Mercy Zidane: dezembro 2014

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

A última conversa

Com tanto tempo juntos, já havíamos conversado sobre assuntos bem variados - de arte a revolução; de compras no mercado a video games; de sexo a séries de televisão.

Mas eles iam rareando. Tornavam-se cada vez menos confluentes e mais conflitivos, apesar do carinho e do companheirismo sempre presentes.

Numa dessas conversas (ocorrida na época dos diálogos mais intensos e simbióticos), cujo tema era a infância, falávamos sobre o dia das crianças, o Natal, os aniversários e de como era prazeroso ganhar um brinquedo muito desejado. Sorrimos, citamos brincadeiras favoritas de nossas épocas e então ela perguntou:

"Sabe quando você está na transição da infância para a adolescência e tenta brincar com o seu brinquedo predileto...  Só que não consegue mais? Apesar de já ter se divertido tanto com ele e de se esforçar para sentir o mesmo prazer de antes, ele já não tem mais graça, sabe?"

Marcamos a conversa que, sentíamos, seria a última. Um leve pânico percorreu minha espinha quando ela girou a maçaneta para entrar em casa. Sentamos no sofá.

-Acho que eu não quero mais continuar.
-Que bom que você teve coragem de dizer isso.

Doeu. Choramos, nos abraçamos e foi difícil conseguir dormir. Mas depois de desenvolvermos uma relação tão sincera e de construirmos partes importantes de nossas vidas juntos, não podíamos fingir que nada havia de errado. Não seria justo deixar o carinho impor, só por já conhecermos as regras, a brincadeira que já não dá mais prazer.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Dona Lourdes e o samba de breque

Aos 90 anos, a professora aposentada Maria de Lourdes Pinheiro da Silva (que é minha avó materna) cultiva o hábito de cantarolar músicas de sua infância, as únicas que ainda tem na ponta da língua.

Eu já tinha visto suas performances por várias vezes e, neste Natal, pensei que não poderia deixar passar a oportunidade de gravar alguma delas.

Pois bem, mesmo sem tripé, com iluminação ruim e usando a captação de áudio da própria câmera, editei um videozinho que, se peca em alguns quesitos técnicos, não deixa de mostrar a essência da coisa: a alegria de se fazer algo que dá prazer.

Minha avó resume a ideia com uma frase simples: "Canto porque gosto de cantar". Veja:


quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Don't be sad



Agora que eu tenho um cajón, eu precisava de uma desculpa para testar o som dele em gravações. Então parei e pensei que eu nunca postei qualquer música minha aqui no blog. Tomei coragem e gravei uma canção que compus ao longo do ano.

Ela fala sobre duas pessoas - a primeira tenta, de um modo sincero (mas com poucos argumentos), alentar a segunda.

Esteticamente, a canção só tem a pretensão de ser simples. A letra é em inglês porque foram as palavras dessa língua que apareceram na cachola quando eu cantarolava. Gravei tudo toscamente na minha casa, mas foi com o coração rs. Chega de papo, aí vai:



Metalinguagem: o desenho que fiz para ilustrar a música, para os que não perceberam, é um cajón rs