Mercy Zidane: fevereiro 2011

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Complemento do post anterior

Não sou um cachorro que pensa que o mundo é apenas a ração, a chegada do dono, o biscoito de brinde.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Sobre pessoas que ficam velhas



Ser jovem é ser dialético, ter uma relação clara entre a sua condição material, seu entendimento de mundo e suas atitudes. É não esquecer tudo o que você aprendeu simplesmente por estar momentaneamente em outro contexto. É ter discernimento suficiente para romper com pensamentos e práticas antigas se você achar que elas não fazem mais sentido, mas não é fechar os olhos para as responsabilidades que se colocam na sua frente, adquiridas por meio de experiências anteriores. É usar seu acúmulo para seguir ou romper, mas sempre mantendo vivo o fluxo entre o que se é, se pensa, se diz e se faz.

Digo isso porque conheço pessoas que ficaram velhas. Elas têm a minha idade (25 anos) ou talvez sejam até mais novas e se ligam ao mundo simplesmente pela rotina do trabalho. Trabalham das 9h às 18h, depois estão muito cansadas para fazerem qualquer outra coisa que não seja uma pausa de entretenimento na dura rotina alienante do trabalho.

Concordo que um intervalo seja necessário. É preciso respirar, refletir sobre arte e cultura, conhecer pessoas, trocar ideias, livrar-se com leveza do emburrecimento causado pelo trabalho. Mas estou falando de pessoas que são críticas ao capitalismo, que têm plena noção de que não se chegará a uma sociedade justa nos marcos desse regime.

Essa criticidade, cada vez menos comum em tais mentes, aparece às vezes em mesas de bar, em posts de 140 caracteres de microblogs, mas dificilmente nas ruas, nos atos, nas passeatas ou nos comitês públicos de organização das mesmas. Motivo? Preguiça de gastar horas de lazer, pouco contato com organizações políticas, ranços preconceituosos, adaptação, noção de que a fase universitária-sem-responsabilidades passou e que, agora, como adulto, uma postura mais comedida é necessária.

Qual seria a diferença entre um estudante que passou todo o período de graduação em uma universidade pública, alheio a qualquer tipo de mobilização, e uma pessoa que militou durante o mesmo período, mas que agora não move uma palha, sendo que os problemas se mantiveram ou pioraram?

Sinceramente, dói em mim ver pessoas que tinham um grande senso crítico se deixarem levar por ranços anti-partidários e anti-acadêmicos, como se houvesse a perda do senso crítico em tais espaços pelo fato de serem tomados por organizações que têm pouca abrangência na sociedade. A dor que sinto se transforma em medo de que o apoio moral que essas pessoas dão a mobilizações populares também se torne ranço no futuro.

A resposta da pergunta de dois parágrafos atrás é: quase nenhuma. O "quase" se refere à crise de consciência ou à tentativa que a mente dessas pessoas faz de justificar o não comparecimento e o não envolvimento em atos e passeatas de grandes proporções, além de reuniões organizativas das mesmas que ocorrem em São Paulo, neste momento.