Eu tinha o hábito de acordar, ficar parado um tempo, pensando, e pegar o violão. Brincava com ele, dedilhava algo aleatório até que alguma música de timbre grave ou com pouca necessidade de amplitude vocal se apresentava ao meu pensamento. Aproveitava a voz ainda rouca pelas horas de sono e cantava algo como "A Palavra Certa" ou "Cabimento", de olhos fechados, lembrando das letras ao mesmo tempo que pensava sobre elas.
E apesar de não ter inventado as letras nem as melodias, a reprodução simples das canções me fazia bem, mesmo estando sozinho.
Mas era acompanhado que as possibilidades se estendiam, iam de Abujamra a George Harrisson, de Arnaldo Baptista a Geraldo Azevedo, de Oasis a Zeca Baleiro. E a boa sensação passava de um corpo a outro.
Agora não tenho violão. Não tenho como tocar. Não tenho em quem tocar. Não tenho pra quem tocar.
Conheço as flores, mas me falta a terra. E talvez por não ter para quem dar as flores, eu coloco a culpa na terra.