo trabalho mais recente do Nico, o Música de Camelô.

E eu, mesmo não sendo gaúcho, peço licença para ficar triste pela perda de um cara que, além de grande artista (posso afirmar isso pelo pouquíssimo que vi com os olhos de hoje de sua obra, em rápidas pesquisas de internet - tanto do Tangos, como a carreira solo) deve ter feito muita gente se lembrar, com uma saudade boa, de noites como aquela que eu tive num verão porto-alegrense, há uns 14 anos.