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terça-feira, 21 de junho de 2016
Se chorar não adiantasse nada
E se o caminhão de angústias e tristezas, a montanha de raiva e o morrinho das alegrias não pudessem ser levados para fora?
Imagine-os sempre dentro da gente, deformando nossos fígados, criando rugas profundas em nossas testas e nos cantos de nossas bocas, incomodando nossos estômagos com pontadas regulares.
Os olhos não ficariam úmidos ao vermos a cena brega da novela, lembrando de situações parecidas (ou nem tanto) com as vividas por nós. A saudade não surgiria na música que aquela pessoa especial nos fez conhecer.
As despedidas se resumiriam a apertos de mão. Nos reencontros, abraços apertados seriam proibidos.
Não poderíamos tentar (sem conseguir) expressar fisicamente ou com palavras a falta que alguém fez ou fará.
Depois de tanta dor, não teríamos mais vontade de continuar, de planejar, de pensar que, por mais raiva que dê quando dizem que a vida segue, o clichê costuma ser verdadeiro.
Gozaríamos só com filme pornô. Não poderíamos dançar ou cantar.
Deixaríamos o inconformismo com a injustiça de lado. Ficaríamos mais indiferentes do que já somos.
E chorar, então, não adiantaria nada.