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segunda-feira, 14 de março de 2016
A burrice dos técnicos palmeirenses
Por Alberto Suzano* e Pedro Gomes Chaves
Todo palestrino sabia que o time de Marcelo Oliveira não andava bem das pernas. Depois de um início promissor, em que o técnico deu a tão esperada verticalidade ao escrete verde e branco (a partir de lançamentos longos e cruzamentos da intermediária - que melhoraram consideravelmente o poder de fogo da equipe, diga-se), as falhas na marcação, na compactação e na criação de jogadas fizeram o resultado final da campanha do Brasileirão 2015 ser decepcionante: um modesto nono lugar, vindo com muitos chutões que procuravam (e não encontravam) os jogadores de ataque.
Na Copa do Brasil do ano passado, a história foi outra. Ao contrário do que disse boa parte da imprensa, o Palmeiras não fez bons jogos apenas quando atuou em casa, com a intensidade costumeira, impulsionada pelo calor da torcida. As partidas contra Cruzeiro e Inter foram bem inteligentes; na segunda, inclusive, os comandados de Oliveira poderiam ter saído com a vitória no Beira Rio. Houve jogos ruins em casa, é verdade, como contra o próprio Inter, além do segundo tempo contra o Fluminense - sem contar partidas abaixo do esperado contra Santos e Flu, fora de casa. Mesmo assim, o nível do futebol, na somatória dos jogos, foi satisfatório.
Em pouco mais de cinco meses de comando, uma final. Com o título, a diretoria afastou as cornetas que já rondavam a careca do sósia de Gargamel e teve certeza de que havia feito a escolha certa. Sem perder as principais peças, com mais oito reforços e tempo para a pré-temporada, não tinha como dar errado. O gigante Palmeiras seria um dos candidatos ao título da Libertadores.
Mas a realidade mostrou que as coisas não seriam tão fáceis quanto se pensava. Após jogos razoáveis em torneio de pré-temporada do Uruguai, houve quedas no Paulistinha... E o pior: a equipe apresentava as mesmas falhas do ano anterior, que já irritavam a turma do amendoim, transformando Marcelo em mais um burro, um técnico incompetente. Com a derrota em casa ante o Nacional do Uruguai, pela Libertadores, Paulo Nobre quebrou mais uma promessa e demitiu o técnico que, segundo ele, seria o último de seu mandato.
Façamos agora uma digressão. Fim de 2014. Palmeiras se salva do terceiro rebaixamento de sua história. Como técnico-tampão, Dorival Junior é demitido e tem início um novo projeto, com um elenco reformulado e Oswaldo de Oliveira como comandante. O time, em formação, demonstra afinidade com o toque de bola, apesar de certa lentidão e dificuldade na criação. Vence jogos importantes (como o 3x0 contra o São Paulo) e elimina o Corinthians, em um épico empate em Itaquera.
Em pouco mais de quatro meses de comando, uma final. A derrota nos pênaltis contra o Santos deu a certeza à diretoria de que o time estava no caminho certo, apesar do vice, e que ele deslancharia no início do Brasileiro, sendo um dos candidatos ao título.
A realidade mostrou que as coisas não seriam tão fáceis quanto se pensava. Pouco mais de um mês após a disputa da final, OO caiu. O time não apresentou bons resultados frente a adversários mais cascudos do Brasileiro. Oswaldo virou burro, técnico incompetente.
As redundâncias de linguagem servem para mostrar que ambos Oliveiras tinham seus defeitos e o futebol praticado por suas equipes mostrou isso, mas será que esse curto ciclo vai se repetir para sempre? Um projeto é criado, o técnico vai bem no começo, tem uma queda rápida e é demitido. É possível montar um time consistente, com padrão de jogo definido, se a equipe troca de técnico ao menos uma vez por ano? Se com cada crise ou fuga de rota dos objetivos previstos pela diretoria o técnico cair, as chances de sucesso se resumem ao ganho de competitividade interna no elenco em um curto espaço de tempo após o novo técnico assumir (pois os jogadores encostados veem que podem ter nova chance). Depois disso, os velhos problemas vão aparecer novamente.
Com a grande desorganização do futebol brasileiro, a dança das cadeiras dos treinadores é absurdamente comum, assim como o discurso da imprensa de que é preciso que haja trabalhos mais longos e menos demissões de comandantes técnicos. Mas a mesma imprensa é a primeira a achar motivos sempre maiores que o planejamento para tentar quebrar a sequência do treinador: grupo rachado, falta de comando, má relação com a pressão de clube grande, apatia, ou o subjetivo "não deu liga" são as mais comuns desculpas usadas nos jornais, nos programas de TV e na internet. Há quem diga que existem sinais claros de quando o técnico pode fazer o time evoluir ou não - mas convenhamos que poucos desses entendidos eram favoráveis à permanência de Tite no Corinthians após a eliminação frente ao Tolima, em 2011, na pré-Libertadores - cinco anos depois, graças àquela permanência inusitada e à competência do profissional, Tite é o maior técnico do Brasil; e o Corinthians, que teve pouquíssimos técnicos diferentes nos últimos anos, é o time com mais conquistas relevantes recentes.
Assim, aceitando a pressão de conselheiros, da torcida impaciente e da imprensa, as diretorias que se dizem diferentes fazem as mesmas coisas que velhos cartolas carcomidos faziam. Com a desculpa de "não pecarem pela omissão", livram-se do peso de um planejamento interrompido. Voltando ao caso do Palmeiras, agora, no meio da Libertadores, o novo técnico terá que usar da competitividade interna do elenco para buscar pontos muito difíceis fora de casa, pois nem o mais iluminado dos treinadores seria capaz de tirar um padrão tático da cartola e incorporá-lo ao time, que o procura desde o início de 2015. Cuca, já contratado como substituto de Oliveira, é bom treinador e pode dar certo no Palmeiras (como foi dito que poderia ocorrer com Marcelo, na época da saída de Oswaldo), mas ele não pode vir apenas para salvar a lavoura com resultados de curto prazo. Seu estilo de jogo precisa ser implantado e isso leva tempo.
Será que o toque de bola planejado por Oswaldo de Oliveira estaria, no início de 2016, sendo mais ágil a ponto de furar bloqueios adversários, caso ele tivesse se mantido no cargo? Será que a verticalidade de Marcelo Oliveira iria encontrar a organização necessária para não depender tanto de chutões a ponto de conquistar uma classificação importante para as oitavas da Libertadores?
Será que Cuca vai virar burro e técnico incompetente na mesma velocidade que Luxemburgo, Muricy, Felipão, Tite, Oswaldo de Oliveira e Marcelo Oliveira e todos os técnicos top que passaram pelo Palmeiras e vestiram o boné da charge no início do post? A resposta é sim. Não importa quem seja o treinador, a turma do limão palmeirense vai chamá-lo de burro. A questão é manter essa pressão distante e dar tempo para o profissional implantar seu estilo de jogo, mesmo que eliminações e derrotas sejam o preço. Ou será que eliminação na Libertadores e começo instável no Brasileiro já justificariam a queda de Cuca?
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*Charge também por Alberto Suzano - clique na figura para ver em alta resolução