A cereja do bolo anti-democrático da USP

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A cereja do bolo anti-democrático da USP

No anti-democrático processo eleitoral para reitor da Universidade de São Paulo (USP), o governador José Serra (PSDB) (foto) colocou hoje a cereja no bolo.

Na maior universidade do Brasil, apenas 325 indivíduos (aproximadamente 90% pertencente à "casta" de professores titulares) puderam votar no segundo turno. Os três postulantes mais bem cotados tiveram seus nomes enviados ao governador. Quebrando a convenção de aceitar o professor escolhido pelos colegiados uspianos, Serra colocou no "trono" o segundo colocado da lista tríplice, o diretor da Faculdade de Direito, João Grandino Rodas. Assim, Serra mostra o quão ilusório é o processo eleitoral na USP.

O mais engraçado é como a direita consegue dizer que uma "eleição" dessas é democrática. Como exemplo, citarei algumas pérolas do nobre colunista Hélio Schwartsman, publicadas no artigo "Lista tríplice não lesa democracia", do caderno Cotidiano da Folha de quinta-feira.

O articulista inicia seu texto dizendo que a eleição direta é a pior das opções para a escolha de um reitor de uma universidade porque "além de favorecer enormemente o populismo - o candidato que prometesse acabar com as provas, por exemplo, ganharia preciosos pontos entre os estudantes -, o voto direto é essencialmente antidemocrático". Segundo Schwartsman, Serra, o representante do povo, está apto para escolher o reitor da USP.


Em seguida, o autor diz que o peso do voto dos professores deve ser maior porque "o aluno está na universidade apenas por quatro anos com o objetivo pragmático de obter o diploma".

(Na foto, o diretor Rodas fecha a Faculdade de Direito para evitar manifestação dos estudantes, em agosto)

Por trás da justificativa do injustificável, o colunista demonstra uma visão de ensino extremamente limitada, tanto ao valorizar a avaliação "decoreba" das provas, como ao supor que um candidato pudesse chegar a propor tal medida estapafúrdia, e também ao considerar a universidade como um mero local onde se retira o diploma para obter uma vaga no mercado de trabalho (assim como se retira um hambúrguer numa rede de fast food). Essas três pequenas colocações de Schwartzman sintetizam as ações que estão ocorrendo há algum tempo e devem aumentar com o novo reitor escolhido pelo tucano: a fragmentação do ensino, que se torna cada vez mais técnico e voltado para interesses comerciais, mesmo em universidades públicas. Outras coisas vêm de brinde, como a repressão.

Antes de fechar o post, é necessário lembrar da anticandidatura de Chico de Oliveira, levantada por alguns setores estudantis e de trabalhadores (que questionam a burocracia de certos pares) e do ato de funcionários e estudantes, ocorrido na terça-feira, que conseguiu adiar por um dia a realização do "pleito". Iniciativas que confrontaram a estrutura de poder elitista da USP.
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Metalinguagem: refletindo para escrever este post, foi inevitável lembrar das "eleições" para reitor e diretores da Unesp, em 2008. Um grupo de professores convenceu alunos a votarem em uma chapa teoricamente mais progressista para a direção da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação. Tais estudantes votaram maciçamente na chapa e, obviamente, não adiantou nada, pois o peso do voto estudantil é de apenas 15%.