Mercy Zidane: julho 2007

domingo, 29 de julho de 2007

Vamos rezar o pai nosso e cantar o hino nacional

"Os manifestantes contra o caos aéreo que saíram do Monumento às Bandeiras por volta das 9h20 chegaram aproximadamente às 11h50 deste domingo (29) ao local onde o avião da TAM explodiu no dia 17 de julho.

Informalmente, policiais militares estimaram que houve concentração entre 4 mil e 5 mil pessoas. Oficialmente, porém, a Polícia Militar não estimou o número de participantes. Ao chegar ao local, os manifestantes rezaram o "Pai Nosso", fizeram dois minutos de silêncio, aplaudiram e cantaram o Hino Nacional. "


É claro que um acidente de avião em que morre todo mundo é coisa tristíssima. Explosão, destruição, desencarnação em massa, musiquinha do plantão da Globo, tudo de uma vez só. O que mais consterna é a penúria dos familiares das vítimas. Não me sai da cabeça a cena de uma mãe que, após receber a notícia de que no fatídico vôo estavam suas filhas, desabou em prantos.

Também não me sai da cabeça o William Waack, com rapidez de dar inveja a Sherlock Holmes, concluindo a investigação sobre o acidente, cerca de 5 horas depois da tragédia. “A crise aérea provoca sua primeira tragédia”. Ah, claro, o acidente da TAM foi provocado pela operação padrão dos controladores de vôo. Investigar caixa-preta pra quê?

É nesse contexto - entre a amargura da perda de amigos e familiares, e a malhação-de-judas orquestrada pela grande mídia ao governo federal - que hoje manifestantes foram às ruas protestar contra o caos aéreo, gritar “Fora Lula” e homenagear os mortos no acidente da TAM.

Não sou contra a manifestação, muitíssimo pelo contrário. Se fosse o meu pai no vôo ou até mesmo o Suzano, eu também teria ido. Sou totalmente a favor de mobilização sociais que protestem contra falhas no sistema, e contra (falta de) medidas de governantes.

Como não poderia deixar de ser, a grande mídia estava lá. Se desde agora tarde, sites dos Globos, Folhas e Uols da vida já bombam com notícias sobre a manifestação, imagino a repercussão no Fantástico e Jornal Nacional.

Pois bem.

Li ontem, na Caros Amigos de Junho, uma baita de uma reportagem, assinada por João de Barros, sobre a ocupação de um terreno de propriedade privada, em Itapecerica da Serra, região da Grande São Paulo. Organizada pelo Movimento dos Sem-Teto, a ocupação durou 2 meses, de Março a Maio. No terreno ocupado (ou invadido, como queiram), foram erguidos centenas de barracos.

Não foi uma ocupação qualquer. Segundo a matéria, em seu auge, a ocupação abrigou 10 mil pessoas, reuniu 5 mil manifestantes em protesto rumo à sede do Governo do Estado, e, no fim, terminou na operação de reintegração de posse feita por 700 policiais.

Eram pessoas que não têm onde morar (imagina o que não passam nessa época de frio paulistano) se mobilizando.

“Caralho, Suzano, você ficou sabendo dessa ocupação?”, perguntei para o meu companheiro de blog, enquanto lia a matéria. “A parada foi grande e durou bastante, e só agora to sabendo”. E, logo eu, um estudante de jornalismo conectado na internet o dia inteiro.

É claro que algo de errado acontece com a grande mídia de nosso país. Enquanto órfãos e viúvos endinheirados vão às ruas protestar, sob as lentes das câmeras de última geração dos canais de TV, um movimento composto por pobres e miseráveis, que não tem um teto para se proteger do frio, é noticiado por apenas uma revista de 48 mil exemplares.

O que só serve pra fazer a ratificação cotidiana de que, para a classe econômica dominante brasileira, quem é pobre está situado em algum lugar entre o Homem de Neandertal e o Homo Sapiens



Protesto leva milhares ao local do acidente com avião da TAM

Acidente uma ova

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Jornal no lixo

A partir do momento em que um jornal é impresso, há três opções: ele pode ser lido, ele pode não ser lido e ele pode ser jogado no lixo.

Muita gente pega um jornal gratuito apenas por não precisar pagar nada por ele, outros recebem o jornal por dó. Essas pessoas provavelmnte não irão ler o seu jornal.

Há os que se interessam: geralmente estudantes de jornalismo que querem conferir como foi feito o trabalho dos colegas ou pessoas que têm o hábito da leitura. Essas irão ler o jornal, mesmo que não seja por completo.

E também existem as pessoas não querem ler, nem pegaram o jornal por dó, elas não tiveram opção: foi jogado na casa delas, entregue por algum amigo, etc.

Fiz toda essa explicação para dizer que é normal uma pessoa jogar um jornal no lixo. Elas são cruéis, não querem saber quanto tempo você gastou para fazê-lo ou o valor sentimental adquirido por cada exemplar, elas simplesmente jogam fora, mas é compreensível, já que não participaram de todo o processo.

O problema é que você espera isso de pessoas que não tem o hábito de leitura, não de professores universitários, muito menos do seu professor universitário. Porém, foi isso que aconteceu: depois de ter enfiado o jornal debaixo da porta da sala de um professor, encontro-o para um atendimento sobre um trabalho e vejo o jornal no lixo.

"Jogou o nosso jornal no lixo, professor?"

Ele disse que já tinha lido. Sei. Pedi licença e peguei o jornal da lixeira.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Papo de buteco e rádio português

Não sei se é porque o meu atual semestre na faculdade de jornalismo está um lixo, mas hoje tive uma conversa com amigos de sala, depois do almoço, tomando uma cerveja, que me fez pensar muito mais do que a soma de todas as aulas deste semestre juntas.

Obviamente que neste humilde blog eu não conseguirei (por isso nem vou tentar) explicar todas as explosões de idéias e raciocínios que aconteceram na tarde de hoje. Basicamente nós discutimos como o mundo atual é uma merda e tende a piorar. Também discutimos a relação da nossa profissão com isso.

Do jeito que eu disse parece que foi mais papo de buteco. Pode parecer, mas não é. Infelizmente, para quem não esteve presente, esse post fica com gosto de piada interna.

O Rádio Português
Ao ler o livro O Rádio na Era da Informação, de Eduardo Meditsch, fiquei sabendo que em Portugal, o jornalismo radiofônico é totalmente diferente. Lá, eles não associam rádio a um veículo ágil que precisa necessariamente transmitir informações curtas e dinâmicas.

Há a predominância de reportagens longas produzidas totalmente pelo mesmo jornalista. Além disso, eles ganham mais, sofrem menos pressão e fazem um trabalho mais enriquecedor. Achei isso muito legal!

Fiquei tentado a criar um programa do tipo na Unesp Virtual, mas não sei se vou dar conta.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Resumão sobre o que aprendi na greve

A greve acabou. Muitos dizem que não conseguimos vitórias significativas, apenas promessas. Não deixa de ser verdade, ocorre que muitas das negociações foram abertas por causa da greve, como a questão dos decretos do Serra (que recuou com o declaratório) e o comprometimento verbal do reitor de começar as obras da moradia estudantil; e outras ainda estão acontecendo (como a do Cruesp com o Fórum das Seis). Isso sem contar um dos principais ganhos: a organização do movimento.

Fora isso, aprendi muito com a greve individualmente. Conheci pessoas que eu nem sabia que estudavam na minha universidade, troquei idéias com professores muito experientes, conversei bastante, participei de encontros, passeatas, atos, ouvi muito e aprendi, na prática, um pouco mais sobre política (e politicagem).

Claro que o objetivo de uma greve é coletivo, a própria greve não existe se não houver um coletivo. Mas, como o professor Geraldo Bergamo (um cara que conheci na greve também) disse, é inevitável nos sentirmos bem quando entramos com consciência nesse tipo de movimento.

Greve Não É Férias

Um fenômeno que surgiu na ocupação da USP foi a criação de blogs dos movimentos de greve. Um instrumento eficiente (já que boa parte dos universitários possui acesso à internet) e que mostrou a procupação organizacional dos movimentos grevistas.

O principal motivo da minha ausência (o mercyzidane estava às mosacas) se deu exatamente por causa disso. Eu e o Diego Dacax administramos o blog do movimento estudantil ao longo de toda a greve. O Greve Não É Férias chegou a ter um número absurdo de visitas (média de 1000 visitas por dia) para os padrões deste blog ( pico de 15 por dia).

Gostei de participar da manutenção do blog por dois motivos:
-poder ajudar o movimento estudantil fazendo algo que eu gosto;
-aprender a lidar com a responsabilidade de gerir um blog tão acessado.

Para terminar

Saio da greve com a certeza de que a greve funciona, com vontade de fazer mais coisas pelo movimento estudantil e de melhorar a comunicação do movimento com os próprios alunos do campus (aceitamos sugestões e discussões).

Essa greve foi um dos marcos da minha estadia na Universidade.