Quando sobra um pedaço de tempo amassado e as ideias tentam correr o mais longe que as sinapses permitem, surgem questões.
Quantas pessoas já viveram no mundo desde que nossos corpos se desenvolveram para serem o que são? Quantos pensamentos incríveis cada um desses universos de carne e osso teve a partir de estímulos da vida que fica cada dia mais maluca, mas que nunca deixou de sê-la? Quantos, tão incríveis, ficaram guardados, mudos e sumiram com seus donos?
Filas de milhões de mortos. Estamos na ponta delas. Sustentaremos a herança desses zumbis na eterna tentativa de superá-los. Coletivamente e/ou com nossas subjetividades, queremos fazer "história".
Ou menos, ou apenas marcar nossas existências. Estivemos aqui. Vivemos, fizemos coisas, como todo mundo. Tentamos o diferente e não conseguimos, na maioria das vezes. Porque é impossível nos descolarmos de tudo e é tão mais fácil arriscar no certo. Tão mais chato.
O tempo vai nos enterrar sem piedade, eliminando rastros, despessoalizando ideias. O tataravô do bisavô respirou o mesmo ar que passa pelos nossos pulmões. Sequer sabemos seus nomes.
Nossos gritos e fotos e textos e discursos vão se apagar. Algumas ideias vão se repetir nos cérebros que nem nasceram.
Outras, conosco vão desaparecer.