Gosto das obras feitas para crianças. Não de todas, é verdade. Aprecio as que não as subestimam.
Sou grande fã de "O Pequeno Príncipe", de Saint-Exupéry, por mais que as misses de todo o mundo o reivindiquem, sem o entenderem. Emocionei-me com "Os Meninos da Rua Paulo", de Férenc Molnar. Recentemente, fiquei viciado nas músicas do grupo "Pequeno Cidadão", com sua psicodelia para crianças.
Mas foi sem pretensões do tipo que entrei na sala de cinema para assistir "Onde Vivem os Monstros", de Spike Jonze (adaptação do livro homônimo, de Maurice Sendak), no último final de semana. Logo percebi que a escolha foi acertada e que o filme não subestimaria crianças. Portanto, não era feito apenas para crianças.
O enredo conta o drama de um menino de seis ou sete anos que tem pouca atenção da mãe e da irmã mais velha.
Não é a falta de amor que o torna solitário, mas as imposições da rotina sobre seus parentes, como a necessidade da mãe de manter o emprego e as atitudes adolescentes de sua irmã.
Convenhamos, mesmo com tais ressalvas, é difícil entender a indiferença, por mais sentido que ela tenha. Sentindo-se só e com ódio (lembremos que tal sentimento está muito próximo do amor), o garoto Max comete atitudes de uma radicalidade emocional pouco comum em crianças. Libera seus monstros, envergonha-se, foge.
A fuga é para dentro de si, onde materializa seus monstros. É como se cada um deles fosse uma pessoa com personalidade distinta, com as quais temos de lidar ao longo da vida. Ao mesmo tempo, os monstros são nossos sentimentos. Calmos, fortes, felizes, loucos, depressivos, sãos.
Os sentimentos gostam do garoto. Ele os domina, mas não sem se ferir e sem machucar os monstros-sentimentos. E as chagas são irreversíveis.
Trata-se de um filme sobretudo humano. Paradoxalmente, ao lidar com monstros e fantasias, mostra um humano verdadeiro. É um embate tão forte do homem com seus sentimentos mais irracionais, que parece não ser humano... mas é exatamente por isso que o é. O garoto e os monstros se descontrolam, ferem, se machucam, esquecem a racionalidade que nos torna "diferentes".
Durante a vida inteira fazemos isso.
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Metalinguagem: fiz este post por ter sentido certa culpa após assistir ao filme. Peço desculpas sinceras aos amigos que já precisaram de mim e eu não os compreendi. Peço desculpas sinceras aos amigos que tentei monopolizar de forma egoísta, sem os compreender.
Sou grande fã de "O Pequeno Príncipe", de Saint-Exupéry, por mais que as misses de todo o mundo o reivindiquem, sem o entenderem. Emocionei-me com "Os Meninos da Rua Paulo", de Férenc Molnar. Recentemente, fiquei viciado nas músicas do grupo "Pequeno Cidadão", com sua psicodelia para crianças.
Mas foi sem pretensões do tipo que entrei na sala de cinema para assistir "Onde Vivem os Monstros", de Spike Jonze (adaptação do livro homônimo, de Maurice Sendak), no último final de semana. Logo percebi que a escolha foi acertada e que o filme não subestimaria crianças. Portanto, não era feito apenas para crianças.
O enredo conta o drama de um menino de seis ou sete anos que tem pouca atenção da mãe e da irmã mais velha.
Não é a falta de amor que o torna solitário, mas as imposições da rotina sobre seus parentes, como a necessidade da mãe de manter o emprego e as atitudes adolescentes de sua irmã.
Convenhamos, mesmo com tais ressalvas, é difícil entender a indiferença, por mais sentido que ela tenha. Sentindo-se só e com ódio (lembremos que tal sentimento está muito próximo do amor), o garoto Max comete atitudes de uma radicalidade emocional pouco comum em crianças. Libera seus monstros, envergonha-se, foge.
A fuga é para dentro de si, onde materializa seus monstros. É como se cada um deles fosse uma pessoa com personalidade distinta, com as quais temos de lidar ao longo da vida. Ao mesmo tempo, os monstros são nossos sentimentos. Calmos, fortes, felizes, loucos, depressivos, sãos.
Os sentimentos gostam do garoto. Ele os domina, mas não sem se ferir e sem machucar os monstros-sentimentos. E as chagas são irreversíveis.
Trata-se de um filme sobretudo humano. Paradoxalmente, ao lidar com monstros e fantasias, mostra um humano verdadeiro. É um embate tão forte do homem com seus sentimentos mais irracionais, que parece não ser humano... mas é exatamente por isso que o é. O garoto e os monstros se descontrolam, ferem, se machucam, esquecem a racionalidade que nos torna "diferentes".
Durante a vida inteira fazemos isso.
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Metalinguagem: fiz este post por ter sentido certa culpa após assistir ao filme. Peço desculpas sinceras aos amigos que já precisaram de mim e eu não os compreendi. Peço desculpas sinceras aos amigos que tentei monopolizar de forma egoísta, sem os compreender.